Pela primeira vez, o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais ultrapassou a marca de R$ 1 trilhão. A soma de todas as riquezas produzidas no Estado em 2023 chegou a R$ 1,028 trilhão, um crescimento de 3,1% em comparação ao ano anterior e acima dos 2,9% da economia brasileira. O resultado foi apresentado pela Fundação João Pinheiro (FJP) nesta quinta-feira (14/03).
Para Fernando Passalio, secretário de desenvolvimento econômico de Minas, o marco do PIB de 2023 representa uma aferição de que as políticas econômicas do Estado estão dando certo. “Nós chegamos ao governo representando 8,8% da economia e estamos com mais de quase R$ 1,03 trilhão [9,5%]. Isso quer dizer que a economia de Minas está crescendo. E como que a gente sabe que isso está mudando a vida das pessoas? Isso vem ao lado do aumento na geração de empregos”, diz.
Passalio destacou que o resultado do PIB é fruto de um trabalho constante e consistente do governo estadual na busca de investimentos. “Nós temos um recorde histórico de atração de investimentos de R$ 402 bilhões. De 1998 a 2008, a média era em torno de R$ 11 bilhões por ano e estamos com R$ 400 bi em cinco anos. Então é um salto quântico na atração de investimentos; um salto enorme na geração de empregos”, destaca.
Segundo a Fundação João Pinheiro, entre os setores que mais impulsionaram o crescimento mineiro no último ano, o destaque é a agropecuária, cuja variação percentual foi de 11,5%, graças à alta do café — com aumento de aproximadamente sete milhões de sacas —, do milho de segunda safra, da soja e da cana de açúcar.
“Tivemos o setor agropecuário com o aumento de volume de produção, com as principais culturas apresentando acréscimo", pontua o pesquisador da Coordenação de Contas Regionais da FJP, Thiago Almeida.
Em nota, o Sistema Faemg Senar comemorou a contribuição do agro para o resultado do PIB mineiro e ressaltou que as chuvas do 1º trimestre de 2023 tiveram um papel importante no desenvolvimento das lavouras, como café, milho, soja e cana-de-açúcar.
A entidade ressaltou que a agropecuária mineira mostrou, mais uma vez, a sua importância para a economia do Estado. “A agropecuária mineira, bem como a brasileira, está se transformando e trazendo o pacote tecnológico para dentro das fazendas, o que está aumentando a produtividade das terras e animais. O desafio é levar isso para todos os 640 mil produtores mineiros, mas os produtores estão fazendo isso muito bem”, informou.
Thiago Almeida, da Fundação João Pinheiro, sublinha o papel da indústria, que cresceu 3,1% no resultado do PIB mineiro: "na indústria extrativa mineral, houve um crescimento importante na produção do minério de ferro com as principais empresas do setor. Ainda na indústria, outro destaque foi o segmento de Energia e Saneamento, que, com o aumento das temperaturas e do consumo de energia, elevou a geração de eletricidade. Nesse aspecto, houve crescimento robusto na produção de energia solar fotovoltaica, em que tivemos uma série de investimentos nos últimos anos no Estado”.
O resultado apresentado pela FJP é igual à projeção da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). O economista-chefe da entidade, João Pio, sublinha os segmentos da indústria que mostraram mais força em 2023: "destaca-se, especialmente, o bom desempenho da indústria extrativa, que cresceu 7,6%, bem como o da indústria de transformação, que avançou 1,2% no Estado, enquanto apresentou uma queda de 1,3% no país".
Ainda que tenha tido uma alta menos significativa que as demais, de 2,2%, o setor de serviços permanece na vanguarda de geração de riquezas no Estado, e corresponde a dois terços da economia mineira. Ele engloba comércio, transportes, administração públicas e outros serviços.
O economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), Stefan D'Amato, argumenta que, justamente por já ter a maior participação na economia, o ritmo de crescimento tende a ser mais lento. "O aumento do setor foi principalmente pelo crescimento significativo do setor de transportes, por volta de 6,6%. Isso tem a ver diretamente com o escoamento da nossa produção mineral e agrícola. Há também aumento da demanda da indústria de transformação por insumos. Em seguida, informação e comunicação. E gostaria de destacar que o turismo em Minas Gerais vem crescendo com taxas superiores às nacionais", aprofunda.
Mesmo com um crescimento maior que o brasileiro, o PIB de Minas continua representando pouco menos de um décimo do brasileiro — 9,5% —, e está atrás de Rio de Janeiro e São Paulo. Em 2023, o Produto Interno Bruto do Brasil foi estimado em R$ 10,9 trilhões pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Fiemg projeta que o crescimento do PIB mineiro será menor em 2024 e atingirá 2,2% em 2024. A redução deve-se à perspectiva da redução da safra agrícola devido ao menor volume de chuvas. No campo da indústria, a federação espera um crescimento baseado na recuperação do segmento de construção e novo avanço do segmento extrativo. A perspectiva também é positiva para os serviços, na visão da Fiemg, devido ao mercado de trabalho aquecido e às transferências de renda, que estimulam o consumo das famílias.
Segundo o Sistema Faemg Senar, o resultado do agro já neste primeiro trimestre pode ser afetado por questões climáticas do final do ano passado e o fenômeno El Niño. “As chuvas mais recentes, a partir do final de fevereiro, beneficiaram as lavouras de café. Todavia, a primeira safra de grãos, plantada no ano passado, foi impactada”, destacou a entidade em nota.
Em entrevista à reportagem de O Tempo, o secretário de desenvolvimento econômico do Estado, Fernando Passalio, comentou que a esperança do governo é que esse fenômeno tenha um ciclo curto. “Contra a mãe natureza o homem ainda é muito frágil nessa guerra. [...] A gente tem que entender como é que isso vai se dar depois no balanço do exercício”, disse.
Segundo o Sistema Faemg Senar, neste ano há ainda desafios com relação a preços de diversos produtos, como o leite. Na próxima segunda-feira (18/3), haverá um encontro em favor do produtor rural contra as importações do insumo do Mercosul, que estaria "afastando o produtor da atividade e pode provocar, a médio prazo, o desabastecimento e o aumento do preço ao consumidor final”.
Segundo o secretário, o melhor caminho não seria proibir a importação do leite em pó. A posição do desenvolvimento econômico, de acordo com Passalio, é que se coloque critérios ou regras de jogo para que a competição seja igualitária. “É preciso atualizar a competitividade para que ela não tire a necessidade de amadurecimento na nossas empresas, mas também não coloque a gente numa situação desigual frente ao mercado externo que, muitas vezes, entra no país com taxas e impostos que tornam mais vantajoso comprar de fora do que comprar daquele que produz e gera emprego dentro do Estado’.
A expectativa de Passalio é que a tendência de crescimento do PIB em Minas se mantenha neste ano, com ações contínuas e complementares, entre Estado e municípios, para melhoria do ambiente de negócios. "Quase 430 municípios que estão se alinhando, nesse eclipse, para ter menos burocracia e mais facilidade aí para o investidor. [...] Minas Gerais ainda é um ilustre desconhecido para vários mercados árabes asiáticos e até mesmo europeus”, destacou.
(Com Agência Minas)