Preterido pelo ex-prefeito Alexandre Kalil (sem partido), o prefeito de Belo Horizonte e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD), 77 anos, alcançou o 2º turno das eleições alavancado pelo segundo maior tempo de rádio e TV no horário eleitoral gratuito e com o voto útil de eleitores dos deputados federais Duda Salabert (PDT) e Rogério Correia (PT). Com 34,45% dos votos válidos no 1º turno, com 93,24% das urnas apuradas o prefeito enfrentará o deputado estadual Bruno Engler (PL), que tem 34,45%, para tentar ser reconduzido ao cargo.
Fuad enfrentou desde problemas pessoais até dificuldades político-partidárias para viabilizar a candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O prefeito conciliou a campanha ao tratamento de um linfoma não Hodgkin, que, como a leucemia, é um câncer no sangue. Desde o anúncio da doença, em julho, o candidato à reeleição faz, de 21 em 21 dias, sessões de quimioterapia. Em razão do tratamento, ele ficou com o cabelo e o bigode ralos.
Antes mesmo do diagnóstico, uma cisão do PSD de Minas Gerais pôs em xeque a candidatura de Fuad à reeleição. Sob ameaças de impeachment, a aliança costurada pelo prefeito para levar o grupo do secretário chefe da Casa Civil de Zema (Novo), Marcelo Aro (PP), para a base do governo na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) incomodou a ala do PSD encabeçada pelo deputado federal Luiz Fernando Faria.
A indicação de quatro secretários por Aro para o gabinete de Fuad incomodou a ala de Luiz Fernando, já que, ao contrário do secretário de Zema, o PSD não tinha espaço na PBH. Coordenador da bancada mineira na Câmara dos Deputados, o pessedista chegou a insinuar que o prefeito deveria ser expulso ou, então, desembarcar do partido. Sem alternativas a Fuad para lançar na corrida, o PSD garantiu a candidatura dele amparado na boa avaliação da administração junto aos eleitores.
Além de causar uma fratura no PSD, a aproximação entre Fuad e Aro rendeu ao prefeito um desgaste incontornável com Kalil. Apesar de ter feito acenos públicos ao ex-prefeito para atraí-lo, o antigo aliado optou por apoiar o principal adversário, Mauro Tramonte (Republicanos). Mesmo após se reunir em Brasília com o presidente estadual do PSD, Cássio Soares, e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o ex-prefeito declinou, se desfiliou do partido e embarcou na campanha de Tramonte.
A decisão de Kalil sacramentou a indicação do vereador Álvaro Damião (União) como candidato a vice-prefeito de Fuad. A princípio reticente a aceitar o convite com o receio de ficar o mandato caso o prefeito fosse derrotado, Damião chegou a vice com a promessa de alavancar o nível de popularidade do candidato à reeleição. O candidato a vice-prefeito, que está próximo de encerrar o segundo mandato como vereador, é apresentador de rádio e TV em Belo Horizonte.
A indicação de Damião como vice levou o União Brasil a ser o principal doador da campanha de Fuad. Dos R$ 18,4 milhões que o prefeito declarou ter recebido à Justiça Eleitoral até a última quinta-feira (3 de outubro), R$ 7,5 milhões vieram do diretório nacional do União, o que corresponde a, aproximadamente, 41%. Em termos de comparação, o próprio PSD doou R$ 5,1 milhão, valor que é de cerca de 27% dos valores arrecadados.
A chegada do União Brasil ainda ajudou Fuad a ter o segundo maior tempo de rádio e TV, atrás apenas do deputado estadual e candidato Bruno Engler (PL). Com dois minutos e 34 segundos, mais 757 inserções, por dia, o prefeito utilizou o horário eleitoral gratuito para se tornar mais conhecido. Entre agosto e setembro, segundo a pesquisa DATATEMPO (TRE-MG-04866/2024), o nível de conhecimento do candidato aumentou dez pontos percentuais após o início da veiculação do programa eleitoral.
Sem Kalil, Fuad utilizou as obras da PBH como padrinho da candidatura. Em diversos programas, a campanha utilizou o mote “Fuad fez, Fuad faz”. “Antes, não tinha internet grátis em todas as vilas e favelas de BH. Agora tem. Antes não tinham grandes obras com as enchentes. Agora tem. Antes não tinham 280 contenções de encostas em áreas de risco. Agora tem. Antes não tinha uma nova maternidade sendo feita. Agora tem”, diz um dos programas veiculados nos últimos dias.
A utilização das obras da PBH provocou trocas de farpas públicas entre Fuad e Kalil durante a reta final da campanha. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o ex-prefeito chegou a apontar que falar que o candidato à reeleição fez qualquer obra é “uma piada de salão”. Em resposta ao ex-aliado, o prefeito, no mesmo dia, disse que a postura de Kalil é “desespero de quem é candidato a nada” e que o próprio ex-prefeito teria lhe designado para coordenar uma supersecretaria de obras.
Atrás de uma vaga no 2º turno, Fuad, que, desde o início da campanha, aglutinou dissidentes de partidos como o PV e a Rede, que formalmente apoiam a candidatura do deputado federal Rogério Correia (PT), recebeu em mãos um manifesto de 532 lideranças do campo progressista por voto útil. O documento reuniu, por exemplo, outros nomes do PV e da Rede, assim como de quadros do PT, do PSOL, do PDT e do PSB.
O embarque de lideranças progressistas na campanha de Fuad foi provocado pelo mau desempenho eleitoral de Rogério e da deputada federal Duda Salabert (PDT), que pulverizaram o campo da centro-esquerda e da esquerda em Belo Horizonte. Inclusive, a postura de Rogério e Duda ao longo da campanha incomodou a campanha do prefeito, já que, internamente, os dois adversários, cujos partidos tiveram cargos na PBH, eram avaliados como os mais agressivos contra o candidato à reeleição.
Agora, no 2º turno, a expectativa de Fuad é ter o apoio formal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à candidatura. Com a prerrogativa de prefeito, o candidato à reeleição ensaiou uma agenda com Lula na reta final da campanha em Brasília para tentar colar a sua imagem à do presidente, uma vez que o apoiou em 2022. Entretanto, o chefe do Executivo federal, que optou por se manter distante das eleições de Belo Horizonte durante o 1º turno, delegou apenas o segundo escalão para recebê-lo.
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