Dobrou

Roupas de cama estão até 100% mais caras em BH, apontam varejistas

Preço do algodão, que subiu muito durante a pandemia, é um dos fatores que encarece os produtos têxteis; já tecidos de microfibra, mais baratos, ganham cada vez mais mercado


Publicado em 29 de setembro de 2023 | 06:00
 
 
 
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Um jogo de quatro peças de lençóis e fronhas 100% algodão 180 fios, que antes da pandemia era vendido a R$ 99, hoje custa R$ 199, em uma loja de enxovais de Belo Horizonte. Em outra, também na capital, um jogo de cama do mesmo material saltou de R$ 79 para R$ 149 no mesmo período. A elevação dos preços das roupas de cama tem um motivo: o preço do algodão atingiu os maiores patamares dos últimos 30 anos durante a pandemia da Covid-19, e, apesar de ter caído este ano, não tem perspectiva de voltar aos níveis do passado recente.

De acordo com estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), para a safra de 2022/2023, a produção de algodão em solo brasileiro é projetada em 3,07 milhões de toneladas, 19,8% superior à safra de 2021/2022. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria Têxtil de Minas Gerais, Rogério Mascarenhas, em função dessa safra grande e outros fatores internacionais, neste ano o algodão está com preços mais baixos do que no ano passado. “Mas ainda assim acima da sua média histórica”, diz.

Mascarenhas explica que a matéria-prima (no caso, o algodão) é o principal custo do setor têxtil e o que vai afetar, inevitavelmente, os preços do produto final e toda a cadeia produtiva - no entanto, somam-se a isso os custos de transformação. “Após a matéria-prima, você tem o custo de transformação, que é quando você pega a matéria-prima e transforma ela no produto final. O custo de transformação inclui energia, pessoal, químicos e depreciação de investimento. Então, isso aí compõe 80% do custo industrial”, comenta.

Mas esses não são os únicos fatores que influenciam o preço dos produtos têxteis. Mascarenhas cita ainda os custos de depreciação das máquinas, que estão cada vez mais modernas e caras, e fatores de competição de mercado que interferem também. “Em 2022, com o componente algodão bastante caro, a energia elétrica ainda no patamar caro e uma concorrência muito grande, a indústria textular passou algumas dificuldades”, lembra.

Na percepção de varejistas, as roupas de cama que subiram - e muito! - de preço nos últimos anos não devem baratear tão cedo. A proprietária da Enxovais Monte Santo, Viviane Vasconcelos Moreira, conta que as peças de algodão representam 90% das vendas da empresa, e que ela percebeu um aumento considerável nos preços das peças desde a pandemia

“Um jogo de cama 100% algodão 180 fios, de qualidade boa, que antes da pandemia custava R$ 79, hoje está R$ 149. Ou seja, quase dobrou. Esse produto, por exemplo, não existe previsão de queda de preço para ele. Ele está, digamos assim, com preço estabilizado. Mas a redução realmente é complicada”, avalia.

Já na Sagrada Família Enxovais, o proprietário da loja, Eder Farias, conta que viu um aumento “absurdo” nos preços dos itens de cama, mesa e banho, fabricados com algodão. “Foram realmente aumentos absurdos! Uma roupa de cama em 180 fios, tamanho casal, quatro peças, que eu vendia a R$ 99 hoje é R$ 199”, exemplifica.

A expectativa de Eder é que os preços das roupas de cama em algodão comecem a cair em algum momento. “Abaixando, todo mundo ganha. Nós, como lojistas, vamos ter uma condição de preço melhor, o consumidor final vai ficar mais feliz porque vai pagar um produto com qualidade acima, que é o algodão, com um preço mais justo”, diz.

Microfibra ganha mercado

E por falar em preços mais baixos, o tecido de microfibra, que vem tomando conta do mercado desde meados de 2010, quando chegou ao Brasil, tem sido alternativa ao algodão. Apesar de não ser produzido aqui, é um tecido muito mais barato e que atende à demanda de um público que não tem condições de arcar com os preços de enxovais 100% algodão. 

Rogério Mascarenhas esclarece que o produto conhecido como microfibra é na verdade um “filamento de poliéster e também microfilamento de poliéster” e explica o motivo de ter um preço tão atrativo: “esse produto entrou com um preço justamente competitivo, porque é um derivado de petróleo e o processo de produção dele é muito mais rico, muito mais rápido, e acaba sendo muito mais barato, com preço vinculado ao petróleo. Esse produto dominou o mercado de baixa renda”, diz.

Na loja de Eder Farias, apesar de o algodão ainda ser o carro-chefe das vendas, a microfibra tem ganhado espaço pela qualidade cada vez melhor. “Tem muita gente preferindo microfibra, eu tenho que falar com o cliente que é microfibra, senão ele acha que é algodão”, revela. Por lá, as vendas desse produto cresceram entre 10% e 12% em relação ao período anterior à pandemia.

Mesmo sendo mais atrativa, por ser um produto importado, a microfibra também passou por momentos de alta durante a pandemia por causa do preço do dólar, que subiu consideravelmente. “Colcha em poliéster e microfibra tiveram uma alta muito grande na pandemia por causa do dólar, então, tinha a cotação diária, todo dia que você ia comprar era um preço diferente. Mas agora, muitos fornecedores já deram uma redução boa nos preços”, avalia Eder.

A expectativa é que neste ano esses produtos fiquem mais atrativos, visto que o dólar sofreu quedas recentes. Eder conta que já está baixando os preços de alguns produtos de poliéster. “Tenho colcha aqui que custava R$ 229 e eu vou abaixar para R$ 189”, diz.

Viviane Moreira acrescenta que o inverno deste ano trouxe preços mais baixos que em 2022. “Com a queda do dólar, não só as roupas de cama de microfibra, mas também aquelas mantinhas bem molinhas, que viraram uma febre, caíram de preço”, diz. “O inverno deste ano foi mais barato do que o inverno do ano passado por conta das negociações em dólar. Então, o lojista que ficou com estoque do ano passado para vender esse ano amargou um certo prejuízo, porque quem comprou em 2023 comprou mais barato”, comenta.

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