As pessoas o reconhecem na rua nem tanto pela imagem, mas pela voz. Foram 12 anos de programa ao vivo de jornalismo no rádio. Depois, Carlos Viana migrou para a televisão e se consolidou como um dos comunicadores mais conhecidos de Belo Horizonte. Na política, ele estreou em 2004, disputando para vereador, mas não ganhou. Em 2018, chegou a um dos cargos mais cobiçados e disputados, depois da Presidência da República: o de senador. Candidato à Prefeitura de Belo Horizonte, o senador, hoje licenciado, recebeu a reportagem de O TEMPO em seu apartamento, no bairro Serra, região Centro-Sul. 

Viana abriu a porta para nossa equipe já com um convite para experimentar o café que ele mesmo havia passado. Entre uma xícara e outra, falou sobre seu gosto pela bebida e revelou a receita: pó de café na cor marrom, água sem ferver e coador de pano. As poltronas azuis na varanda foram a primeira escolha de local para fazer a entrevista, mas o barulho da rua impediu. O edifício, com revestimento de vidro espelhado, fica de frente para a avenida do Contorno. No apartamento, o político mora com a esposa, Solange, com quem é casado há 37 anos, e uma cachorrinha da raça yorkshire. O casal tem dois filhos, Isabela, de 35 anos, e Samuel, de 32, deputado federal.

O bate-papo foi na sala. Sentado no sofá, Carlos Viana contou sobre suas origens e trajetória. O candidato do Podemos nasceu em Braúnas, na região do Rio Doce, mas passou boa parte da infância em Bom Sucesso, no Sul do Estado. Mudou-se para Contagem, na região metropolitana, na adolescência, e depois para Belo Horizonte. O pai era motorista, e a mãe, dona de casa, mas depois virou artesã. “Comecei a trabalhar aos 12 anos, fui engraxate. Aos 14, fui office boy no BDMG e, daí pra frente, tive uma trajetória de 35 anos na iniciativa privada. Sou especialista em logística de transporte rodoviário e aéreo”, diz.

No jornalismo, Viana começou aos 32 anos. “Sou um caso raro. Entrei para a Rede Minas, trabalhava lá, das 7h às 14h, e em O TEMPO, das 15h às 22h. Era uma carga muito pesada, mas eu precisava dessa carga para aprender, porque comecei no jornalismo tarde”, comenta. O jornalista, formado pelo UniBH, passou pelas maiores emissoras de TV do país e, depois, foi para o rádio. “Eu sempre gostei de ser repórter. Cobrir matérias de cidades, para mim, sempre foi uma paixão muito grande. Posso dizer que eu aprendi a ser perito criminal trabalhando com os peritos. Aprendi a investigar trabalhando com os policiais”, conta.

De repórter, passou a apresentador. “Sempre falei que o apresentador é o fim de linha do repórter. Você apresentar o jornal sem ter experiência de rua é tentar amadurecer antecipadamente e colocar sua carreira em risco. O grande apresentador é aquele que sabe tanto a visão do repórter quanto a dos fatos que estão acontecendo lá”, analisa. Viana se aposentou do jornalismo em 2018, depois de 23 anos dedicados à profissão. “Quando decidi encerrar minha carreira como jornalista, falei: ‘vou para a política. Se for eleito, vou me dedicar. Se não for eleito, eu vou buscar outra caminhada.’”

Carlos Viana foi eleito de primeira, com mais de 3,5 milhões de votos. “Os bastidores são completamente diferentes das colunas de política, porque só se divulga o que se quer divulgar. Isso foi um dos primeiros pontos que aprendi. A segunda coisa é que o sistema é bruto. O sistema não deixa entrar quem não pertence a ele, quem não concorda e quem não se deixa comandar, por quem não aceita as regras”, comenta, ao falar como foi mudar de noticiador para notícia.Ele afirma ter tido dificuldade para encontrar partido para sair candidato à PBH “por não se aceitar vender”.

Evangélico há 32 anos, Viana se define como um político de centro-direita. “Sou de direita e liberal, sou o capitalismo, defendo a família, sou conservador. Então, a minha visão é de direita. Agora, não é uma visão impositiva como a extrema direita. Aceito as diferenças para que eu seja respeitado”, diz o candidato do Podemos. Filho dele, Samuel Viana também entrou para a política e foi eleito deputado federal, em 2022.

Antigo aliado de Bolsonaro, Carlos Viana diz que o país precisa de novas lideranças. “Bolsonaro, naquele momento, encampava todos os nossos princípios, especialmente os princípios evangélicos. Hoje, defendo que a direita tenha novas vozes. Bolsonaro, a meu ver, já deu a contribuição dele, mas não vai voltar para a política porque está cassado”, analisa. Para BH, Viana quer trazer sua experiência na capital federal. “Tanto o 13º quanto o Cartão Cidadão, por exemplo. BH teria dinheiro para fazer isso, porque o governo federal vai criar esse programa. Hoje sei onde buscar o dinheiro em Brasília”, disse, ao defender a viabilidade de suas principais promessas de governo. 

Bate-pronto

Em qual candidato (a) foi seu primeiro voto?

 Votei em Fernando Henrique Cardoso.

O que faz nos momentos de lazer?

Gosto de andar, é o meu exercício preferido, o que eu posso fazer, porque tenho uma deficiência no pé direito, e não posso correr. Gosto de andar em áreas verdes, isso me ajuda a pensar e a desestressar.

Qual último livro que leu?

 ‘O esplêndido e o vil: uma saga sobre Churchill, família e resistência’ (Erik Larson).

Qual é seu estilo musical preferido? 

Gosto muito de sertanejo, mas o sertanejo mais modão não é o de hoje, meio funk.

Qual é seu prato predileto? 

Frango com quiabo

Cheiro da infância?

O perfume que a minha mãe usava. Minha irmã ainda tem até hoje um pouquinho dele.

Defina política em uma frase

É preciso coragem, muita coragem.

Por que quer ser prefeito de BH?

Porque eu saí de uma família muito simples, de um lugar muito simples. Tive oportunidades em escola pública. Cresci porque todas as vezes que aparecia uma porta profissional, eu abraçava aquilo de uma maneira muito firme e fui crescendo ao longo da vida. Se hoje, eu que saí dessa história, me tornei um senador, estou entre os 81, gostaria que meninas e meninos que nascem em favelas um dia possam ser senador. Ou mais do que eu, ser presidente.

Disputa pela PBH

No primeiro semestre de 2023, Carlos Viana manifestou publicamente o interesse em concorrer à prefeitura, e começaram as articulações no Podemos em meio às atividades como senador para ser o candidato da sigla. Enfrentou algumas crises com a direção do partido, como a disputa pela definição de quem seria a vice. Deixou a presidência municipal para focar a campanha. Sempre reforça que é o único candidato evangélico e defende temas como a expansão do metrô.