A cidade menos populosa de Minas Gerais, Serra da Saudade, na região Centro-Oeste de Minas Gerais, é governada há quase 20 anos pela mesma família. Lá, onde moram apenas 833 habitantes, o ex-casal Neusa Ribeiro e Alaôr Machado, ambos do Partido Progressista (PP), se alternam na administração municipal desde 2000.
Neusa Ribeiro, 66, é advogada e busca seu terceiro mandato como prefeita. Ela já governou Serra da Saudade de 2009 a 2012 e foi reeleita para o período de 2013 a 2016. No primeiro mandato, ela foi eleita com 448 votos (62%). Na reeleição, não houve concorrentes. Este ano, ela tenta assumir o lugar do seu ex-marido, que atualmente ocupa a posição de prefeito.
Na disputa pela prefeitura, há apenas outro concorrente. O lavrador Derli Donizete da Costa, 67, filiado ao Avante, tenta pela terceira vez romper o ciclo envolvendo o ex-casal. No último pleito, em 2020, Derli conseguiu apenas 99 votos. O atual prefeito Alaôr venceu com 864 votos.
Curiosamente, o número de votos supera o de moradores. Isso porque muitos dos eleitores não residem no município. Dados da última estimativa do IBGE apontam que a cidade tem 1.294 eleitores, 55% a mais do que o total de moradores.
A alternância de poder entre Neusa e Alaôr tem sido uma constante em Serra da Saudade. Alaôr governou a cidade de 1993 a 1996, retornou ao cargo em 2000 e foi reeleito em 2004. Assumiu o lugar da ex-mulher de 2017 a 2020, sendo novamente reeleito para o período de 2021 a 2024. Ambos defendem os mesmos projetos para a cidade, o que reflete a estabilidade política de Serra da Saudade, onde a continuidade administrativa é uma marca registrada.
A reportagem de O TEMPO entrou em contato com a assessoria da candidata e fez um pedido de entrevista, que foi negado com a justificativa de problema de saúde familiar. “Neusa disse que está com a mãe com problemas de saúde. E está cuidando dela. Então, está cansada, quase sem dormir”, respondeu por mensagem a assessoria da Prefeitura de Serra da Saudade.
Saiba mais sobre a cidade
Serra da Saudade está localizada na região Centro-Oeste de Minas Gerais, a cerca de 250 km de Belo Horizonte. A cidade tem apenas dois bairros: São Geraldo e Centro.
O tamanho, no entanto, não afeta a qualidade de vida. De acordo com a prefeitura, o município oferece uma infraestrutura básica para seus moradores, incluindo uma escola municipal, um posto de saúde, uma creche e um parque de exposições para feiras e eventos.
Além disso, o município conta com uma academia, uma praça de esportes, um ginásio poliesportivo, e internet Wi-Fi gratuita disponível nas praças de lazer para a população.
As reivindicações dos moradores são por remédio e combustível. O menor município de Minas não tem farmácia nem posto de combustíveis. Para conseguir abastecer os veículos e comprar medicamentos, a população precisa percorrer cerca de 12 km, até o comércio mais próximo.
Incoerência na declaração de bens
Quando ocupou pela última vez o Executivo em Serra da Saudade, em 2012, Neusa Ribeiro declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de R$ 1,2 milhão. Em 2024, esse valor caiu para R$ 708 mil, mesmo ela tendo declarado os mesmos bens e ainda tendo adquirido mais dois imóveis.
Na lista de bens declarados no último pleito apareciam uma casa em Dores do Indaiá, no valor de R$ 350 mil, que passou a valer R$ 26 mil na declaração deste ano. Uma fazenda em Serra da Saudade, de R$ 750 mil, em 2012, caiu para cerca de R$ 7.000.
Procurada para comentar a incoerência dos dados, Neusa foi representada pelo filho, que é advogado. “São bens que são dela antes de ocupar a prefeitura. Este ano declaramos com base no Imposto de Renda”, disse Machado. Sobre a fazenda declarada em aproximadamente R$ 7.000, ele admitiu que vale mais de R$ 1 milhão.
A título de comparação, o candidato Derli Donizete da Costa (Avante) declarou um patrimônio total de R$ 400 mil, entre imóveis e um veículo.