BRASÍLIA - Eduardo Paes (PSD) foi reeleito prefeito do Rio de Janeiro neste domingo (6), com 60,47% dos votos válidos. O vice-prefeito eleito na chapa é Eduardo Cavaliere, seu colega de partido e ex-secretário municipal na sua gestão, que tem apenas 29 anos.
Já Eduardo Paes, que é casado com Cristine Assed, com quem tem dois filhos, Isabela e Bernardo, está com 54 anos. Carioca nascido e criado no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio, iniciará o quarto mandato em janeiro. Os dois primeiros foram de 2009 a 2017. O atual começou em 2021.
Bacharel em direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), sem inscrição na OAB, antes da política, Paes fez figuração em novelas da TV Globo. Mas logo entrou para o universo político, sendo nomeado, aos 23 anos, em 1993, subprefeito da Zona Oeste do Rio pelo então prefeito Cesar Maia, seu padrinho político.
Mudança contínua de partidos e mandatos não cumpridos
O prefeito já passou por oito partidos. A primeira sigla de Paes foi o PV, em que se manteve de 1994 a 1995. No ano seguinte, já no PFL, ele foi o vereador mais votado do país de 1996, com 82.418 eleitores. Dois anos depois, sem terminar o mandato de vereador, elegeu-se deputado federal com 117.164 votos. Trocou de partido novamente, foi para o PTB, em 1999, mas, em 2001, voltou ao PFL.
Em seu mandato na Câmara dos Deputados, filiado ao PSDB, presidiu a Comissão de Orçamento, na qual criou o Orçamento cidadão, que possibilitava à população participar das decisões a respeito da utilização dos recursos da prefeitura. Também teve uma postura contundente quanto às denúncias de corrupção no governo Lula durante o Mensalão.
Mas, como já havia acontecido quando era vereador, Paes interrompeu o mandato de deputado federal. Com a segunda eleição de Maia em 2000, foi nomeado secretário municipal do Meio-Ambiente da administração carioca. Cargo que assumiu em 1º de janeiro de 2001. Ainda em 2001 rompeu com Cesar Maia e retornou ao PFL. Reeleito deputado federal em 2002, Paes filiou-se ao PSDB em novembro de 2003.
Paes teve a primeira grande derrota em 2006, quando concorreu ao governo do Estado do Rio de Janeiro. Conquistou pouco mais de 5% dos votos. No segundo turno, declarou apoio a Sérgio Cabral Filho (PMDB), que venceu a eleição e o indicou para a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer.
Ainda em 2006, quando concorria ao governo do Rio de Janeiro, Paes defendeu a ação de milicianos em uma entrevista ao RJTV, da TV Globo. “Jacarepaguá é um bairro que a tal da polícia mineira, formada por policiais, por bombeiros, trouxe tranquilidade para a população. O Morro do São José Operário era um dos mais violentos desse Estado, e agora é um dos lugares mais tranquilos”, disse na ocasião.
Obras para Copa e Olimpíada
Em outubro de 2007, a convite do governador, Paes filiou-se ao PMDB para ser candidato a prefeito do Rio de Janeiro em 2008. Em uma disputa acirrada, foi eleito no segundo turno com 50,8% dos votos válidos, derrotando Fernando Gabeira (PV). Já em 2012, reelegeu-se no primeiro turno com 64% dos votos.
Nesses dois mandatos consecutivos, Paes ganhou projeção nacional por causa dos eventos e das obras em torno da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Entre outras, sua gestão construiu corredores viários por toda a cidade. Obras como a TransOeste, TransCarioca, TransOlímpica e TransBrasil começaram a sair do papel.
Além disso, Paes, em parceria com o então governador Sérgio Cabral Filho, iniciou uma série de obras de revitalização visando os jogos olímpicos, que incluíram a Zona Portuária e a derrubada do Elevado da Perimetral, que ainda hoje dividem especialistas. Também houve inúmeros casos de superfaturamento. Alguns resultaram em investigações que levaram à condenação e prisão de Sérgio Cabral.
Acusações de caixa 2 na Lava Jato
Paes também teve o nome envolvido na Lava Jato. Em delação premiada, executivos da Odebrecht afirmaram que o prefeito carioca e o deputado federal Pedro Paulo Carvalho (PSD) agiram juntos por caixa 2 em diversas campanhas eleitorais. Segundo os delatores Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Leandro Andrade Azevedo, Paes agia como “facilitador” das doações ilegais, enquanto que Pedro Paulo participava dos ajustes e da operacionalização das entregas.
Segundo os delatores, em troca de R$ 650 mil para sua campanha em 2008, Paes criaria facilidades para Odebrecht vencer contratos futuros na capital fluminense. Já em 2010, durante a campanha para o cargo de deputado federal, Pedro Paulo teria pedido e recebido cerca de R$ 3 milhões.
Na ocasião, Paes teria procurado Benedicto Júnior para a realização dos repasses. Em 2012, para a campanha de Eduardo Paes à reeleição como prefeito, os executivos disseram ter pago mais de R$ 15 milhões via caixa dois.
Eles afirmaram que a Odebrecht tinha interesse na facilitação de contratos relativos aos Jogos Olímpicos de 2016. Segundo relato de Benedicto Júnior, os pagamentos teriam sido feitos em espécie e entregues nos escritórios da agência Prole Serviços de Propaganda, conforme determinação de Pedro Paulo. Os repasses teriam sido feitos tanto no Brasil quanto no exterior.
O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou abertura de inquérito para apurar os possíveis crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Todos os citados negaram o recebimento de propinas. As delações dos executivos da Odebrecht foram anuladas pelo STF anos depois.
Paes se mudou para os EUA e chefiou BYD
Ao fim do segundo mandato como prefeito, em 2017, Eduardo Paes mudou-se para os Estados Unidos. Morou por cerca de um ano em Nova York e em Bethesda. Nos EUA, trabalhou como consultor do departamento de urbanismo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com foco na gestão de regiões metropolitanas.
Paes também foi consultor e vice-presidente para América Latina da BYD Auto, fabricante chinesa de caminhões e de carros elétricos, função esta que o fazia viajar constantemente para diversos países da América Latina. A BYD é a mesma que hoje começa a dominar o mercado brasileiro de carros elétricos.
Derrota para Wilson Witzel e vitória sobre Crivella
Eduardo Paes novamente tentou ser governador do Rio de Janeiro em 2018. Deixou o MDB, partido do qual faziam parte lideranças políticas fluminenses que foram presas entre 2016 e 2017 como Eduardo Cunha, Jorge Picciani e Sérgio Cabral. Paes filiou-se ao DEM e confirmou a sua candidatura após reunião com o general Walter Souza Braga Netto [então interventor federal na segurança pública do estado do RJ].
Paes acabou derrotado, de novo, dessa vez no segundo turno, para o juiz Wilson Witzel (PSC), que surpreendeu surfando na adesão ao bolsonarismo e na onda contra a política tradicional, turbinada pelos escândalos de corrupção, como os que levaram Cabral à cadeia. Após o pleito, Paes voltou a trabalhar para a BYD Auto, se comprometendo com os patrões a não ser candidato a prefeito do Rio de Janeiro em 2020.
Ainda em 2018, Paes abriu uma filial da BYD voltada para a América Latina, cujo escritório fica em frente à Praça Mauá, revitalizada durante sua gestão como prefeito. Paes também cogitava lecionar como professor de gestão pública na Universidade Columbia, nos EUA, mas desistiu de tal função.
Já Witzel foi afastado do cargo um ano após tomar posse, em investigação sobre a participação em esquema de corrupção. Em abril de 2021, foi afastado definitivamente ao ser condenado em processo de impeachment. Ele se tornou o primeiro governador afastado definitivamente do cargo por processo de impeachment na história do Brasil.
Paes voltaria à Prefeitura do Rio após vencer a eleição de 2020, desta vez pelo DEM. Bateu, no segundo turno, o então prefeito Marcelo Crivella (Republicanos). Paes conquistou 64,07% dos votos (mais de 1,6 milhão). Ele tomou posse em 1º de janeiro de 2021, sucedendo Jorge Miguel Felipe, que assumiu a prefeitura interinamente após a Justiça decretar a prisão e o afastamento de Marcelo Crivella em 22 de dezembro de 2020.
Na eleição presidencial de 2022, Paes apoiou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o mesmo que havia criticado duramente em eleições anteriores. O prefeito do Rio acabou pedindo desculpas.
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