Candidata a deputada federal pelo PSOL em Minas Gerais, a liderança indígena Célia Xakriabá criticou o projeto do governo do Rodoanel defendido pelo governo do estado. O atual traçado prevê a construção da via na região da represa de Várzea das Flores, uma das principais fontes de abastecimento da Grande BH, além de cortar bairros em Betim e Contagem. “É preciso barrar o Rodoanel, que tem sido uma ameaça para várias populações em mais de 40 territórios”, disse. Xakriabá foi entrevistada nesta quinta-feira (18) pelo quadro Café com Política, da rádio Super 91,7 FM.
Para a liderança, não houve diálogo do governo mineiro durante a elaboração do projeto. “Foi assim com o Rodoanel, está sendo assim com a Serra do Curral, está sendo assim também no Norte de Minas Gerais, onde não tem levado em consideração as populações. Não foi levado em consideração as pessoas que estão convivendo e vivendo nesse território. É uma falta de relação humanitária. Nesse momento precisamos de pensar um projeto também de transição humanitária”, alegou.
Xakriabá ainda pontuou que o projeto do Rodoanel foi elaborado para beneficiar as mineradoras e lembrou ainda do cenário nacional. “Estamos acompanhando mais de 250 projetos de lei em relação à tentativa de liberar a mineração nas terras indígenas e o presidente do Congresso Nacional disse que é preciso ter coragem para liberar a mineração em terras indígenas, mas não estamos no século 19, o compromisso precisa ser com a vida e as pessoas. Não se come dinheiro, não se come minério. A terra está chamando, se as pessoas não escutarem, vai acabar para nós, mas vai acabar para todo mundo”.
Povos expulsos
Durante a entrevista, a liderança indígena reforçou que as populações que serão retiradas de seus territórios para a construção da rodovia vão perder vínculos. “No caso do Rodoanel, eu fico imaginando que vai ser assim como aconteceu conosco, povos indígenas. Não temos mais direito de conviver na cidade, quando estamos lá as pessoas dizem que deixamos de ser indígenas. Não fomos nós exatamente que chegamos na cidade, mas a cidade que chegou até nós. E o que nos resta são as periferias, e vai acontecer exatamente a mesma coisa com o Rodoanel. As pessoas não têm para onde ir, elas vão viver em um lugar de muita vulnerabilidade sem ter a dignidade e principalmente estando em lugar onde vão perder a relação com o território”, finalizou.