A Fundação Perseu Abramo, que é um dos braços de formação política do Partido dos Trabalhadores (PT), lançou uma cartilha que busca facilitar o diálogo de candidatos, lideranças e militantes da agremiação com o público evangélico às vésperas das eleições municipais deste ano. O texto, que contém dicas práticas sobre como abordar temas como religiosidade, liberdade religiosa, valorização da fé, a diversidade da população evangélica e a defesa dos direitos humanos, foi divulgado nesta terça-feira (13 de agosto). Segundo a fundação, um dos grandes desafios dos partidos progressistas tem sido “ampliar o diálogo com a população evangélica”, estimada em mais de 40 milhões de pessoas no Brasil, e que isso é “fundamental para definir o rumo das eleições em todo o país”.
“No caso da cartilha evangélica, a ideia é apresentar a lideranças políticas e militantes detalhes sobre como conversar com os cristãos evangélicos do país, apresentando dados sobre a realidade desta camada da população”, afirma a fundação em nota. Uma das sugestões apresentadas pela cartilha é não tratar os evangélicos como “se fossem todos iguais", para “tentar evitar o mau rótulo atribuído a eles por parte da esquerda". “Outro ponto é estatístico: a maior liderança das famílias periféricas é uma mulher negra e evangélica, perfil que sempre apoiou governos progressistas, mas que tem se identificado também com representantes da direita”, completa o texto.
Luis Sabanay, pastor presbiteriano, assessor nacional de políticas da Secretaria de Movimentos Populares do PT e integrante do Grupo de Estudos Inter-religiosos da Fundação Perseu Abramo, afirma que, historicamente, não havia hegemonia do voto evangélico na direita brasileira, como houve com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018, e que existe uma parte dos evangélicos que vota no campo progressista.
“Existiam, contudo, várias acusações de que nós não nos comunicamos com a linguagem, com a cultura, com a forma religiosa do povo evangélico e, então, elaboramos uma cartilha. Também, organizamos um grupo de estudos que tem no aspecto amplo estudiosos, pessoas que lidam no dia a dia com as igrejas como pastoras e pastores e toda a pluralidade da esquerda”, ressalta.
“Não existe fórmula mágica para trazer os evangélicos de volta”
Presidente estadual do PT em Minas Gerais, o deputado estadual Cristiano Silveira afirma que a aproximação com o público evangélico é um processo amplo, que passa por diversas frentes tanto durante as eleições quanto fora delas. Ele, além de elogiar a medida da Fundação Perseu Abramo, relembra que, em Minas, o PT tem o Núcleo de Evangélicos da legenda (NEPT), que já atua em encontros regionais para aproximar a agremiação da população protestante e cita ainda que “não existe uma fórmula mágica” para “trazer os evangélicos de volta” ao campo progressista.
“Hoje, o ponto de vista do que é ser cristão e dos ensinamentos da Bíblia está muito mais alinhado ao campo socialista, progressista, do que ao da direita. O problema é que muitos fiéis não leem a Bíblia e apenas ouvem o que o líder pastoral diz”, comenta Silveira. “(Ganhar de volta os evangélicos) não é uma ação específica, isolada, de um Estado ou de um município, mas uma ação coordenada e cultural em todo o país. É um processo que funciona na dinâmica da própria sociedade. Não tem uma fórmula mágica, uma receita – é um processo”, completa Silveira.
Em BH, PT vai dialogar com toda a classe trabalhadora
O presidente municipal do PT em Belo Horizonte, Guima Jardim, afirma que os evangélicos são um dos públicos em que o partido vai focar sua atuação na capital mineira. De acordo com ele, os protestantes estão incluídos dentro da “classe trabalhadora”, que é o foco principal da legenda, e, em virtude disso, é importante ampliar o diálogo com a categoria. “Os religiosos são, sim, públicos que devem participar da política, dar diretrizes e colocar suas ideias. Buscamos colocar mecanismos de escuta para que a gente consiga atender (a eles) e buscar construir caminhos juntos. O PT é um partido da construção política, construímos caminhos em comum com o povo”, define.
De acordo com Guima, todos os religiosos, de alguma forma, sofrem preconceito, e, por isso, devem ser acolhidos pelo PT. “Muitas religiões sofrem preconceito, seja evangélica, seja de matriz africana. O que pretendemos é um país livre, uma Belo Horizonte livre de preconceito religioso. Para o PT é muito natural, é um partido de vários grupos internos. Acabamos damos uma afastada da base, mas o PT retoma sua forma de organizar o povo. (Se aproximar dos evangélicos) é uma boa oportunidade no âmbito municipal”, completa. “O PT vai, sim, dialogar com toda a classe trabalhadora, seja ela evangélica ou religiosa. Há apoiadores da direita em todas as religiões, e acaba-se jogando mais peso no público evangélico. Todo cidadão brasileiro tem direito de participar da política e todos são bem-vindos”, concluiu Guima.