Desafios

Reconciliação e autorreflexão são temas do Fórum do Amanhã

Novo livro do economista Eduardo Giannetti é um dos destaques da programação deste sábado (7); evento está disponível online

Por Rafael Rocha
Publicado em 07 de novembro de 2020 | 03:00
 
 
 
normal

A confluência de crises vivida pelo Brasil - econômica, social, política, moral e de saúde pública - pode ter suas soluções saídas do ramo da criatividade, da filosofia e até mesmo da literatura. Basta ampliar os horizontes.

Os organizadores do Fórum do Amanhã, evento que se encerra hoje, acreditam na viabilidade da retomada de bons ares entre nós, e por isso os debates a serem desenvolvidos neste sábado passam por esses caminhos. As reflexões começaram ontem e seguem com transmissão online e gratuita no endereço youtube.com/forumdoamanha

O destaque da programação é o lançamento do mais novo livro do economista e professor Eduardo Giannetti, intitulado “O Anel de Giges”, escrito durante período sabático que o autor passou em Tiradentes, cidade onde o encontro sempre acontece. Foram as reflexões do escritor, inclusive, que serviram de inspiração para a criação do evento, que chega a sua 5ª edição. “No livro ‘Trópicos Utópicos’ ele fala que o Brasil poderia ser mais do que era. Então pensamos neste ano: qual o Brasil dos nossos sonhos? Mas hoje estamos vivendo um país dos pesadelos. Existe uma necessidade de reconciliação”, pontua Cristina Nascimento, uma das idealizadoras do evento.

A nova obra literária, portanto, busca refletir sobre a natureza do comportamento humano para além de convenções sociais ou freios morais. O autor parte de uma fábula que consta no segundo livro da República de Platão. No relato, um humilde pastor de rebanhos encontra um anel que lhe confere o poder da invisibilidade. “Ele percebe esse poder e se elege como representante dos pastores em uma assembleia, seduz a rainha, assassina o rei, usurpa o trono da Lídia e se torna fabulosamente rico”, antecipa Giannetti. A posse do anel atiçou a fera da ambição desmedida, explica o prefácio do livro.

A partir dessa dicotomia entre o que está escondido e o que está à mostra, Giannetti escancara o que considera uma característica nacional. “Eu acho que os brasileiros têm uma noção de que o problema é sempre o outro, e o experimento do anel traz a questão da ética para dentro da pessoa”, diz. “Me interessa provocar essa autorreflexão e chacoalhar as pessoas, para que elas se imaginem numa situação de poder quase absoluto. O que se esconde nas camadas mais profundas da nossa alma?”, provoca o escritor.

Antes de Giannetti, as discussões ficam sob responsabilidade de Joel Pinheiro (colunista da Folha de S.Paulo e filho do economista). Acompanhado por Ana Paula Massoneto (Mandato Ativo), Marcos Wortamann (cientista político) e Juliana Ferreira (empresária), eles refletem a partir do tema “Vazio no Poder: A reinvenção do ser político”. “Vivemos um vácuo ocupado por um governo populista que dividiu o Brasil dessa forma”, opina Cristina. A mediação é de Eduardo Rombauer, um dos fundadores do Fórum do Amanhã.

Contra a barbárie, contos

A programação deste sábado (7) começa às 10h com um imperdível lançamento da editora Autêntica. Trata-se da obra “20 contos sobre a pandemia 2020”, que reúne relatos de autores mineiros sobre suas vivências e impressões na pandemia. A organização é de Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras.

A publicação apresenta uma seleção diversa e potente com 20 nomes de várias gerações e perfis da produção mineira. Dos veteranos constam Olavo Romano, Frei Betto, Ivan Angelo e Luís Giffoni. Na lista de autores mais jovens, aparecem textos de Paula Pimenta, Jacques Fux, Ana Elisa Ribeiro, Cris Guerra, Carla Madeira e Carlos de Brito e Mello.

O objetivo da obra é servir de registro histórico dos tempos de coronavírus, conforme explica Tavares. “É importante que as gerações do futuro saibam como nossa geração lidou com a peste no momento em que ela estava ocorrendo, então o livro é uma testemunha de nossa época. São os escritores que contam a história do mundo”, diz.

Nesses tempos de quarentena, os temas que brotaram nas páginas transitam entre relações familiares, trajetórias individuais e alusões à coletividade nacional. “Essa realidade social e política brasileira, que é outra face da peste”, critica o organizador, que ratifica a crença no poder transformador da leitura. “Publicar um livro neste momento é um ato de resistência contra a barbárie e a truculência. O livro é um símbolo da cultura e da civilização. Não podemos ceder um milímetro.”, conclui.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!