A melhoria da mobilidade urbana, com ônibus de maior qualidade e redução dos congestionamentos, está na mira de todos os planos de governo dos candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte. Três deles – Duda Salabert (PDT), Fuad Noman (PSD) e Gabriel Azevedo (MDB) – citam diretamente a construção de BRT na avenida Amazonas, que corta a região Oeste, em seus 9 km de extensão. 

De acordo com a PBH, na via, circulam por hora cerca de 800 ônibus municipais e metropolitanos nos dois sentidos. Somando idas e voltas, são 65 mil passageiros transportados.

Duda promete também a substituição da frota atual por veículos elétricos. Ela destaca a necessidade de oferecer ônibus de qualidade durante o horário noturno, melhorando a segurança e o conforto dos usuários nesse período. Candidato à reeleição, Fuad também planeja introduzir ônibus elétricos e renovar toda a frota pelo modelo sustentável até 2030. 

Já Gabriel defende a ampliação e a modernização da rede de transporte coletivo. Ele quer integrar diferentes modais, como ônibus, metrô e ciclovias, com o objetivo de reduzir congestionamentos na capital.

Bruno Engler (PL) pretende, se eleito, implantar sistemas de controle de tráfego mais modernos, utilizando inteligência artificial para melhorar o fluxo de trânsito e reduzir os congestionamentos. Ele também quer melhorar a cobertura e a frequência das linhas de ônibus, com um foco especial em áreas carentes e na integração com outras formas de transporte. 

Carlos Viana (Podemos) propõe fiscalizações rigorosas nos ônibus com equipes especializadas, além de uma revisão completa do sistema de coletivos da capital. Promete ainda aumentar a frequência das linhas e reduzir o tempo de espera.

Mauro Tramonte (Republicanos) propõe medidas enérgicas de fiscalização para evitar ônibus quebrados ou em más condições, garantindo que as viagens programadas sejam realizadas pontualmente. Além disso, Tramonte quer implantar 50 km de vias exclusivas ou prioritárias para o transporte coletivo.

Entre as propostas de Rogério Correia (PT) para a mobilidade estão o investimento em pontos de ônibus mais seguros e acolhedores, que ofereçam maior conforto aos passageiros. Ele diz que o transporte coletivo será prioridade em seu governo.
Para o professor do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG Guilherme Leiva, investir no transporte coletivo em BH é fundamental.

“No caso dos corredores de BRT, temos dois só para a zona Norte, que são os das avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado. Só que a gente tem uma demanda altíssima nesse sentido Leste/Oeste, que são atendidos pela avenida Amazonas”, destaca. 

A mobilidade urbana é o maior problema para 26% dos belo-horizontinos, segundo a pesquisa DATATEMPO (TRE-MG 08627/2024), feita em agosto. 

Outros três candidatos apresentaram projetos para  mobilidade

Wanderson Rocha (PSTU)
Propõe interromper contratos com empresas privadas que possuem a concessão do transporte coletivo e a reestatização do metrô.

Indira Xavier (UP)
Sugere o congelamento imediato da tarifa do transporte e a reestatização das empresas de transporte coletivo (ônibus e metrô).

Lourdes Francisco (PCO)
Pretende criar uma empresa estatal de transporte e integrar todo o sistema, além de conceder gratuidade para a população

Faltam detalhes nos projetos

Se, por um lado, os planos de governo dos candidatos à Prefeitura de BH contemplam melhorias desde a mobilidade urbana até setores historicamente críticos na cidade, como saúde, segurança e educação, eles não especificam como as promessas vão sair do papel. Para especialistas, a falta de detalhes mínimos, como qual região vai ter prioridade, locais em que o problema é mais comum e como vão levantar recursos, deixa os planos de governo não só iguais como genéricos. 

“E vão ser mesmo porque, com exceção de Fuad Noman, que já é prefeito, os outros concorrentes não têm experiência administrativa ainda”, afirma o cientista político Carlos Ranulfo. “Seja sobre vias exclusivas para ônibus, seja, por exemplo, um programa para pessoas em situação de rua, boa parte dos candidatos não tem dimensão dos problemas, nem quanto custa resolver. Em muitos casos, nem mesmo a prefeitura”, acrescenta o também cientista político Wanderlei Reis.

Ele destaca que o plano de governo é um documento obrigatório para todos os candidatos e que a ferramenta é uma declaração de intenções. “Um plano de governo bem-pensado é feito por uma equipe que agrega conhecimento técnico. Planos que aparecem genericamente ou propondo soluções mágicas, esses não são confiáveis”, avalia Reis.

Na avaliação de Ranulfo, o eleitor também tem sua parcela de responsabilidade: “O eleitor não é uma pessoa bem-informada. Ele se informa superficialmente durante a eleição. Ele vota por conhecer (o candidato) ou promessa de algo que seja sua prioridade. É raro que se interessem em ler as propostas de governo”.

Usuários demonstram preocupação com a medida

Quem usa a avenida Amazonas e redondezas demonstra preocupação com a ideia de implantação do BRT. A comerciante Camila de Paula Carneiro, 36, mora e tem um comércio no bairro Nova Suíça, e teme que a medida tenha impactos negativos. “O trânsito aqui é péssimo, entre 16h e 19h é terrível. O BRT traria mais trânsito, diminuiria uma pista e ficaria muito veículo. Não tem pista que comporte o Move aqui, o interessante seria ampliar a avenida Amazonas e fazer uma nova pista, mas acho que seria inviável”, opina. 

O gerente Júlio dos Santos Sales, 37, está acostumado a pegar ônibus diariamente na Amazonas, também na altura do bairro Nova Suíssa, onde trabalha, e também discorda do BRT no local. “Acho que vai bagunçar mais, ter risco de acidente no horário de pico. Não é uma boa ideia, pois a avenida Amazonas tem um fluxo intenso de veículos"m disse. Ele pega os coletivos para se deslocar entre o trabalho e a casa, no bairro Nova Gameleira.

Apesar de também entender que o BRT na avenida Amazonas vai piorar o trânsito na via, a auxiliar de serviços gerais Renata Aparecida Cordeiro, 34, enxerga um lado positivo no projeto. Moradora do bairro Cabana do Pai Tomaz, ela trabalha no bairro Calafate e entende que muitos usuários do transporte coletivo que moram na região Oeste podem ser beneficiados.  

“O Move tem acesso ao centro e não fica tão parado. Dependendo do horário e do trajeto do BRT, é até mais rápido para chegar ao centro”, disse. Questionada se aprovaria ou não a implantação do BRT na Amazonas, Renata fica dividida, por causa dos impactos que ela acredita que serão causados no trânsito, mas dá sinal verde para a implantação do projeto. 

“Eu sou a favor, pois vai beneficiar não só a mim como outras pessoas que trabalham mais longe que eu, apesar desse prejuízo que ia trazer para o trânsito”, avalia.  (Com Bruno Daniel)