Em nove disputas ao governo de Minas, o PSDB mineiro enfrenta sua pior campanha no Estado. Em 32 anos, essa é a primeira vez que um candidato do partido pode não ficar entre os três primeiros colocados na disputa ao governo de Minas. A última vez que isso aconteceu foi em 1990, dois anos depois da criação da sigla. Na ocasião, Pimenta da Veiga (PSDB) teve 15,67% dos votos. A eleição daquele ano foi decidida em segundo turno entre Hélio Costa (PRN) e Hélio Garcia (PRS), que acabou vencendo a disputa com 51,28%.

Neste ano, a dois dias das eleições, o ex-deputado federal, Marcus Pestana (PSDB) aparece distante dos dois primeiros colocados nas pesquisas. Empatado, dentro da margem de erro, com Vanessa Portugal (PSTU), o tucano tem 1,3% das intenções de voto, segundo a última pesquisa DATATEMPO, divulgada nesta sexta-feira (30)

Com pouca oscilação na candidatura desde o início do período eleitoral, em agosto, o ex-deputado federal quase não cresceu ao longo dos últimos 28 dias de campanha. No início do levantamento realizado pela Sempre Editora, Pestana aparecia com 1,2% dos votos. Já no início de setembro, o tucano caiu e foi para 0,9%. Agora, a candidatura tem 1,3% das intenções de voto. 

Baixo desempenho

A frente das gestões mineiras por 12 anos consecutivos, o PSDB mineiro atribui o baixo desempenho nas eleições deste ano a diversos fatores, dentre eles a candidatura tardia de Pestana. O partido lançou um nome para a disputa ao governo do Estado no fim de julho depois que a legenda se desentendeu com o Cidadania e não aceitou que o jornalista Eduardo Costa (Cidadania) fosse vice de Romeu Zema (Novo). 

Na avaliação do vice-governador Paulo Brant (PSDB), que agora é candidato a vice na chapa de Marcus Pestana, a polarização na disputa presidencial contribuiu para a apatia dos eleitores na eleição estadual.  Para ele, o fato de Pestana não ser conhecido do grande eleitorado também foi decisivo para o desempenho da campanha. Segundo o levantamento DATATEMPO, realizado no fim de julho, 52% dos entrevistados afirmaram não conhecer o ex-deputado federal. 

Natural de Juiz de Fora, na Zona da Mata, Pestana foi secretário estadual de Saúde no governo Aécio Neves, deputado federal por dois mandatos e deputado estadual. "A  população em geral não acompanha o trabalho parlamentar. Essa campanha está muito esquisita, o número de pessoas indecisas ainda é alto. A população está desinteressada, a popularização está muito concentrada em Lula (PT) e Bolsonaro (PL), com isso, tem sobrado pouco espaço para as eleições estaduais”, analisa Brant. 

O presidente do PSDB em Minas Gerais, o deputado federal Paulo Abi-Ackel, candidato à reeleição, acredita que o partido voltará a governar o Estado nos próximos anos. Para ele, a política é feita de ciclos. "Estamos vivendo um momento político atípico, todos os partidos diminuíram de tamanho. Temos 35 partidos, todos estão menores, mas o fato do PSDB estar atravessando esse período mostra a força que temos e tenho quase certeza que em breve voltaremos ao protagonistamo”, pontuou. 

Declínio do PSDB começou em 2014, aponta especialista

Para além da disputa mineira, na avaliação do cientista político e professor de sociologia da ESPM, Paulo Ramirez, o baixo desempenho do PSDB nestas eleições não é resultado de agora e nem está associado somente ao cenário mineiro. Segundo o especialista, o partido vem minguando em todo o país desde 2014, quando Aécio Neves (PSDB) perdeu a disputa presidencial para Dilma Rousseff (PT) no segundo turno das eleições. 

Segundo Ramirez, o fato de Aécio ter colocado em xeque o sistema eleitoral na época, rachou o partido. "Criou-se uma briga interna entre as grandes figuras do PSDB e isso teve reflexo nacional, a exemplo das prévias do partido no ano passado em que mesmo Dória (PSDB) vencendo as internas em São Paulo, foi rejeitado pelo diretório nacional. Desde então, uma briga interna descaracterizou as origens do partido”, explica. 

Para o professor, a falta de renovação das lideranças no PSDB também tem contribuído para o “desaparecimento” da legenda nas grandes disputas eleitorais. O partido enfrenta também o pior desempenho nos últimos anos em São Paulo. Essa é a primeira vez que a legenda tem poucas chances de ir ao segundo turno no Estado. "Não souberam criar novas lideranças e passar o bastão. Ficaram só na velha guarda. O eleitorado hoje se assemelha mais com imagens populistas e o PSDB não tem lideranças carismáticas, estão mais ligados a gestão burocrática e eficiente", afirmou Ramirez, que critica também a falta de renovação das bandeiras defendidas atualmente pelo partido. 

"Não se adaptaram às novas linguagens e demandas da sociedade. O partido tenta manter a tradição de uma legenda que recuperou a economia e estabilizou a inflação, mas isso já tem tempo, o eleitor não se lembra e tem necessidade de novas pautas”, completou o especialista. 

Na reta final das eleições deste ano, Paulo Brant defende que o partido analise os resultados para repensar as estratégias do partido para colocar o PSDB de volta ao protagonismo. "Vamos avaliar e repensar. Uma coisa é voltar para as bases, no interior a militância, que é muito forte, está desassistida. Mas o PSDB é um partido que tem força para se aglutinar as forças de centro e conciliar as bandeiras de mercado e de políticas públicas", avalia. 

Desempenho do PSDB em Minas Gerais 

-1990:  Hélio Garcia (PTB) vence as eleições em segundo turno; Pimenta da Veiga (PSDB) fica em terceiro lugar, com 15,67% dos votos 

- 1994: Eduardo Azeredo (PSDB) ganha a disputa mineira no segundo turno, com 58,6% dos votos 

- 1998: Eduardo Azeredo (PSDB) é derrotado no segundo turno por Itamar Franco (PMDB). Na disputa, Azeredo teve 38,32% dos votos

- 2002: Aécio Neves (PSDB) é eleito em primeiro turno, com 58% dos votos 

- 2006: Aécio Neves (PSDB) é eleito em primeiro turno, com 77% dos votos 

- 2010: Antonio Anastasia (PSDB) é eleito em primeiro turno, com 63%

- 2014: Pimenta da Veiga perde no primeiro turno, com 41,89% dos votos. Fernando Pimentel (PT) venceu a disputa, com 52,98% dos votos. 

- 2018: Antonio Anastasia (PSDB) foi derrotado no segundo turno contra Romeu Zema (Novo). Na disputa, Anastasia teve 28% dos votos

- 2022: Marcus Pestana (PSDB) aparece com 1,3%, segundo as pesquisas de intenção de voto