DATATEMPO

Kalil neutraliza voto de petistas em Zema após aliança com Lula

Votos não migraram para ex-prefeito, mas eleitores do PT agora não sabem em quem votar


Publicado em 23 de agosto de 2022 | 05:00
 
 
 
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O esforço feito pela campanha de Alexandre Kalil (PSD) para deixar claro ao eleitorado mineiro que ele é o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Estado ainda não se traduziu em aumento na intenção de votos do ex-prefeito de Belo Horizonte entre os eleitores do petista. Apesar disso, Kalil conseguiu acabar com a vantagem do governador Romeu Zema (Novo) nessa fatia do eleitorado, e os dois agora estão tecnicamente empatados. É o que mostra a nova rodada da pesquisa DATATEMPO, que mostrou também que Zema passou Kalil pela primeira vez na região metropolitana

Na prática, Kalil não ganhou votos entre os eleitores de Lula. O que ocorreu é que parte dos eleitores do petista que votavam no governador Zema passaram a não responder à pesquisa ou a dizer que não sabem em quem vão votar para governador em outubro, em vez de migrarem para o ex-prefeito de Belo Horizonte.

No mês de julho, o governador Zema tinha 5,8 pontos percentuais de vantagem sobre Kalil entre os eleitores do ex-presidente. A vantagem desapareceu em agosto, caindo para 0,8 ponto percentual, o que significa um empate técnico. 

Mesmo com o fim da vantagem de Zema, Alexandre Kalil ficou estável entre os eleitores de Lula: ele tinha 34% em julho e agora tem 33,6%. Já o governador tinha 39,8% há um mês e, atualmente, tem 34,4%, uma queda de 5,4 pontos percentuais, que não migraram para o candidato ao governo de Minas do PSD.

Os pontos de Romeu Zema foram para os indecisos: no mesmo período, os eleitores de Lula que não souberam dizer em quem votariam para governador ou não responderam à pergunta passaram de 10,3% para 16,7%. O aumento de 6,4 pontos percentuais praticamente se equivale à queda registrada pelo atual governador.

Vale ressaltar que na rodada atual da pesquisa DATATEMPO foram incluídos candidatos como Vanessa Portugal (PSTU), que herda 1,6% dos eleitores de Lula.

Lá e cá

O candidato à Presidência da República pelo PT tem abraçado a candidatura de Kalil e tentado impulsionar o aliado. Porém, ele evita criticar o governador Zema, já que o atual governador lidera as pesquisas. 

“Eu estou muito à vontade porque eu não vou fazer campanha falando mal do governador. Não o conheço e não pretendo chegar ao Estado falando mal das pessoas do Estado. Eu vou falar bem do Kalil, eu vou tentar mostrar por que é importante Minas Gerais eleger uma pessoa da qualidade do Kalil”, declarou o ex-presidente Lula na semana passada em entrevista à rádio Super 91,7 FM.

Desconhecimento

A cientista política e coordenadora de pesquisa do instituto DATATEMPO, Audrey Dias, explica que os votos dos petistas dentro do Estado que não se converteram em votos para o ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD) podem vir do desconhecimento sobre Kalil e do apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao ex-prefeito pelo eleitorado mineiro. 

“Como nós temos visto nas pesquisas, Kalil registra percentuais importantes de desconhecimento, sobretudo no interior do Estado. Por conta desse desconhecimento somado da população, verifica-se uma dificuldade do ex-prefeito de converter apoio do presidenciável”, explicou. 

Outro ponto destacado por Audrey Dias é que o governador Romeu Zema, do Partido Novo, vem “procurando se descolar cada vez mais de Lula”. “Esse esforço do Zema para se distanciar do ex-presidente Lula pode ter impactado o voto do eleitorado que faria a dobradinha ‘Luzema’, voto casado em Lula e no governador Zema”, explica.

Registro

A pesquisa foi contratada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Os dados foram coletados entre os dias 11 e 16 de agosto, com 2.000 entrevistas domiciliares em todas as regiões do Estado. A margem de erro é de 2,19 pontos percentuais. O intervalo de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-03361/2022, e no TRE-MG, MG-01547/2022.

Leia análise de Guilherme Ibraim, editor de conteúdo de política de O TEMPO:

O dia 19 de maio de 2022 marcou a assinatura do contrato de “empréstimo” da imagem e do legado político do ex-presidente Lula (PT) – com os erros, escândalos, vitórias e acertos que o caracterizam – para Alexandre Kalil (PSD). Entre a intenção e a realidade, até agora, os resultados das pesquisas de intenção de votos têm mostrado que a segunda tem dado sinais de que a cessão temporária do lulismo a Kalil fica apenas no campo das ideias.

O desafio da candidatura de Alexandre Kalil (PSD) foi delineado desde o primeiro levantamento do instituto DATATEMPO em 2022: fazer o eleitor percebê-lo como um “lulista” de primeira hora. Se isso fosse alcançado com êxito, o ex-prefeito de Belo Horizonte não se tornaria apenas muito competitivo, mas um rival de peso com chances concretas de derrotar Romeu Zema (Novo), amplamente bem avaliado pelo eleitor mineiro. 

Quase três meses depois do abraço ao petismo e a seu líder máximo, Kalil segue em busca de conseguir mimetizar, na cabeça do eleitorado mineiro, o ex-presidente. O esforço de interiorizar sua campanha de braços dados com deputados estaduais do PT que conhecem, como poucos, redutos eleitorais sensíveis aos anos de Lula no governo, não surtiram efeito até agora. A estratégia de se fazer conhecido por meio de entrevistas a rádios e jornais do interior, as caminhadas por regiões tão diversas quanto necessitadas de soluções para melhorar o seu dia a dia não foram capazes de criar o elã no eleitorado lulista de que Kalil é a melhor opção para lhe garantir uma vida melhor nos próximos quatro anos. 

Não se pode dizer que, ao menos no discurso, Kalil não tenha aderido de corpo e alma ao jeito do PT de se conectar com seu eleitorado. Mas não em todos os momentos. Se nos eventos corpo a corpo, em auditórios, salões e encontros organizados por lideranças petistas, Kalil consegue algum êxito, a impressão ao vê-lo no palco, ao lado de Lula e seus principais interlocutores, é de um distanciamento não na forma, mas na essência.

O comício realizado em Belo Horizonte na última quinta-feira, 18, mostrou um pouco dessa disparidade entre a intenção e a prática. Enquanto Lula falava a uma plateia sobre amor, esperança, um momento de prosperidade econômica que remete ao passado da “picanha e cerveja”, Kalil esbravejava uma resposta e um xingamento ao governador Romeu Zema. “Destoar” parece um verbo muito sutil para o que se passou por naquele momento.

Por enquanto, a campanha do ex-prefeito do PSD não foi capaz de criar uma fenda na popularidade de Zema, tampouco indica ter encontrado o tom exato para dialogar com um eleitor, em sua maioria, satisfeito com a ideia de ter Lula novamente no Palácio do Planalto, ao mesmo tempo em que dá a Zema a chance de ter um novo mandato na Cidade Administrativa. 

A chance ainda existe, especialmente com a possibilidade de o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão gerar um fato novo com maior exposição à política, mas o imperativo que deve trazer maior preocupação à campanha de Kalil é o tempo.
 

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