Análise

Poder de compra corrompido 

Renda menor do trabalhador e inflação alta reduziram o consumo e prejudicaram a economia

Por Juliana Gontijo e Queila Ariadne
Publicado em 27 de julho de 2014 | 03:00
 
 
 
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Em julho do ano passado, o cenário projetado por analistas para o ano de 2014 era o seguinte: crescimento de 2,6% no produto Interno Bruto (PIB), inflação de 5,87% e produção industrial 3% maior. O consumo foi caindo e, hoje, os mesmos analistas, da pesquisa Focus, esperam um crescimento de 0,97% do PIB, uma inflação de 6,44% e uma retração de 1,15% para a indústria. Com a piora dos índices econômicos, economistas não vêem saída a curto prazo.

O diretor do Núcleo de Estudos e Projeções Econômicas da Gouvêa de Souza (GS&MD), Eduardo Yamashita, afirma que todos os indicadores da atividade econômica estão fracos e abaixo das expectativas. “O trabalhador convive com a desaceleração da renda e com queda no poder de compra. Tudo piorou e levou o consumidor a uma forte crise de confiança. Além da incerteza do consumo, o empresário ainda enfrenta as incertezas em relação à situação da energia no país, e isso tudo posterga os investimentos”, avalia Yamashita.

Na opinião dele, o governo está sem saída porque usou, no passado, a alavanca do crédito para impulsionar o consumo, mas depende de aumentar os juros para conter a inflação. Agora, com os juros altos, fica difícil alavancar o crédito.

Uma alternativa, na opinião de Yamashita, será recorrer aos bancos públicos, barateando o crédito. Há dois anos, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil deram o exemplo e baixaram as taxas, para forçar os bancos privados a baixarem também. “Essa seria uma saída para incentivar o consumo. Mas, na verdade, o que o governo precisa agora é fazer uma ampla revisão na polícia econômica, independentemente de quem ganhe as eleições”, afirma Yamashita.

Erro. Ao privilegiar apenas o consumo como alavanca do crescimento, o governo brasileiro errou, segundo o coordenador do curso de economia do Ibmec/MG, Márcio Salvato. “Não tem como pensar em expansão da produção se não tiver investimento”, diz. Para ele, não existe saída para o cenário ruim da economia do país a curto prazo.

“Não existe milagre. E para o próximo ano, quem for governar o país terá a tarefa de melhorar o gasto público, auxiliar o setor produtivo, baratear o custo da produção, baixar os juros e também a inflação”, observa. Salvato frisa que 2015 será o ano de arrumar a casa.


Para baixo

Rebaixou. O Fundo Monetário Internacional reviu a projeção de crescimento do Brasil de 1,9% para 1,3% em 2014. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) baixou de 1,7% para 0,5%.

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