Eleições 2022

Conservador e fã de skinheads: veja quem é o deputado que atacou Vera Magalhães

Entre outros, ele coleciona elogios aos “Carecas, grupos de extrema-direita que também são conhecidos por seu nome em inglês, skinheads, e por praticarem atos de violência e até assassinatos como alegada forma de expressão política


Publicado em 14 de setembro de 2022 | 09:06
 
 
 
normal

O deputado estadual paulista Douglas Garcia (Republicanos), que partiu para cima da jornalista Vera Magalhães após o debate para o governo de São Paulo, na noite de terça-feira (13), é um conhecido líder da extrema direita paulista. 

Entre outros, ele coleciona elogios aos “Carecas”, grupos de extrema-direita que também são conhecidos por seu nome em inglês, skinheads, e por praticarem atos de violência e até assassinatos em nome de expressão política, em defesa do nacionalismo e do patriotismo. 

Garcia afirmou, em postagens de visualização restrita em redes sociais, que “GOSTA MUITO” do movimento dos “Carecas nacionalistas”. “Os Carecas são nacionalistas, pró-família, são exatamente como nós, só diferem porque descem o cacete nos comunas (o que eu aprovo muito, diga-se de passagem)”, escreveu o parlamentar.   

A postagem de Garcia integra o processo 1006534-55.2022.8.26.0071 do Tribunal de Justiça de São Paulo, em que ele é réu pela confecção e a divulgação de um dossiê com dados patrimoniais e residenciais de mais de 1.000 pessoas, classificadas pelo parlamentar como “terroristas antifascistas”. Esse episódio vem rendendo sucessivos processos e derrotas judiciais para o deputado.

Em 10 de agosto de 2020, Garcia foi condenado em uma primeira ação judicial a compensar em R$ 20 mil uma mulher cujo nome estava na lista. Outras ações judiciais contra ele estão à espera de julgamento. Ao mesmo tempo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro anunciou que havia entregue a lista de antifascistas à embaixada dos Estados no Brasil. Assim como Garcia, o filho do presidente pretendia que as pessoas listadas pelo deputado fossem impedidas de entrar nos EUA, investigadas e presas pelas polícias brasileiras.

Douglas Garcia criou o bloco Porão do Dops para homenagear o torturador Brilhante Ustra

Nascido em 26 de janeiro de 1994, filho de uma diarista e de um motorista de ônibus. Ele começou a aparecer no mundo político em 2016, aos 22 anos, quando assumiu o movimento Direita São Paulo, hoje renomeado Movimento Conservador e presidido por seu chefe de gabinete, Edson Salomão. Garcia assumiria a vice-presidência do grupo após se tornar deputado.

Ainda à frente do Direita São Paulo, em novembro de 2017, Garcia organizou os protestos contra a filósofa norte-americana Judith Butler durante sua visita ao Brasil –  Ph.D. em filosofia na universidade de Yale, ela é uma das principais teóricas contemporâneas do feminismo.

Durante um ato em frente ao Sesc Pompeia, em São Paulo, em que os conservadores queimaram uma boneca representando a pensadora, Garcia, ao longo de um de seus discursos, fez questão de agradecer a presença de membros do grupo Carecas do ABC, conhecida facção extremista de São Paulo. 

O então líder do Direita São Paulo disse, apontando para “os rapazes” e recebendo aplausos do público: “Não posso também deixar de falar desses rapazes que vieram aqui nos defender e protestar contra a ideologia de gênero, que são os rapazes dos Carecas do ABC. Eles vieram!”

Já na onda bolsonarista, em 2018, Douglas Garcia criou o bloco de carnaval Porão do Dops – alusão ao Departamento de Ordem Política e Social, órgão da ditadura responsável pela repressão política e onde eram realizadas torturas durante a ditadura  militar (1964-1985). 

Acionada pelo Ministério Público, a Justiça de São Paulo proibiu a saída do bloco Porão do Dops pelas ruas da capital do estado. Segundo o MP, o evento enaltece o crime de tortura com homenagens a Carlos Alberto Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury, que foram respectivamente comandante do DOI-CODI e delegado do Dops durante a ditadura militar. A ação não pretendia proibir a realização do bloco, mas sim o enaltecimento ou divulgação de tortura. 

Após ser expulso do PSL, Garcia migrou pára o PTB de Roberto Jefferson

Ainda em 2018, Garcia foi eleito deputado estadual pelo então partido de Bolsonaro, o PSL, com 74 mil votos.  Sua principais pautas eram a luta contra a legalização do aborto, contra as drogas ilícitas, pela revogação do Estatuto do Desarmamento, a favor do livre mercado e do Escola Sem Partido.

Contudo, ele foi expulso da sigla em julho de 2020. Migrou para o PTB de Roberto Jefferson, o ex-deputado federal que foi preso e condenado pelo envolvimento no Mensalão e, após cumprir parte da pena, se tornou um apoiador de Jair Bolsonaro, até ser preso novamente por causa de ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e, sem o esperado apoio do presidente, se lançar a candidato a presidente, até ter a candidatura cassada pela lei eleitoral.

Contra a “ideologia de gênero”, Garcia assumiu ser homossexual

Em 5 de abril de 2019, um dia após ameaçar agredir uma transexual que usasse o mesmo banheiro que sua mãe ou irmã, Garcia admitiu ser homossexual. Na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), afirmou: “Não diminui em nada as bandeiras que eu venho defendendo aqui na Assembleia Legislativa contra a ideologia de gênero.”

Segundo o levantamento do Aos Fatos de maio de 2020, Douglas Garcia e um grupo de sete deputados investigados no inquérito das fake news publicaram em média duas postagens por dia em rede social em um período de três meses, com desinformação ou mencionando o STF de forma crítica.

Agora, Douglas Garcia quer se tornar deputado federal, levantando bandeiras, além daquelas que levaram a ganhar uma cadeira na Alesp, contra imigrantes.

O TEMPO agora está em Brasília. Acesse a capa especial da capital federal para acompanhar as notícias dos Três Poderes.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!