em nova lima

Primeira turma da Escola de Negócios da Favela se forma na Grande BH

Projeto da Fundação Dom Cabral e da Cufa levou conhecimento para dez empreendedores de periferias de todo o país

Por Cinthya Oliveira
Publicado em 29 de setembro de 2022 | 08:15
 
 
 
normal

Na região do Cariri, sertão cearense, nasceu um aplicativo de delivery de alimentação com um perfil bem diferente das empresas que ganharam destaque nas grandes cidades brasileiras. Lá nasceu a Avia, que busca conectar produtores periféricos com consumidores também periféricos. Tem dado tão certo, que seu criador, José Márcio Macêdo, já pensa em ampliar a atuação para todo o Ceará nos próximos meses. Em breve, para todo o Nordeste. “Cresci empreendendo sem saber o que era empreendedorismo”, disse o empresário.

Essa é uma das muitas ideias empreendedoras geniais que surgem a todo momento nas periferias do país. Nascem a partir de demandas locais e se fortalecem a partir da intensa labuta de seus criadores - mas nem sempre esses conhecem todas as ferramentas do mundo da administração de empresas, que permitem um desenvolvimento planejado e sustentável. 

Para que empreendedores como José Márcio Macêdo possam crescer no mundo dos negócios, foi criada a Escola de Negócios da Favela é uma parceria entre a Central Única das Favelas, Fundação Dom Cabral (FDC) e Favela Fundos. A primeira turma, participante de um projeto piloto sediado em Nova Lima, se formou nesta quarta-feira (28).

Macêdo era um dos dez primeiros alunos do projeto. “A empresa nasceu no contexto de muita falta. Falta de acesso, de produtos, de serviços. A gente conecta o empreendedor marginal com o consumidor que também é marginal, liga essas pessoas. É um marketplace social. Tudo que aprendemos sobre organização financeira será muito melhor para estruturar a Avia”, explica. 

A Escola de Negócios da Favela surgiu primeiramente na mente de Celso Athayde, fundador da Central Única de Favelas (Cufa) e CEO da Favela Holding. A Fundação Dom Cabral já havia feito uma mentoria para a Cufa anos atrás e ele sentia que era necessário encontrar uma forma de divulgar a empreendedores das mais diferentes favelas do país o conhecimento empresarial. “A ideia era permitir que eles pudessem falar a linguagem do asfalto, os códigos do mundo corporativo. A favela não fala isso e não ganha a credibilidade”, diz Athayde.

O primeiro passo para o projeto foi o desenvolvimento da Expo Favela 2022, evento que reuniu 20 mil pessoas em São Paulo. Entre os 300 empreendedores que compareceram presencialmente, dez foram selecionados para participar do projeto piloto. Foram 54 horas de aulas, sendo que as primeiras e as últimas foram realizadas presencialmente em Nova Lima - e a fase intermediária por meios digitais. Todos eles receberam bolsas para participar do projeto. 

Com o piloto encerrado, agora a Fundação Dom Cabral e a Cufa planejam estender o conhecimento aos 300 participantes da Expo Favela. Mas o formato será um pouco diferente, já que não será possível bancar uma imersão presencial de todos eles em Nova Lima, como aconteceu com a primeira turma. 

“Nesta segunda etapa, vamos testar o digital. Esse público é muito diverso, todos trabalham muito, acordam às 6h e trabalham até 22h. Mas tem também aqueles que trabalham no fim de semana, na feira, cada um tem uma jornada. A ideia é que temos de fazer de uma maneira que seja fácil para o empreendedor e na hora em que ele puder”, Ana Carolina de Almeida, diretora de Empreendedorismo da FDC.

Segundo ela, todos compreendem a importância de encontros presenciais também. Por isso, estudam a possibilidade de utilizar estruturas nas próprias favelas. “Já estamos estudando hubs nas principais capitais, para que a pessoa seja convidada para capacitação presencial, lembrando que normalmente esse empreendedor não tem tempo para se deslocar para estudar”, completa.

Athayde lembra que Dom Cabral e Cufa não estão ganhando nada para implementar esse projeto. A intenção agora é pegar os resultados do projeto piloto para apresentar a ideia para grandes empresas, para encontrar filantropos dispostos a investir em uma iniciativa que une educação ao empreendedorismo. 

“Na Dom Cabral, ao estar no mesmo ambiente que representantes das grandes corporações, eles começam a se sentir como executivos de verdade e não só camelôs. Podem levantar os olhos e a cabeça para se sentirem como verdadeiros empreendedores”, afirma Athayde, lembrando que a Cufa não pretende ser apenas um projeto que leva cestas básicas aos mais necessitados, mas também uma catalisadora para que todos possam viver de suas próprias produções.

 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!