O deputado federal Rogério Correia (PT) foi o terceiro a participar da sabatina de uma hora de duração, realizada por O TEMPO entre os dias 20 e 28 de agosto, com os candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte. Ele foi questionado se estava se sentindo abandonado pelo presidente Lula neste momento da campanha. “É mais fácil uma vaca tossir e o saci cruzar as pernas do que eu e Lula termos algum entrevero entre nós. Então, eu sou candidato do presidente Lula, e ele vai dar um apoio efetivo”, disse Rogério Correia. O candidato do Partido dos Trabalhadores fez questão de afirmar que o presidente está com ele e informou também que sugeriu que Lula viesse a BH no próximo dia 14, para participar de um comício com ele, na praça Sete. Veja a resposta do deputado federal e candidato do PT sobre o apoio do presidente.


Confira abaixo alguns trechos da sabatina:

“Sou o candidato do Lula, e ele vai me dar apoio efetivo”

Quais os planos do senhor para o problema do trânsito em Belo Horizonte? 
O principal problema de BH é o trânsito. Nós temos 2,6 milhões de carros. É mais carro do que povo. Mas por que as pessoas não pegam o ônibus? Porque ele é de péssima qualidade. Vamos antecipar o contrato (de ônibus). Ele vence em 2028. Vamos ver, se necessário, medidas jurídicas, porque a própria prefeitura reconhece que o contrato foi feito ilegalmente, a Justiça também. Vamos fazer um contrato em que eles têm que ter o quadro de horário definido, qualidade do ônibus. Também com medidas em que o preço da tarifa não pode ser subsidiado e ainda ter aumento todo ano. Vamos aproveitar o trabalho que a Bella (Gonçalves, candidata a vice) fez nessa área. BH terá um prefeito e uma prefeitura.
 
O senhor disse que, se eleitos, o senhor e a Bella serão prefeito e prefeita. Como vai ser essa divisão?
Nós temos atuado na campanha dessa forma. Na prefeitura nós vamos fazer isso também. Ninguém governa sozinho. Precisamos ter um técnico da prefeitura? Vamos ter vários. O que precisamos é ter um líder político. Eu quero uma Belo Horizonte com desenvolvimento econômico; que converse com o empresariado, com todos.

Para onde BH pode crescer?
BH pode crescer em serviços de comércio, que, aliás, já é 70% do PIB de BH. E quais atividades não vão trazer para menos? Onde fazem todos crescerem? Não pode ter apenas um setor empresarial, que cisma que vai fazer isso ou aquilo. Vejam a Stock Car. Foi bom? Foi. Mas, sinceramente, comigo na prefeitura e com a Bella, ninguém vai chegar e passar o trator.  A UFMG tem uma parte importante do PIB. Nós queremos criar lá o Centro Nacional de Vacina, que já está construindo.

Vamos tratar com carinho a quem, além de gerar conhecimento, gera economia. O prefeito, essa liderança precisa se tocar. Nós vamos conversar com quem? Ciclovia é um programa maravilhoso. Mas onde será a ciclovia? Como é que se conversa com a cidade? Precisamos melhorar o meio ambiente, precisamos retirar a mineração. Esse é outro compromisso. Nós não vamos ter mineração na serra do Curral. Já estou conversando com a Marina Silva, nossa ministra. Já entreguei pessoalmente a ela uma solicitação, que foi aprovada por unanimidade na Câmara de Deputados. Requerimento meu para que a serra do Curral se transforme num parque nacional.

Aí você vai levar turismo para lá. Você vai trazer hospedagem para os hotéis, você vai ampliar o setor de comércio, turismo. A capital da vacina vai ser BH, o Centro Nacional de Vacina, com a BHTec aqui, a Fiocruz, tudo isso são elementos para você trazer tecnologia avançada, turismo. Temos outras coisas. BH tem quatro meses que não chove. Isso não é normal. É crise climática. Podem os negacionistas discordar, mas tá óbvio. A Terra não é plana, a ciência tem que predominar. Cloroquina não combate Covid, o que combate Covid é vacina.

O senhor planeja implementar o bilhete único no transporte? Como funcionaria? 
Vamos fazer o bilhete único, na região metropolitana, que é o ideal. Para isso também precisa de liderança política. No caso de BH a questão é o metrô. A gente precisa tratar essa ligação entre os ônibus e o metrô, que praticamente inexiste. As estações são escuras, não trazem segurança, não tem conexão entre o ônibus que chega e o metrô que está saindo. Ou o metrô está chegando, ou está saindo. Os horários são desencontrados. Nós vamos ter que integrar também preços. O objetivo é chegar numa tarifa zero global.

A tarifa zero no fim de semana nós vamos garantir; agora a tarifa zero de maneira global depende, inclusive, de modificação da legislação federal. Nós estamos tentando isso lá. E às vezes me dizem que estou falando muito do Lula. Claro, nós temos que aproveitar essa oportunidade. O cara é o presidente Lula, ele tem comigo a relação que tem com todos os ministros. Belo Horizonte tem condições de endividamento. Se precisar, responsavelmente, nós podemos fazer esse endividamento para ampliar aqui conquistas importantes, obras de infraestrutura. Eu fui, além de vereador, deputado estadual, deputado federal, tenho experiência muito grande. Experiência na política vale muito. Aquele tempo em que política não vale nada acabou; deu errado.

Como será sua relação com o governador Romeu Zema, se eleito?
O governo do Estado tem que ter uma boa relação com a capital. Ele não tem tido. Esse é o problema. O Zema não respeita Belo Horizonte como devia. Ele quer aproveitar a cidade, vide o Carnaval. O governador entra e fala “é meu”, não é assim, parece que não tem prefeito. Tem que conversar com o prefeito. E nós vamos conversar direitinho para saber como é que ganha Minas, como é que ganha Belo Horizonte também. E não vamos permitir que o Zema dê ordem para municipalizar o ensino. Isso é plano de outro candidato, que está lá com ele e colocou uma vice lá para tentar mandar na cidade.

O senhor falou sobre Carnaval. Não seria bom que PBH e Estado estivessem envolvidos?
Nós vamos fazer isso. Aliás, tem um candidato que outro dia esteve aqui e disse que não gosta de Carnaval (eu adoro) e ele que disse que não tem que ter dinheiro público no Carnaval. Claro que tem. É investimento que você faz, e o que volta é muito grande. A parada gay também nos dá um retorno imenso. Então, nós vamos, evidentemente, fazer investimento para trazer mais recursos para o comércio, o setor de serviço. 

O senhor gostaria de ter uma participação maior do presidente Lula na sua campanha? 
É mais fácil uma vaca tossir e o saci cruzar as pernas do que eu e Lula termos algum entrevero entre nós. Então, eu sou candidato do presidente Lula, e ele vai dar um apoio efetivo. Nós pedimos ao presidente Lula a gravação de um vídeo para programa de TV, e ele vai gravar. E ele virá a Belo Horizonte participar da campanha. A data que eu sugeri e pedi ao presidente é 14 de setembro, que é um sábado.

Então, essa é a data, a princípio, de preferência para um grande comício na praça Sete. Ele ficou de dar um retorno da data até o final de agosto. O presidente Lula vai apoiar, e nós vamos unificar a base do presidente Lula, o que não veio no segundo turno. Eu estou muito convencido que nós vamos ao segundo turno com apoio do presidente Lula no primeiro turno e com esse programa, com a aliança que nós fizemos, uma aliança ampla. Não é fácil. É a primeira vez que juntamos as duas federações (PT/PV/PCdoB e PSOL/Rede), com o PT unificado. Você sabe que é difícil. O PT é um partido grande, tem muitos interesses. A militância entusiasmada vai a campo, expõe o programa, arruma voto. 

O senhor falou em 14 de setembro, o que coincide exatamente com a data que tem sido anunciada pelo campo bolsonarista da vinda do ex-presidente Jair Bolsonaro. Foi pensado estrategicamente?
Não. Eu nem sabia. Se ele confirmar, a gente marca outro. O que eu não quero é confusão na cidade. E em Bolsonaro a gente não confia. Eles vão lá no comício da gente fazer provocação, para gravar vídeo. Então, se houver isso mesmo, nós combinamos outra data com o presidente. Confusão nós não queremos. Nós queremos fazer disputa política e ideológica, não disputa de brigas. Agora tem que ver se até o dia 14 Bolsonaro ainda vai estar livre. Acho que até lá ainda não foi preso, não. Mas que ele vai ser preso, isso vai. Eu fui da CPMI do 8 de Janeiro, dos crimes cometidos contra a democracia. Aliás, se tivesse vingado o 8 de Janeiro, talvez nós não estivéssemos aqui fazendo o debate democrático. 


Vamos falar sobre segurança pública. Sobre a ideia de a Guarda Municipal se transformar numa polícia municipal 100% armada.O governo do presidente Lula vai no sentido oposto com a população, de desarmá-la. Essa é uma proposta mais para agradar a um grupo na eleição?
Ontem eu tive uma reunião com a guarda. Eu os lembrei da criação do Estatuto da Guarda Civil. É de 2014, foi enviado pela presidenta Dilma (Rousseff, do PT) e sancionada por ela, que dá inclusive o direito a que os municípios decidam que a guarda pode ser armada. Aqui já decidiu. As guardas atuam de forma armada porque elas têm, entre outras funções, a de fazer a fiscalização das nossas ruas, dos logradouros públicos e, com isso, também enfrentar, caso seja necessário, algum crime. Ao mesmo tempo, eu enviei para a prefeitura R$ 900 mil, quase R$ 1 milhão, para iniciar a colocação das câmeras corporais.

 Isso é exatamente para a população, especialmente a juventude negra, que tem sofrido muita repressão. Eu não estou dizendo isso da Polícia Militar, mas de alguns policiais militares, vamos dizer melhor, que eu respeito muito a corporação da Polícia Militar. Então, eu sei o que passa um policial também nas ruas. Precisa de um bom treinamento, e eu me responsabilizo. E eles me pediram algo fundamental, que eu disse que vou fazer no primeiro dia do governo, que é mandar um projeto de lei que modifica o estatuto da Guarda Municipal aqui, porque eles acham que ele é muito militarizado e, se é militarizado para eles, eles também se sentem como militarizados na atuação na rua. Vamos ter também um aumento de contingente da guarda.

Os excedentes do concurso atual serão chamados, e vou criar outro concurso. Outra questão do concurso importante são professores e professoras. Então, nós vamos manter (a exigência do) concurso público e manter a Lei Orgânica do jeito que ela está, porque eu já ouvi candidato que já teve vontade, no passado, de tirar isso da Lei Orgânica para aproveitar para contratar professor e contratar empresa no lugar da educação pública. É isso que Zema faz.

E o custo? Sua campanha menciona que vai estabelecer uma espécie de mesa de negociação permanente com todas as categorias para que anualmente seja apresentado o contrato de trabalho coletivo, feito coletivamente a cada dois anos, que em geral é o que é feito com o salário inicial. Hoje o salário de um professor em Belo Horizonte é de R$ 3.228,06. O último reajuste foi de 8,04%, apresentado pelo atual prefeito, Fuad Noman. O senhor vai subir esse salário?
O compromisso é pagar o piso salarial nacional. Quando se fala em piso salarial nacional, fica em debate a jornada. A jornada do professor municipal é de 22 horas e meia. No caso do Estado, a jornada é de 24. A lei fala em jornada de até 40 horas. 

É possível manter uma jornada de 22 horas e 30 minutos e chegar ao valor do piso? 
Esse é o objetivo do sindicato. Nós vamos olhar isso com muita responsabilidade. Agora, o meu objetivo é fazer com que, nesses quatro anos, Belo Horizonte tenha um melhor salário, educação e, mais do que isso, tenha a melhor educação municipal do Brasil. 

Caso o senhor seja eleito, terá que dialogar com o governador Romeu Zema por mais dois anos, e o senhor faz muitas críticas ao governador. Como será?
Uma relação institucional, com todo o respeito. Respeito ao governo de Minas, ao cargo que ele ocupa, e exigir o mesmo respeito com Belo Horizonte, com o prefeito. Teremos com ele discussões constantes para colocar aquilo que o Estado presta de serviço como está e como nós vamos avançar, como a lagoa da Pampulha. 

E sobre o Anel Rodoviário?
Ele tem muitos acidentes, virou uma avenida de Belo Horizonte. Propomos fazer uma avenida metropolitana, que o governo chama de “Rodoanel” e o povo chama de “rota do minério”. Eu não sou contra o Rodoanel, sou contra o traçado. Vamos mudar o trajeto para não ser apenas rota do minério, para não passar em cima de áreas quilombolas, ambientais. Então, garantir esses direitos, um trajeto mais curto, mais barato, mais eficaz.

O senhor avalia que o governo federal tem feito repasses suficientes para Belo Horizonte nesses dois anos de mandato?
Melhorou muito em relação a Bolsonaro. É até covardia. O Bolsonaro não fez nada. Aqui nós já temos as obras do PAC. Eu citei o Anel Rodoviário, vou citar também o ribeirão da Onça.