Um policial militar de 37 anos atirou em um homem dentro de uma igreja evangélica, em Goiânia, na noite de quinta-feira (1º). Ambos, que são frequentadores do templo, teriam começado a discutir após um pastor pregar contra partidos e políticos de esquerda.

O cabo da Polícia Militar Vitor da Silva Lopes atirou na perna do “irmão” Davi Augusto de Souza, 40 anos, que foi levado para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Ele precisou passar por cirurgia, mas não corre risco de morte. Já o atirador se apresentou em uma delegacia e foi liberado após prestar depoimento.

A confusão ocorreu no templo da Congregação Cristã no Brasil, no Setor Finsocial, bairro da região noroeste da capital goiana. Testemunhas dizem que, apesar da gravidade, o culto continuou normalmente após a vítima ser socorrida.

Boletim de ocorrência só tem a versão de PMs que atenderam o chamado

A Polícia Civil investiga o caso. A ocorrência, registrada como agressão por arma de fogo e lesão corporal culposa (sem intenção de machucar a pessoa agredida), tem apenas as versões dos policiais militares que atenderam o chamado na igreja, de onde a vítima saiu em uma maca, levado por bombeiros.

"No local, segundo informações, houve uma discussão entre dois indivíduos e o cabo Vitor da Silva Lopes. Os indivíduos tentaram entrar em luta corporal com o policial, que para se desvencilhar de um deles efetuou um disparo que alvejou a perna do envolvido", diz o documento.

A Polícia Militar de Goiás limitou-se a informar que instaurou um procedimento de apuração e que o cabo estava de folga no dia em que fez o disparo. 

"Assim que a Polícia Militar tomou conhecimento do caso, determinou a instauração de procedimento administrativo disciplinar para apurar as circunstâncias do fato. Informamos ainda, que o policial militar apresentou de forma espontânea na delegacia de polícia civil para os procedimentos cabíveis", diz nota da PM goiana.

Em entrevista, irmão da vítima criticou posição da igreja em relação à política

Fiéis da Congregação Cristã do Brasil em Goiânia têm relatado que os pastores do templo usam o microfone para defender o governo do presidente Jair Bolsonaro e atacar legendas de esquerda como o PT, PDT, PSOL PCdoB.

Daniel de Souza, irmão de Davi, a vítima da noite de quinta, chegou a dar uma entrevista ao jornal Diário de Goiás, reclamando dos pastores. Em reportagem publicada em 24 de agosto, ele a disse que o líder da igreja estava pressionando fiéis a votarem em Bolsonaro.

Na ocasião, Daniel relatou que sempre frequentou os corredores da igreja com muita tranquilidade e sem problemas com relacionamentos políticos. O próprio Estatuto da Religião define a mesma como uma organização “apolítica”.

Mas, segundo Daniel, a situação começou a mudar a partir do momento que uma circular começou a ser lida por pastores durante os cultos, destacando negativamente partidos como o PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário de Bolsonaro na corrida pelo Palácio do Planalto. 

“Eu nunca vi, em meus 45 anos de igreja, isso acontecer”, relatou o fiel. “Quando alguém fala que não vai votar no Bolsonaro, é tido praticamente como um endemoniado”, completou.

Ele mencionou a circular que a direção nacional da congregação publicou no começo de agosto.

“Conforme Tópico de Ensinamento publicado na última RGE, em abril de 2022, alertamos o Ministério e a irmandade sobre a orientação ali contida, referente às eleições, onde diz o texto: Não devemos votar em candidatos ou partidos políticos cujo programa de governo seja contrário aos valores e princípios cristãos ou proponham a desconstrução das famílias no modelo instruído na palavra de Deus, isto é, casamento entre homem e mulher”, destaca o texto 

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