BRASÍLIA - Após um primeiro turno apertado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) conseguiu ser reeleito no segundo turno da eleição municipal de São Paulo, neste domingo (27), com folga em relação ao segundo colocado, Guilherme Boulos (Psol). 

Sua candidatura pela reeleição contou com a participação ativa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). No segundo turno, ganhou maior adesão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que chegou a flertar com Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno.

E, ao contrário do que era esperado, Nunes não teve o apoio declarado de Marçal, que “liberou” seu eleitorado para votar em quem quisesse após não conseguir o almejado pedido de desculpas do prefeito, de Tarcísio e de Bolsonaro.

Após uma fracassada tentativa de reaproximação de Nunes com Marçal, o prefeito chegou a dizer que não aceitaria que o autodenominado ex-coach subisse em seu palanque. Mas, mesmo contrariada, a grande maioria dos apoiadores de Bolsonaro que havia votado em Marçal no primeiro turno migrou o voto para Nunes neste domingo

Nunes assumiu prefeitura após morte de Bruno Covas

O empresário Ricardo Luís Reis Nunes, que tem 56 anos, assumiu a Prefeitura de São Paulo após o líder da chapa vencedora em 2020, Bruno Covas (PSDB), morrer por conta de um câncer, em maio de 2021.

Antes de ser vice-prefeito, Nunes foi duas vezes vereador na capital paulista, eleito em 2012 e 2016. No primeiro mandato, ganhou destaque na política local por liderar o grupo de vereadores que atuava para barrar a inclusão da temática de sexualidade e gênero no Plano Municipal de Educação (PME) da capital paulista.

Ele foi ainda o relator do projeto na Comissão de Finanças e retirou, em sua revisão, todas as menções à palavra “gênero” do PME, levando manifestantes das causas feministas e LGBTQIAP+ ao plenário da Câmara Municipal.

Até então, além de empresário, o emedebista era conhecido como líder comunitário da Zona Sul da capital paulista, que construiu uma trajetória apoiada no MDB, um partido grande, e nas relações com setores da Igreja Católica.

Politicamente, Nunes ganhou mais força ao assumir a presidência municipal do MDB. O partido esperava emplacar José Luiz Datena como vice de Covas em 2020, mas como o apresentador desistiu do projeto, o nome de Nunes ganhou a preferência na corrida interna.

Prefeito fundou empresa de controle de pragas

Como empresário, Nunes fez fortuna combatendo pragas, em especial na desinfecção de navios nos portos brasileiros, impedindo a destruição de grandes remessas de grãos. Em 1997, ele criou a Nikkey, que se tornou uma das maiores empresas do ramo no Brasil.

São cerca de 400 funcionários e unidades em portos e aeroportos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Com esse sucesso, fundou a Associação Brasileira das Empresas de Tratamento Fitossanitário (Abrafit) e assumiu o cargo de diretor na Associação Empresarial da Região Sul de São Paulo (Aesul).  

As declarações de bens de Nunes à Justiça Eleitoral oscilaram pouco mais de 10% desde a primeira eleição, quando declarou ter R$ 4,2 milhões em bens, até 2020, quando informou um patrimônio de R$ 4,8 milhões. As principais posses em seu nome são imóveis.

Suposta agressão à esposa e ‘Máfia das creches’

No primeiro turno, Pablo Marçal foi quem trouxe à tona episódios envolvendo Nunes. Os dois principais candidatos da direita à Prefeitura de São Paulo trocaram pesadas acusações. Ao fim de um deles, no Flow Podcast, um assessor de Pablo Marçal deu um soco no rosto de Duda Lima, marqueteiro de Ricardo Nunes.

A confusão foi desencadeada após Marçal dizer, nas considerações finais, que o prefeito seria preso. Ele se referia a investigação do Ministério Público de São Paulo sobre superfaturamento de contratos de creches privadas conveniadas à prefeitura.

O caso teria ocorrido durante o mandato de vereador de Nunes, que supostamente recebeu repasses de empresas envolvidas no esquema conhecido como “Máfia das Creches”. Em julho, a Polícia Federal (PF) indiciou 111 pessoas por desvios de recursos em creches da capital paulista e manteve Nunes sob investigação.

Segundo a PF, o esquema movimentou cerca de R$ 1,5 bilhão entre 2016 e 2020. Empresas de amigos e familiares do emedebista teriam sido beneficiadas, e há indícios de que uma das organizações sociais envolvidas fez pagamentos diretos para a conta pessoal do emedebista. Ele nega as irregularidades.

Marçal explorou também um episódio de 2011, em que Regina Carnovale, esposa de Ricardo Nunes, fez um boletim de ocorrência contra o marido acusando-o de violência doméstica.  O assunto já havia sido pauta nas eleições municipais de 2020, quando ela mudou a versão, dizendo não ter dito a verdade e afirmando não se lembrar de ter feito o B.O.

Com a aproximação das eleições de 2024, o assunto voltou a ser questionado, e o prefeito afirmou que tal documento é falso. A Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública paulistas, porém, contradizem o prefeito, afirmando que o Boletim de Ocorrência é real.

Nem apagão afetou fortemente campanha de Nunes

Já no segundo turno, no embate direto com Guilherme Boulos, Ricardo Nunes enfrentou um desgaste com os estragos provocados pelo temporal que atingiu São Paulo no início de outubro. Em especial, a prolongada falta de energia elétrica.

O episódio foi fortemente explorado pelo concorrente nas redes sociais. O candidato do Psol insistiu que a falta de prevenção e solução rápida para os problemas eram culpa da administração de Nunes.

Já o prefeito jogou a culpa para a Enel. Disse que fará de tudo para anular o contrato com a concessionária que explora o serviço de energia em São Paulo. Nisso, ele e Boulos concordaram.

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