Candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao governo de Minas, o senador Carlos Viana (PL) lança mão de citação do sociólogo mineiro Otávio Dulci (1948-2018). Irmão do ex-ministro de Lula, Luiz Dulci (PT) e pai da candidata a deputada estadual pelo PT, Luiza Dulci, o sociólogo foi um dos fundadores do PT, ligado à esquerda e movimentos sociais no estado.
A candidatura de Viana serve como palanque para Bolsonaro em Minas O senador tenta se associar ao presidente no Estado para conseguir crescer eleitoralmente.
A menção a Dulci foi feita logo no segundo tópico do plano de governo do candidato registrado no TSE. Viana recorre ao sociólogo para fazer um panorama do atual contexto da gestão pública mineira.
“Um dos principais historiadores do desenvolvimento e da economia mineiras, Otávio Dulci dizia que uma das marcas do pensamento público de nosso estado é a sensação de perda. (...) Os dados históricos dão
fundamento a essa percepção, porém o mais importante a ser notado é a forma como essa sensação de perda moldou profundamente os principais gestores públicos mineiros das últimas décadas era preciso agir, com urgência, para evitar que Minas Gerais se tornasse apenas um museu a céu aberto, uma coleção de saudades no peito”, diz o documento, 34 páginas, no início do tópico 'Cenário Atual.'
Irmão do ex- ministro-Chefe da Secretaria-Geral do governo Lula, Luiz Dulci e pai de Luiza Dulci, candidata a uma vaga na ALMG, Otávio Dulci foi professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG de 1972 a 2013, quando se aposentou. Já aposentado pela UFMG, lecionou na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC), até sua morte, em 2018. Lutou contra a ditadura militar nas décadas de 1960 e 1970 e ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores.
Segundo o site da Fundação Perseu Abramo, entidade de formação político cultural do PT, o pensador contribuiu com a instituição em diversos momentos. Entre as colaborações de Otávio Dulci em publicações da Perseu Abramo, a fundação destaca o livro Reforma Política Necessária (2015), em que assina o ensaio Representatividade e Governabilidade no Legislativo: o Controle da Fragmentação Partidária.
O pesquisador se destacou em estudar estudar a questão do desenvolvimento regional de Minas Gerais. No final dos anos 1990, publicou um livro fundamental para a história da economia mineira, “Política e Recuperação Econômica em Minas Gerais”, no qual defende que o desenvolvimento industrial do Estado não aconteceu naturalmente por força do mercado, como em São Paulo, mas que foi planificado e induzido politicamente.
Pautas
Além da citação a Dulci, chama atenção no plano de governo de Viana a valorização de políticas públicas no campo social, pautas historicamente ligadas ao campo de esquerda, como por exemplo, políticas públicas por moradia. Apesar de citar programas do governo Bolsonaro, como o Casa Verde Amarelo, antigo Minas Casa Minha Vida, criado em governos petistas.
Viana, também, se coloca contra a privatização de empresas públicas mineiras, como Cemig e Copasa. Em entrevistas, o senador sempre ressalta que “não é contra privatizações, mas que não se deve entregar o patrimônio do Estado para empresários de forma irresponsável.”
Questionado sobre a citação de Otávio Dulci em seu plano de governo, bem como o alinhamento com pautas econômicas ligadas ao campo progressista, Viana afirma que não enxerga contradição.
"Existem bandeiras que são políticas públicas de Estado. Não são partidárias ou ideológicas. Propostas de igualdade, crescimento, geração de renda e oportunidades são propostas públicas de Estado. Não vejo contradição" respondeu o candidato à reportagem de O TEMPO.