A história de Rogério Correia na política se mistura com o processo de redemocratização do Brasil. Ele tem 66 anos e iniciou sua trajetória no movimento estudantil, na UFMG, em 1977. Foi preso durante a repressão militar e se candidatou pela primeira vez, para vereador de BH, em 1982. O deputado federal e candidato à Prefeitura de BH recebeu a reportagem de O TEMPO em seu apartamento, no bairro Luxemburgo, na região Centro-Sul da capital. Antes de subir para o segundo andar do edifício, no início da manhã daquela terça-feira, acompanhamos Rogério em um passeio pela rua com os três cachorros, dois vira-latas e uma west-terrier.
No apartamento, Rogério vive com a atual mulher, Carla Prates. Os dois estão juntos há 24 anos. O político tem três filhos, frutos de dois casamentos anteriores. “Tenho quatro enteadas, dois filhos, uma filha e uma neta”, diz. Rogério é professor de matemática, deu aulas em escolas públicas e em cursos supletivos por dez anos. A profissão é herdada da mãe, que também era professora, do primário, na escola em que ele estudou. O pai tinha uma loja que vendia “de agulha a foguete”, no Carlos Prates, bairro onde Rogério e seus dois irmãos cresceram.
Sentado em uma cadeira na sala de estar, ele contou que, nos últimos 47 anos, sua vida política tem estado em constante movimento. “Minha primeira atividade política foi a tentativa de reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE). Fizemos uma vigília na Faculdade de Medicina e fomos cercados e presos. Mais ou menos 200 estudantes saíram todos com as mãos na cabeça, levados com fuzil. Aquilo foi marcante para a conjuntura política, porque pela primeira vez a ditadura não conseguiu manter presa aquela quantidade de pessoas”, conta o candidato do PT, que, na ocasião, tinha 19 anos. “Fomos liberados de madrugada, com as mães na porta. Teve um movimento e repercussão muito grande. Tiveram que nos liberar”, recorda.
Três anos depois, Rogério Correia estava ao lado de Lula, fundando o Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980. Ele se mantém fiel à legenda até hoje. A relação próxima com Lula vem desde essa época. “Fizemos caravanas por todas as regiões do Estado juntos. Teve um hotel em Montes Claros, por exemplo, que negou ao Lula dormir lá. O sujeito era tão conservador. Essa história de bolsonarismo pipocou agora, mas sempre existiu essa gente reacionária, esse medo do PT, da esquerda comunista, essas coisas”, conta o candidato, que garantiu, aos risos, que a cachacinha no fim do dia era lei.
Em meio à militância, Rogério foi construindo sua carreira pública. “Em 1982, disputei minha primeira eleição para vereador. Eram votos vinculados. O PT elegeu dois vereadores em Belo Horizonte: Helena Greco e Renê Trindade. Fiquei como segundo suplente, o primeiro foi Patrus Ananias”, lembra. Seis anos depois, em 1988, Rogério foi eleito para a Câmara Municipal e permaneceu lá por três mandatos consecutivos. “Foi um período efervescente em Belo Horizonte porque foi também a época de construção da legislação. Na ditadura, não existiam leis, eram todas impostas”, relembra. No Legislativo municipal, o petista participou da criação da Lei Orgânica do Município, nos setores de transporte e educação.
Em 1998, conquistou uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e foi deputado estadual por dois mandatos consecutivos. Em 2006, candidatou-se a deputado federal, mas perdeu. Já em 2010, ganhou de novo para deputado estadual. O primeiro cargo de deputado federal foi conquistado em 2018.
Ativo e atuante há mais de quatro décadas, Rogério diz que a política acompanha a transformação da sociedade. “Quando eu era vereador, tinha uma reivindicação constante: ‘Arruma um orelhão lá no meu bairro. Só tem um, é uma fila enorme’. Orelhão era um artigo de luxo. Vocês imaginam isso? Política era feita tête-à-tête, muita conversa na rua, não tinha WhatsApp, rede social, nada disso”, comenta.
Homenagem aos pais
Essa é a primeira vez que Rogério Correia se candidata a um cargo majoritário. “Dedico muito minha trajetória e essa candidatura aos meus pais. Sempre tive muito apoio deles. Comecei como pré-candidato nestas eleições, e eles faleceram”, conta. O pai morreu em abril, aos 97 anos. A mãe partiu 40 dias depois, aos 91.
Até o fim de setembro, seu principal cabo eleitoral, o presidente Lula, ainda não tinha vindo a BH apoiar sua candidatura. “Compreendo o Lula. Ele tem que ter suas prevenções e olhar o Brasil como um todo. Mas ele vai vir. Agora é a hora da arrancada”, avalia Rogério Correia.
Bate-pronto
Em qual candidato (a) foi seu primeiro voto?
Não tinha PT, votei no Humberto Rezende, do MDB.
O que faz nos momentos de lazer?
Vejo futebol. Assisto à Série C, D e F, o que estiver passando. É uma coisa ali que me descansa, e vou muito ao campo também. Torço pro Galo.
Qual último livro que leu?
O último foi um livro de economia. Mas o meu livro predileto é “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez. Já li duas vezes e estou na metade da terceira vez. Já li uma coletânea de Gabriel García Márquez. “O Amor nos Tempos do Cólera” é também um livro muito bonito, mas o “Cem Anos de Solidão” é realmente imperdível.
Qual é seu estilo musical preferido?
Música Popular Brasileira.
Qual é seu prato predileto?
Gosto de tutu de feijão com arroz.
Cheiro da infância?
As comidas da minha avó.
Defina política em uma frase
Determinação e articulação.
Por que quer ser prefeito de BH?
Eu quero atender o povo de Belo Horizonte, resolver os problemas do dia a dia. É para isso que eu quero ser prefeito, é isso que vou fazer.
Disputa pela PBH
Com a carreira política totalmente vinculada ao Partido dos Trabalhadores desde a fundação da legenda, Rogério Correia enfrentou resistências por parte dos correligionários do PT para se estabelecer como o candidato do partido. Uma ala da legenda defendia a formação de uma frente ampla. Mas ele se manteve firme como cabeça de chapa. Sempre se colocou como o candidato do presidente Lula. Uma das principais bandeiras defendidas é a da melhoria da educação.