Considerando as cidades com mais de 200 mil eleitores do estado, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Uberlândia, no Triângulo Mineiro, é a que tem o maior número de candidatos disputando vaga na Câmara Municipal. No total, foram lançadas 525 candidaturas a vereador, que irão pleitear uma das 27 cadeiras disponíveis em 2024. Com isso, a média é de 19 candidatos por vaga. Especialistas ouvidos por O TEMPO apontam que a alta concorrência pode trazer eleições mais diversificadas, entretanto, dificultam a campanha para vereadores.

No total, Uberlândia conta com 530.871 eleitores, sendo considerado o segundo maior colégio eleitoral de Minas. A cidade está atrás apenas de Belo Horizonte, que possui mais de 1,9 milhão de eleitores e conta com uma média de 21 candidatos por vaga a vereador em 2024.

Para o professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Moacir de Freitas Junior, a disputada eleição na cidade do Triângulo Mineiro mostra a força política local, mas, ao mesmo tempo que um maior número de candidatos representa um processo democrático melhor, pela chance de eleger pessoas com perfis diferenciados, também significa uma maior dificuldade na campanha destes candidatos.

“A eleição de vereador é a eleição mais disputada de todos”, comenta. “As campanhas de vereador têm essa característica: o eleitor é visitado por muitos candidatos ao longo da campanha, conhece muita gente que irá se candidatar, às vezes há mais de um candidato na própria família, enfim. O que levará o eleitor a escolher o candidato A e não o B ou o C, é como esse candidato pode amarrar o voto, como chamamos na política, que é construir com o eleitor uma relação de confiança.”

Desta forma, há alguns fatores que podem facilitar para alguns candidatos. Como exemplificado pelo professor da UFU, os atuais 27 vereadores da cidade irão concorrer novamente em 2024, o que pode trazer maior vantagem no momento da campanha por terem construído uma base de apoiadores nos últimos quatro anos.

“Isso faz com que eles não só tenham pra quem pedir os votos, como também já tem uma relação de confiança com uma parcela do eleitorado, que os escolhe previamente e que fecha o espaço para os demais candidatos concorrerem com eles”, explica.

Apesar de candidatos mais conhecidos contarem com alguma vantagem, Moacir aponta que isso não significa, necessariamente, que irão receber mais votos. “A eleição de vereador é muito difícil, muito concorrida e não existe fórmula mágica pra se eleger”, finaliza.

Demais cidades do interior

Logo após Uberlândia, sua vizinha no Triângulo Mineiro, Uberaba, aparece com maior número da relação de candidatos a vereador por vaga: 18. O município registrou 397 candidaturas em 2024 para preencher 21 cadeiras na Câmara Municipal.

Na Zona da Mata, Juiz de Fora registrou 372 candidaturas. Em 2022, a Câmara Municipal da cidade aprovou a ampliação do número de vereadores. Assim, em 2025, o município passará de 19 para 23 vereadores. Com isso, nas eleições de 2024, serão 16 candidatos por vaga em Juiz de Fora.

Já Montes Claros, no Norte de Minas, tem uma média de 15 pessoas disputando cada vaga na Câmara Municipal. A cidade tem um total de 361 candidaturas para preencher 23 cadeiras parlamentares.

Municípios da grande BH também apresentam maiores médias de candidatos por vaga

Considerando a média de candidaturas por vaga de vereador, Uberlândia está abaixo apenas de Belo Horizonte e se equipara a Contagem e Ribeirão das Neves, localizadas na região metropolitana. A capital mineira registrou, em 2024, 865 candidaturas para vereador, que disputarão 41 vagas. A relação é de 21 candidatos por vaga.

Já Contagem tem 415 postulantes para as 21 vagas da Câmara Municipal, enquanto Ribeirão das Neves conta com 266 candidatos para 14 vagas. Ambos os municípios apresentam uma média de 19 candidaturas por cadeira.

Por fim, a cidade de Betim, que também está entre as de maior eleitorado em Minas e fica localizada na Grande BH, terá 23 cadeiras disponíveis na câmara, com 342 pessoas na disputa. Desta forma, a relação é de 14 candidaturas por vaga.

Maior número de candidatos pode levar a diversidade partidária, aponta especialista

De acordo com o cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo Roberto Figueira Leal, há uma correlação direta entre o tamanho do distrito eleitoral e o grau de competitividade nas eleições. No caso, locais mais populosos também contam com uma dinâmica partidária mais plural. Por exemplo, a cidade de Serra da Saudade, no Centro-Oeste mineiro, é considerada a menos populosa do Brasil, com 833 moradores e 1.294 eleitores. Em 2024, o TSE registrou 18 candidaturas para preencher nove vagas na câmara do município, uma média de dois candidatos por cadeira.

Apesar de cada colégio eleitoral possuir sua dinâmica específica, o número de partidos organizados e candidaturas estão associados a uma diluição da composição do parlamento, como explica Leal. “Quando você tem mais partidos competitivos, muito provavelmente a divisão das vagas que a Câmara de Vereadores tem naquela cidade vai estar mais marcada pela diversidade partidária do que quando você tem menos competitividade eleitoral, com mais partidos que alcançarão, por exemplo, o quociente eleitoral para entrar na divisão do bolo das vagas.”

A alta concorrência também acaba influenciando na campanha eleitoral, considerando que os candidatos precisam competir também por atenção. “É muito mais difícil você construir um diálogo com uma certa base eleitoral quando há uma oferta significativa disputando aquela mesma base”, diz o cientista político. “O nível de complexidade da campanha tende a ser maior em cenários que têm disputas mais competitivas, inclusive com maior nível de profissionalização”, aponta.