Pesquisa

Superdívida engole renda de 22,4% da população no país 

Em 2014, apenas 8,1% deviam mais da metade do salário; percentual triplicou em dois anos

Por Queila Ariadne
Publicado em 27 de julho de 2016 | 03:00
 
 
 
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Nos últimos dois anos, a fatia das pessoas que têm mais de metade da renda comprometida com dívidas quase triplicou. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas Direito do Rio de Janeiro (FGV), com 2.002 entrevistados, em 2014, eles eram 8,1%. Agora, 22,4% da população está superendividada. O percentual que deve mais de 70% do que ganha, subiu de 6,1% para 14,3%.

É nessa estatística mais crítica que se enquadra o casal José de Paulo, gari, e Izabel Cristina, dona de casa. Com cinco crianças em casa, incluindo bebês gêmeos de 10 meses, eles estão escolhendo as contas para pagar. “A gente paga água e luz, porque não podemos ficar sem isso. Mas o resto, como TV a cabo e cartão de crédito, a gente vai atrasando. Hoje em dia, está tudo muito mais pesado do que antes”, conta o casal.

De acordo com o estudo da FGV, falta dinheiro após pagar todas as despesas para 35,4% da população. Há dois anos, esse percentual era praticamente metade, com 18,5%.

A doméstica Maria de Lurdes de Assis, 46, conta que a situação financeira tem piorado muito. “De novembro para cá, já comecei a sentir isso, pois já não conseguimos fazer as mesmas compras que tínhamos costume de fazer no Natal.” A estratégia de Maria de Lurdes é ir empurrando as dívidas com a barriga. “Eu não deixo de pagar, mas vou atrasando. No caso do cartão de crédito, eu pago só um pouco”, conta.

De acordo com o levantamento da FGV, sete a cada dez brasileiros já reduziram até mesmo os gastos essenciais nos últimos três meses.

O vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar, explica que o alto custo de vida das famílias é que têm elevado as dívidas. “O Brasil nunca experimentou a atual conjuntura, com desemprego e inflação, tudo junto. Quem está sustentando o Brasil é a balança comercial positiva, ou seja, as exportações”, afirma.

Segundo levantamento da CDL-BH, o total de dívidas atrasadas cresceu 6,28% em junho, em relação ao mesmo mês do ano passado. “As pessoas estão parando de comprar, e aí o comércio para de vender e a indústria para de produzir”, destaca Gaspar.

A estimativa da CDL para 2016 é de uma retração de 2,9% nas vendas. Em 2015, o comércio da capital mineira registrou uma queda de 4,3%. “A gente acredita em melhoria neste ano. Mas é mais pela confiança nos nomes da equipe econômica do que pelo que já fizeram até agora”, comenta Gaspar.

Inadimplência cresce mais entre os idosos

Os mais velhos devem mais. De acordo com levantamento divulgado ontem pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), em junho deste ano a inadimplência entre pessoas acima de 65 anos cresceu 30,57% em relação a junho de 2015. Entre 30 e 39 anos, por exemplo, a alta foi de 5,41%. A dona de casa Maria Auxiliadora, 67, conta que, além dos gastos pessoais, costuma ajudar filhos e netos. “Atraso algumas contas, mas sempre pago tudo”, afirma.

O vice-presidente da CDL-BH, Marco Antônio Gaspar, destaca que é muito comum os idosos ajudarem financeiramente as famílias. “Muitos pegam crédito consignado. Esse não tem jeito de não pagar, mas acaba não sobrando para outras dívidas”, diz. (QA)

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