Por trás do político de 77 anos que ocupa, há dois anos e meio, o mais alto cargo do Executivo de Belo Horizonte, há um contador de histórias apaixonado pela família. Convidado por O TEMPO a revelar um pouco da vida pessoal, o prefeito e candidato à reeleição, Fuad Noman (PSD) – que, além de economista, é autor de três romances publicados –, resgatou na memória detalhes da infância, o primeiro emprego, no restaurante do pai, a trajetória como militar do Exército e o caminho no serviço público até o comando de uma capital, em 2022. 

A entrevista, que durou 35 minutos, cronometrada por assessores, foi concedida antes de uma coletiva. A agenda apertada, dividida entre compromissos como prefeito e candidato, foi a justificativa para que o bate-papo ocorresse na sede do Executivo, e não em casa. Por um mês, a reportagem negociou um tempo com o candidato. “Foi uma questão de oportunidade de agenda. Preferi fazer aqui a não fazer”, justificou. Logo nos primeiros minutos, Fuad lembrou da mãe, que morreu quando ele ainda era criança. “Minha mãe morreu muito cedo. Eu tinha 8 anos. Acabei sendo criado pelo meu pai. Ele era garçom. Comprou um restaurante, e com 13 anos comecei a trabalhar no restaurante”, conta.

De origem síria, Fuad é belo-horizontino, nascido na região Noroeste, filho de Fuad Jorge Noman e Olga Nur Jorge. No celular guarda a reprodução de uma das últimas fotos que fez ao lado da mãe, na década de 1950 – na imagem em preto e branco, o pequeno Fuad já aparecia de suspensórios, acessório que se tornou uma marca dele. Hoje são mais de 40 no guarda-roupa. “A questão do suspensório para mim é um conforto. Se colocar um cinto, aperta muito a barriga e fica desconfortável”, explica, ao contar que o escolhido no dia da entrevista era novo, comprado pela mulher, Mônica Drummond.

O estabelecimento em que Fuad começou a trabalhar aos 13 anos foi o tradicional Taberna Azul, na rua Espírito Santo, centro de BH. Ele lembra que “trabalhava feito um danado”, fazendo compras, limpando o chão, lavando os copos e abastecendo a geladeira. Por causa do trabalho, chegou a interromper os estudos no então Colégio Arquidiocesano, mas retomou no Colégio Padre Eustáquio. Aos 18 anos, largou o restaurante do pai e ingressou no Exército, onde ficou por 11 anos, até chegar a terceiro-sargento.

Daquele período, expõe com orgulho a reprodução de uma “referência elogiosa” concedida pelo então comandante da Primeira Companhia de Fuzileiros do 12º Regimento de Infantaria. No documento, pendurado na parede do gabinete, Fuad é descrito como “um militar eficiente, entusiasmado e dedicado”. 

Foi nessa época que conheceu Mônica, com quem é casado desde 1972 e tem dois filhos. “Paulo Henrique e Gustavo são duas joias que Deus me deu”, enaltece Fuad, que tem quatro netos – três garotos e uma menina. “Tenho por minha família um amor muito especial. São filhos que só me deram alegria e netos maravilhosos”, elogia. Ele só lamenta o fato de todos morarem em São Paulo, situação que o impede de estar todos os domingos almoçando com a família inteira.

Vida pública

Apesar da experiência como militar, foi no serviço público que construiu carreira. Graduado em economia, foi servidor concursado do Banco Central e ocupou cargos técnicos nos governos federal e de Minas. Em BH, chegou à prefeitura em 2017, quando foi nomeado secretário municipal de Fazenda pelo ex-prefeito Alexandre Kalil (sem partido). 

Também foi naquele ano que escreveu o “O amargo e o doce”, primeiro romance de suas três obras. O livro fala de um coronel do interior que, na década de 1950, não admitia o filho homossexual. “É uma discussão social”, diz. Eleito vice-prefeito de BH em 2020, herdou a cadeira de chefe do Executivo em 2022, quando Kalil deixou o segundo mandato para disputar a eleição para o governo de Minas. “Aí eu pude ver coisas que eu não tinha visto até então, como o trabalho que eu fazia refletido nos olhos e na vida das pessoas. Vi como o trabalho do prefeito pode melhorar a vida das pessoas, e isso entusiasma”, declara. 

Câncer

Diagnosticado com linfoma não Hodgkin – tipo de câncer que afeta o sistema linfático – durante a pré-campanha, Fuad explica que a decisão de não abandonar a disputa eleitoral foi tomada com base no apoio dos familiares e na fé. “Conversei com a minha família, mas, principalmente, conversei com Deus. Conversei com Padre Eustáquio, de quem sou devoto. E eles me disseram: ‘escolhe seu caminho e nós te apoiaremos em tudo’. Eu resolvi ir à luta, porque não posso me entregar. Tenho muita fé. Deus fala: se você fizer sua parte, eu te ajudo”, afirma Fuad, ao reforçar que está bem e que os exames estão “ótimos”.

Bate-pronto

Em qual candidato(a) foi seu primeiro voto?

Faz muito tempo, uns 50 anos. Não lembro. Mas meu sogro era político do interior de Minas e tinha deputados que eram amigos dele. Ele mandava: ‘Vota no fulano’. A gente obedecia.

O que faz nos momentos de lazer?

Adoro ir para o sítio. Gosto de pescar, descansar, cuidar do galinheiro e colocar ovos na chocadeira. Adoro coisas do interior, de fazenda. Mas gosto muito de ler. Gosto muito de escrever. Tenho pequenos grandes hobbies.

Qual o último livro que leu?

Estou lendo “Anna Karenina” (Liev Tolstói). Eu era doido para ler e estou adorando.

Qual é seu estilo musical preferido?

Bossa Nova. Chico Buarque, Gilberto Gil, dessa turma toda eu gosto. 

Qual é seu prato predileto?

Cheio. Carne moída com angu e couve. Costelinha com polenta. Gosto de frango ensopado, da comida mineira tradicional.

Cheiro da infância?

Lembro que minha mãe ia ao mercado comprar as coisas para o restaurante e comprava as frutas da época em grande quantidade. Lembro do cheiro da manga, da goiaba do quintal.

Defina política em uma frase.

A capacidade de melhorar a vida do povo.

Por que quer ser prefeito de BH?

Quero concluir as obras que comecei e acho que tem muita coisa nova para ser feita. Não sou homem de deixar nada pela metade. Se a população de BH estiver satisfeita, espero que ela possa nos dar uma nova oportunidade.

Disputa pela PBH

Fuad Noman teve sua pré-candidatura oficializada em fevereiro deste ano. Em 2023, enfrentou algumas resistências dentro do partido. Parte do PSD não defendia o nome dele para a disputa. Um dos desafios desde a pré-candidatura tem sido se tornar mais conhecido entre os eleitores. Em relação a isso, Fuad defende que ‘o que importa são as obras’. Na campanha, tem tentado mostrar ao eleitor o que a prefeitura tem feito para melhorar a vida de quem mora em Belo Horizonte.