A maioria dos reajustes salariais dados pelas empresas em março de 2022 no Brasil, via acordo ou convenção coletiva, está abaixo da inflação acumulada dos últimos 12 meses. É o que conclui o levantamento “De Olho nas Negociações”, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Dos 231 reajustes concedidos a trabalhadores em março, 51,9% estavam abaixo da inflação de 10,8%, medida pelo IBGE entre abril de 2021 e o mês da pesquisa. Outra parcela de 34,2% das correções salariais estavam exatamente na marca do IPCA, enquanto 13,9% foram, de fato, ganhos reais de poder aquisitivo.
O piso salarial mediano é de R$ 1.310 no Brasil. Portanto, a maioria dos trabalhadores brasileiros ganham pouco acima dos R$ 1.212, valor do salário mínimo atual.
O técnico do Sistema de Acompanhamento das Contratações Coletivas do Dieese, Luís Ribeiro, diz que os números deixam claro que não houve recuperação das empresas após o pior período da pandemia, muito pela situação instável da economia.
“A atividade está patinando já há muito tempo e não consegue ter uma recuperação de fato. E o desemprego também está elevado. Esses fatores, mas principalmente a inflação, explicam essa redução (de reajustes salariais acima do IPCA) neste último mês”, diz.
Para efeito de comparação, em março do ano passado, quando o Brasil vivia o pior momento da pandemia, 21,5% dos acordos e convenções coletivas estavam acima da inflação – taxa bem superior aos atuais 13,9%.
“Quando a gente pega os anos 2000, principalmente de 2008 a 2010, a situação era invertida. Cerca de 80% das negociações tinham aumento real. O inverso de agora, quando muitos trabalhadores continuam perdendo”, afirma Luis Ribeiro, do Dieese.
Por outro lado, o reajuste parcelado têm ocorrido com menos regularidade. Em março desse ano, apenas 5,6% das negociações estimaram o pagamento em duas ou mais parcelas, enquanto em março de 2021, 11,3% dos resultados analisados foram parcelados.