Por 16 anos, ele apresentou um programa diário de prestação de serviços, notícias policiais e fofoca, na Record Minas. A fama com o “Balanço Geral” foi o passaporte para a estreia de Mauro Tramonte (Republicanos) na carreira política, como deputado estadual. O candidato conversou com a reportagem de O TEMPO em uma padaria na rua Bárbara Heliodora, no bairro Lourdes, na região Centro-Sul de BH.

O pedido foi para que a entrevista fosse em sua casa, como ocorreu com os outros candidatos, mas ele preferiu o estabelecimento. “Preferi vir aqui. Um ambiente aberto, acho que em casa fica um negócio muito fechado, e eu sou muito assim do povo, sou da rua”, justificou Tramonte, sentado a uma mesa redonda cuidadosamente arrumada pelos funcionários da padaria do bairro nobre de Belo Horizonte.

Tramonte mora na região e diz que é ali que ele toma café da manhã todos os dias. Na conversa de 46 minutos, o candidato contou que é natural de Poços de Caldas, no Sul do Estado, e sua mudança para a capital mineira ocorreu em 2008. “Aconteceu um fato no Sul de Minas que o Brasil inteiro viu. E a Record também viu. Aí, me chamaram para fazer um teste lá em São Paulo, em 2007. Em 2008, me contrataram para Minas”, disse. Na época, ele apresentava um programa parecido com o que ele assumiu na emissora evangélica.


 

Família e trabalho

Tramonte, de 63 anos, é casado e tem três filhos. Um deles é fruto do seu primeiro casamento, e os outros dois, da atual mulher, com quem está há 42 anos. A carreira bem-sucedida de comunicador e político, segundo ele, é resultado de muita dedicação e esforço. O pai era taxista, e a mãe vendia frango frito para bares e lanchonetes de Poços de Caldas. “Depois, ela começou a vender roupa. Era uma vida muito sofrida, porque meu pai, depois de certa época, passou a ser usuário de álcool”, conta. O trabalho na vida do comunicador também teve início cedo. “Com 14 anos, comecei a trabalhar em uma borracharia e, com 15, fui para um lava a jato”, conta.

No currículo, traz experiências em diferentes ramos. “Meu primeiro contato com televisão foi quando trabalhei numa empresa que instalava antena em telhado”, diz o comunicador, que também foi funcionário público do Estado. “Trabalhava numa delegacia, fazendo documentos de trânsito”, acrescenta. A estreia na imprensa ocorreu sem formação superior. “Comecei como repórter, tinha 17 anos. Meu cunhado fez um jornal que se chamava ‘O Mordaz’. A gente falava de política, e não era muito permitido falar naquela época. Depois eu parei e só voltei em 1993, quando comecei a fazer rádio”, lembra o candidato à prefeitura.

Tramonte é formado em direito, curso que, segundo ele, só foi possível fazer com a ajuda financeira de um primo. “Ele pagava metade, e eu, a outra. Minha cidade não tinha faculdade de direito, então tinha que ir para São Paulo. Eram 90 km por dia, de segunda a sábado. A prefeitura, na época, fornecia o ônibus pra gente”, conta o candidato do Republicanos.

Sem formação superior na área de comunicação, Tramonte diz que a carreira de apresentador veio por acaso. “Lembro que um colega chegou pra mim e falou: ‘Você não quer fazer rádio? Você tem perfil’. E me levou um dia para fazer. Começou do meu lado e foi me ensinando. Eu ia falando na rádio, no microfone ao vivo, e comecei a gostar. Em um mês, estava fazendo o programa sozinho. Aí estourou. As pessoas começaram a me abraçar, como abraçam até hoje”, conta. Do rádio foi para a TV, na qual se estabeleceu como apresentador.

A carreira política começou em 2018. Com mais de 500 mil votos, Tramonte conquistou uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas, sendo o deputado mais votado naquele pleito. Em 2022, foi reeleito com pouco mais de 100 mil. Ele credita a queda na votação à polarização política. “Não tive apoio de presidente, não tive propaganda com o governador. Então, essa perda de voto que aconteceu, acho muito natural. A gente esperava isso”, comenta.

Tramonte deixou o cargo que ocupava na Record, em maio deste ano, mirando a candidatura. Até então, o deputado estadual se dividia entre as duas funções. E, por isso, foi alvo constante de críticas por sua baixa participação no plenário. Seu programa na TV começava no fim da manhã e se estendia pela tarde, mesmo horário em que ocorrem as votações na Assembleia. “Meu trabalho é medido pelo resultado. Em todas as votações importantes, estive presente e votei com coerência. Tenho a satisfação de dizer que nós fizemos mais de mil proposições. Apresentamos 78 projetos de lei, 18 viraram leis”, afirma. Ele se define como um político de centro. “Não sou nem de direita, nem de esquerda. Esse tipo de polarização prejudica muito”, diz, destacando que o seu lado é o do povo.

“Como apresentador, sempre me posicionei firme em cobrar aquilo que tem que ser mudado, cobrar de quem precisa ser cobrado, seja em qualquer esfera. E levei isso para a política. Defendo principalmente os mais humildes”, conclui.

 

Bate-pronto

Em qual candidato(a) foi seu primeiro voto?

Eu tinha 18 anos, não me lembro mais. Mas já deve ter morrido todo mundo.

O que faz nos momentos de lazer?

Gosto de escutar música, sou bem eclético. Tem dia que eu gosto de sertanejo, tem dia que ouço samba, música clássica. Mas também gosto de pescar e de bater papo com os amigos, coisas simples.

Qual último livro que leu?

“Água para elefantes” (Sara Gruen).

Qual é seu estilo musical preferido?

Sertanejo e samba.

Qual é o seu prato predileto?

Frango. Pode ser assado, frito, ensopado, de qualquer jeito.

Cheiro da infância?

Eu morava em uma casa que viviam 15 pessoas no mesmo espaço. Então, tinha cheiro de bolo, de pão porque todo mundo tinha que fazer alguma coisa. Meu cheiro de infância é desse tudo de família.

Defina política em uma frase.

É a arte de governar em benefício do povo, não a si próprio.

Por que quer ser prefeito de BH?

Passei 16 anos na televisão, não só vendo, mas presenciando, sabendo dos problemas do povo. Então, estou muito preparado para o cargo de prefeito. Sei que são desafios fortes, mas vou fazer uma equipe muito técnica. Não vou ser um prefeito sentado em gabinete, vou ser prefeito na rua.

Disputa pela PBH

Em 2018, Mauro Tramonte passou a conciliar a carreira de apresentador de TV com a de deputado estadual. Em meados de 2023, seu nome começou a ser ventilado com mais força para a disputa pela prefeitura, mas o parlamentar demorou alguns meses para oficializar a pré-candidatura. Na campanha, tem ressaltado ser um político que está perto do povo e que conhece bem os problemas da cidade, por ter estado 16 anos em programa de TV. Saúde é uma das principais bandeiras.