BRASÍLIA - Apesar do amplo apoio da família Bolsonaro, que havia lhe garantido uma cadeira na Câmara em 2022, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) não conseguiu chegar ao segundo turno na corrida pela Prefeitura do Rio de Janeiro. 

A participação do ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados, além de recursos da ordem de R$ 26 milhões do PL, foram essenciais para a subida de Ramagem nas pesquisas de intenção de votos, mas insuficientes para evitar a reeleição de Eduardo Paes (PSD) no primeiro turno neste domingo (6).

Em seu primeiro programa no horário eleitoral, Ramagem afirmou que ele e seus eleitores eram vistos como “otários” nessas eleições. “Eles acham que as pessoas decentes, as pessoas de bem como você, são otários, são manés. Vamos mostrar que dessa vez nós, os otários, vamos vencer”, disse o deputado federal.

Ainda desconhecido de parte do eleitorado, ele fez questão de mencionar o padrinho político no programa, além de exibir uma identidade visual que lembra a do ex-chefe do Executivo, como na sigla “R22”. 

“Sou candidato a prefeito do Rio com o apoio do presidente Bolsonaro. Porque entendi que todos os problemas da nossa cidade têm a mesma origem: a malandragem dos políticos de sempre”, afirmou.

Além do ex-presidente, todos os integrantes do clã Bolsonaro, incluindo a ex-primeira-dama Michelle, fizeram campanha abertamente para Ramagem, inclusive participando de carreatas, comícios e peças publicitárias.

Deputado enfrenta acusação de montar uma ‘Abin paralela’

Delegado da Polícia Federal (PF) desde 2005, Ramagem, que tem 52 anos, fez parte da equipe da operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Atuou em operações da Copa do Mundo de 2014, das Olimpíadas de 2016 e da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente.

Ele também chefiou a equipe de segurança de Bolsonaro após a vitória dele para presidente da República, em 2018. Na época, o então presidente reforçou sua segurança por conta da facada sofrida em evento da campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG). Foi por meio desse contato que os dois viraram amigos. 

Como uma das pessoas de maior confiança de Jair Bolsonaro, antes de ser eleito deputado federal e candidato a prefeito, Ramagem foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo do ex-presidente. Segundo a PF, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PL) foi quem teria indicado Ramagem para a chefia da Abin.

Foi em sua gestão, entre julho de 2019 e abril de 2022, que a PF identificou o uso de um sistema de geolocalização de dispositivos móveis (GPS) sem a devida autorização judicial por servidores. 

Uma primeira operação sobre o caso, que ficou conhecido como “Abin paralela”, foi deflagrada pela PF em outubro de 2023, mas não teve Ramagem como alvo direto. 

Em 24 de janeiro de 2024, porém, ele foi alvo de um mandado de busca e apreensão, assim como Bolsonaro. Jornalistas, advogados, políticos e adversários do governo do ex-presidente estão entre as pessoas que foram monitoradas ilegalmente por um grupo de agentes da Abin, de acordo com a investigação.

Na época, a PF apontou ainda que servidores teriam usado o conhecimento sobre o uso indevido do sistema para coagir colegas e evitar a expulsão da Abin.

Em 2024, a Procuradoria-Geral da República (PGR) viu indícios de que Ramagem teria se corrompido para evitar a divulgação de informações sobre o uso do software de espionagem First Mile durante sua gestão no órgão, passando a ser investigado pela PF. O procurador-geral, Paulo Gonet, apontou o indício de pelo menos 10 crimes cometidos por ele. 

Após as operações da PF, Ramagem foi excluído do grupo de Whatsapp da oposição e do PL no Congresso. Parlamentares bolsonaristas não gostaram de saber que ele havia gravado uma reunião do ex-presidente em que foi tratada a investigação sobre o caso das “rachadinhas” envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). 

A gravação mostra Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem e advogadas de Flávio discutindo, em 2020, um monitoramento contra auditores da Receita Federal responsáveis pela investigação sobre uma suposta “rachadinha” no gabinete do senador e filho do ex-presidente quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro.

Ramagem não negou ter gravado tal reunião, mas sempre negou as irregularidades apontadas durante sua gestão na Abin. Jair Bolsonaro e filhos também saíram em defesa dele. Tanto que deram aval à sua candidatura à Prefeitura do Rio.

Bolsonaro tentou nomear Ramagem como diretor-geral da PF

O ex-presidente da República também tentou nomear Ramagem como diretor-geral da PF em 2020. O ato, no entanto, foi anulado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A ocasião marcou a saída do ex-juiz Sergio Moro, hoje senador, do comando do Ministério da Justiça, que chefia a PF. 

Na decisão, Moraes citou declarações de Moro em que acusou Bolsonaro de tentar interferir politicamente na corporação. Em abril de 2020, Bolsonaro comentou sobre a proximidade de Ramagem com sua família e a tentativa de colocá-lo como chefe da PF. “Ele ficou novembro e dezembro, praticamente, na minha casa. Dormia na casa da vizinha, tomava café comigo, aí tirou uma fotografia com todo mundo. Foi no casamento de um filho meu (Carlos)”, contou.

“Não tem nada a ver a amizade dele com o meu filho, meu filho conheceu ele depois. E eu confio, passei a acreditar no Ramagem, conversava muito com ele, trocava informações. Demonstrou ser uma pessoa da minha confiança, então a partir do momento que eu tenho uma chance de indicar alguém pra PF, por que não o indicaria?”, acrescentou o ex-presidente.

Como deputado federal, Ramagem faz parte do grupo que articula uma oposição ferrenha, tanto política quanto ideológica, ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O parlamentar integra as ofensivas feitas pelo grupo, especialmente em redes sociais.

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