O livro “Cobiça”, escrito pelo prefeito e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD), concentrou as atenções na última semana de capanha do segundo turno da disputa pela sucessão da Prefeitura de Belo Horizonte. Atrás de Fuad na corrida, o candidato Bruno Engler (PL) acusou o adversário de fazer apologia à pedofilia em trecho do livro, o que o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) entendeu como “descontextualização”. 
 
Publicado pela Editora Ramalhete, o romance, que está na primeira edição, foi lançado em 2020. A obra retrata a viagem de Sueli ao interior de Minas Gerais atrás de memórias familiares. O romance foi o segundo publicado por Fuad, que já havia lançado “O amargo e o doce” em 2019, pela Editora Quixote. “Cobiça” já havia repercutido durante a campanha, no 1º turno, quando expressões sexuais explícitas chamaram a atenção de leitores por contrastarem com a imagem do prefeito. 

O livro foi utilizado por Engler para atacar Fuad pela primeira vez na última segunda-feira (21 de outubro), quando os candidatos se encontraram em uma agenda organizada pela Igreja Batista Getsêmani, no bairro Dona Clara, região da Pampulha. O deputado o romance como “absolutamente perturbador” e “pornográfico” por narrar o estupro de uma criança. Fuad, então, ironizou o adversário, dizendo que, se fossem discutir literatura, deveriam chamar “Nelson Rodrigues, Bocage e Jorge Amado”.  

Em entrevista à FM O TEMPO 91,7 no mesmo dia, Engler levou o livro, leu um trecho e voltou a criticar o adversário. “O prefeito já disse que se trata de uma ficção, que não tem nada a ver, mas como, em um contexto de um livro erótico, alguém consegue imaginar um estupro coletivo de uma criança de 12 anos?”, insistiu o deputado estadual, pouco antes de ir para o encontro na Getsêmani onde encontraria Fuad. 

No dia seguinte, também em entrevista à FM O TEMPO 91,7, foi a vez do deputado federal Nikolas Ferreira (PL) utilizar a obra para atacar o prefeito. “Se esse livro tivesse sido escrito por Jair Bolsonaro, esquece. Terceira guerra mundial. Iam colocar ele como um pedófilo, ‘o que esse velho está pensando no seu tempo livre, escrevendo um livro que fala sobre o estupro de uma criança de 12 anos’, ‘o que se passa na cabeça de Jair Bolsonaro?’”, questionou Nikolas.

Naquele mesmo dia, as insinuações foram levadas ao horário eleitoral gratuito, mas pela candidata a vice-prefeita de Engler, Coronel Cláudia (PL), em uma inserção. “Na página 159, Fuad descreve o estupro coletivo de uma criança de 12 anos. Eu não vou nem ler o que está escrito, pois é muito pesado e pode ter crianças ouvindo. Ele se defende dizendo que é uma ficção. Mas como alguém pode sequer pensar no estupro de uma criança?”, reiterou a candidata a vice.

Justiça determina retirada de vídeos da campanha de Engler

Na quarta-feira, a 331ª Vara Eleitoral de Belo Horizonte atendeu a um pedido de Fuad para retirar a peça do ar, porque, segundo a campanha do prefeito, o trecho levado ao ar teria sido descontextualizado. O juiz Adriano Zocche deu razão ao candidato à reeleição e apontou que a narrativa é fictícia. “Relata a história de uma personagem de forma a evidenciar tragédias e abusos sofridos por ela, sem qualquer apologia ou incentivo a tais atos”.

Após derrubar o vídeo de Coronel Cláudia, a 331ª Vara Eleitoral determinou, na última sexta (25 de outubro), a remoção de um outro vídeo insinuando apologia à pedofilia, desta vez publicado por Nikolas. Zocche afirmou que, no vídeo publicado pelo deputado federal, padrinho de Engler, há “divulgação de informações descontextualizadas e inverídicas, com o claro intuito de prejudicar a imagem do candidato à reeleição".

O episódio levou a deputada federal Duda Salabert (PDT), que, após ser derrotada no 1º turno, apoia Fuad, a sair em defesa do prefeito. “Sei também que o Bruno Engler na escola foi obrigado a estudar sobre os clássicos da literatura e ler livros, por exemplo, como Cortiço, do Aluísio Azevedo, que é um clássico que tem uma cena de violência sexual contra personagem Pombinha, que tinha 14 ou 15 anos”, lembrou a deputada federal, que é professora de Literatura.

Durante o último ato de campanha, neste sábado, Fuad voltou a classificar as acusações de Engler como “fake news” e afirmou que “quem lê o livro não vê nada” do que o adversário diz. “Eu até achei bom, porque estão vendendo bastante livro. Vamos continuar. Já me pediram para publicar a segunda edição, porque está vendendo muito, mas acho que vou escrever um terceiro livro agora”, ironizou o candidato à reeleição.