No Brasil, o total de estudantes no ensino médio integral aumentou 242% nas redes estaduais de 2016 a 2024, indo de 393 mil a 1,3 milhão de matrículas. O avanço também se deu no número de escolas ofertando o modelo, passando de 1.600 para mais de 7.000 unidades. Apesar disso, a oferta ainda é desigual.

Os dados são de um novo estudo do Todos Pela Educação, com base em informações do MEC (Ministério da Educação), Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e Deed (Diretoria de Estatísticas Educacionais).

O estudo considera como matrículas no ensino médio integral aquelas de alunos que permanecem em atividades presenciais por 35 horas ou mais semanalmente. Nacionalmente, 22% dos alunos dessa etapa estão cadastrados na modalidade. O panorama, porém, é bastante diferente estado por estado.

Somente nove estão acima da média do país, e seis deles são do Nordeste: Pernambuco, que lidera com 71%, seguido por Piauí (58%), Ceará (53%), Paraíba (51%), Sergipe (32%) e Alagoas (29%). Em contraste, oito unidades federativas apresentam cobertura inferior a 10%. As piores situações são as de Distrito Federal (2%), Santa Catarina (3%), Roraima (4%) e Mato Grosso (5%).

O Todos Pela Educação avalia que os dados evidenciam diferentes ritmos de implementação e graus de priorização da política nos territórios. Há disparidades significativas mesmo nas regiões. No Sudeste, por exemplo, há contrastes entre Espírito Santo (33%) e São Paulo (24%), com cobertura acima da média, e Minas Gerais (15%) e Rio de Janeiro (14%), com abrangência menor.

No período observado, os estados com maior variação positiva no total de matrículas foram Piauí (47,5 pontos percentuais), Paraíba (43,4 pontos), Ceará (37), Espírito Santo (31,6), Pernambuco (30,4) e Sergipe (29,3).

Outros estados registraram crescimentos muito baixos ou até mesmo retrocessos. O caso que mais se destaca é o de Rondônia, com uma redução de 9,7 pontos, seguido por Santa Catarina (-3,6) e Distrito Federal (alta de 1,1).

"O ensino médio ainda enfrenta desafios profundos de aprendizagem e permanência e o modelo de ensino médio integral é uma alavanca comprovada para enfrentar esse cenário. Evidências mostram de forma consistente que o modelo reduz a evasão, melhora a aprendizagem e amplia o acesso ao ensino superior", analisa Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação.

Escolas

O estudo constatou ainda a expansão do total de escolas que ofertam ensino médio integral de 2016 a 2024. Estados como Ceará (74%), Piauí (71%), Pernambuco (69%) e Paraíba (63%) lideram em percentual de unidades especializadas. Na outra ponta, estão Santa Catarina, Distrito Federal, Roraima, Acre e Rondônia, que mantêm percentuais abaixo de 10%.

No período analisado, os maiores crescimentos no percentual de escolas com ensino médio integral foram registrados no Piauí (55,1 pontos) Ceará (51 pontos.), Espírito Santo (48,8), Bahia (48) e Mato Grosso do Sul (42,6).

O caso do piauiense chama atenção por uma trajetória de crescimento acelerado entre 2022 e 2023, quando o percentual saltou de 23% para 85%, seguido por uma redução de 14 pontos, alcançando 71% em 2024.

Na outra ponta, algumas redes apresentam crescimento tímido, estagnação ou até mesmo retração no período. Esse é o caso para os estados de Rondônia (-15 pontos.) e Santa Catarina (-12,3).

Menor evasão e maior aprendizagem

Segundo o Todos Pela Educação, diversas experiências estaduais demonstram que o ensino médio integral contribui consistentemente para a melhoria dos resultados educacionais. As evidências indicam avanços significativos tanto na aprendizagem quanto na permanência dos estudantes na escola.

Em São Paulo, por exemplo, a implementação do programa de ensino integral reduziu em cerca de 10 pontos percentuais a evasão na 1ª série do ensino médio. Os efeitos foram ainda mais expressivos entre grupos mais vulneráveis, como estudantes com histórico de reprovações.

Sobre a aprendizagem, os resultados também são positivos. Estudos realizados em São Paulo e em Pernambuco mostram ganhos relevantes de proficiência em língua portuguesa e matemática. Esses efeitos também podem ser observados em disciplinas com menor carga horária, "sugerindo que a política pode qualificar o tempo pedagógico amplamente, com reflexos positivos em múltiplas áreas do conhecimento", opinam os pesquisadores.

Do ponto de vista dos profissionais da educação, o Todos Pela Educação diz que o ensino médio integral propicia condições mais adequadas ao exercício da docência, quando comparado a jornada parcial. Em Pernambuco, por exemplo, docentes das escolas integrais apresentam maior formação (80,5% com pós-graduação, contra 71,7% no ensino regular), maior dedicação exclusiva (67% contra 43,2% com carga superior a 40h semanais) e menor acúmulo de vínculos (40,8% contra 57,6%).