A nove dias das eleições, o candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou Ipatinga, no Vale do Aço, nesta sexta-feira (23), na terceira e última agenda de campanha em Minas durante o 1º turno desde 16 de agosto. Ao lado do candidato ao governo de Minas Alexandre Kalil (PSD) e do candidato ao Senado Alexandre Silveira (PSD), o ex-presidente encabeçou uma ofensiva para manter a dianteira contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo maior colégio eleitoral do Brasil.

De acordo com a última rodada da pesquisa DATATEMPO, Lula lidera a preferência dos mineiros com 41,5% das intenções de voto. Já Bolsonaro soma 35,1%. O levantamento, realizado entre 5 e 9 de setembro, registrou uma queda de 11,1 para 6,4 pontos percentuais na diferença entre ambos se comparado a agosto. Desde 1989, nenhum dos presidentes eleitos venceu o pleito sem ter maioria em Minas.

O ex-presidente afirmou, por exemplo, que Minas tem “o povo mais preparado do Brasil”. “O jeitinho mineiro de fazer política é muito especial”, disse. “Esse país já teve Juscelino Kubitschek como presidente, esse país já teve o Aureliano (Chaves) de vice (de João Figueiredo), esse país já teve o Itamar (Franco) de presidente”, citou, após criticar o ex-governador Aécio Neves (PSDB), que, segundo Lula, chamava de seu os programas do PT em Minas.

Conforme Lula, Minas é um estado para o qual deve favores. “É um estado que me acolheu em todas as regiões. Eu talvez seja o cidadão brasileiro que conheça Minas Gerais mais do que muitos mineiros. (...) Eu já percorri esse estado, eu já gastei sola de sapato e quero dizer para vocês: eu quero ser eleito aqui no Estado de Minas Gerais”, sinalizou.

O ex-presidente ainda prometeu revitalizar o trecho da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, que é uma reivindicação histórica em razão do alto número de acidentes fatais. “Quero assumir o compromisso na frente do Kalil, na frente do Alexandre e na frente de vocês: nós vamos fazer a estrada e transformar a atual estrada da morte na estrada da vida para que vocês possam ter segurança quando saírem para passear com a família de vocês”, indicou.

Acompanhado por Kalil e Silveira, que, por boa parte do comício, ficaram em pé ao lado do ex-presidente, Lula pediu votos a ambos. “Eu preciso que vocês até o dia 2 telefonem, falem por ‘zap’, mandem twitter, vão na casa, na porta do trabalho, no banco, de casa em casa, na feira, dizer para o povo: ‘gente, se vai votar no Lula para presidente, vote no Kalil para governador e no Silveira para senador”, apontou. A expectativa é que o ato em Ipatinga dê fôlego a Kalil e Silveira na última semana antes do 1º turno.

Dilma diz que Brizola jamais iria a Paris

A presença da ex-presidente Dilma Roussef (PT), ausente nas visitas de Lula a Belo Horizonte e Montes Claros, foi uma das surpresas em Ipatinga. Derrotada na corrida para o Senado em Minas em 2018, Dilma fez um apelo aos presentes para que a eleição presidencial seja decidida em 1º turno. “Minas liderou a Revolução de 1930, Minas esteve sempre na frente de boas causas. Então, eu peço a vocês: a liderança, aqui e agora, para que nós possamos ganhar no 1º turno”, pediu.

Em provocação ao candidato à presidência Ciro Gomes (PDT), a ex-presidente afirmou que, caso Leonel Brizola fosse vivo, votaria em Lula. “Se vocês conhecem companheiros que são companheiros de fé, trabalhistas, do PDT, vocês sempre lembrem eles - eu fui do PDT -, que eu tenho certeza de uma coisa: Leonel de Moura Brizola jamais iria para Paris. Jamais iria para Paris”, criticou Dilma. 

Vale do Aço já foi reduto do PT 

Além de marcar uma ofensiva à base eleitoral do senador e candidato à reeleição Alexandre Silveira (PSD), a agenda no Vale do Aço leva o PT a um colégio eleitoral que já foi reduto em Minas Gerais. A cidade foi administrada pelo PT entre 1989 e 1997, quando Chico Ferramenta e João Magno estiveram à frente do Executivo, assim como entre 2013 e 2016, quando foi a vez de Cecília Ferramenta. 

Inclusive, Chico, Cecília e João Magno estiveram presentes no palanque. “Vim muitas vezes em porta de fábrica (no Vale do Aço), não apenas da Usiminas, mas eu fui a João Monlevade, a Coronel Fabriciano, a Timóteo, sempre acompanhado de um companheiro que está aqui, um pouco debilitado, porque ele está com uma doença grave, que é o Chico”, lembrou Lula.

Em homenagem ao ex-prefeito de Ipatinga, Lula apontou que Chico é um exemplo de que a gente pode tudo quando a gente quer. “O Chico, quando eu era apenas um dirigente sindical e fundador do PT, a gente vinha aqui, poucas pessoas, muitas das quais estão aqui nesse palanque, e eu fiquei muito surpreso quando esse baixinho aqui, que era oposição sindical e não conseguia ganhar o sindicato, se elege prefeito de Ipatinga pela primeira vez”, citou.

Esposa de Chico Ferramenta, Cecília foi a última petista a ser eleita para a Prefeitura de Ipatinga. No entanto, ao buscar a reeleição, a então prefeita, com apenas 15,06% dos votos, foi derrotada por Sebastião Quintão (MDB). Hoje, o prefeito é Gustavo Nunes (União Brasil), que defende a reeleição tanto do governador Romeu Zema (Novo) quanto do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A perda de protagonismo do PT em Ipatinga é retratada também pela Câmara Municipal, onde o partido tem apenas dois assentos. Além de Cecília, Cida Lima, que, aliás, é a 1° suplente da chapa encabeçada por Silveira ao Senado, tem uma cadeira no Legislativo.