Até o dia 8 de dezembro, o Itaú Cultural Play (ICPlay) recebe uma janela de filmes que integram a programação de um dos mais representativos festivais de documentário do país, o forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, Fórum de Antropologia e Cinema, que está em sua 28ª edição.
Presencialmente, o festival acontece em dois espaços de Belo Horizonte – o Cine Humberto Mauro e o Cine Santa Tereza – até o dia 1º de dezembro.
Já virtualmente, o festival leva 10 filmes à plataforma gratuita de cinema brasileiro mantida pelo braço cultural do Itaú. As produções integram a Mostra Contemporânea Brasileira, que reúne o cinema produzido em diversos estados do país nos últimos dois anos, e a Mekarõ Ti: Mostra-Seminário Coletivo Beture de Cineastas Mebêngôkre, com filmes assinados pelo Coletivo Beture, um dos grupos de realização indígena mais atuantes no país hoje, formado por cineastas da etnia Mebêngôkre-Kayapó.
Os curtas e longas-metragens da seleção, além de dialogarem com a cosmovisão indígena, incorporam temas relacionados ao patrimônio afrobrasileiro e à desigualdade no país.
Seleção
Entre os filmes exibidos no ICPlay está o curta Tuíre Kayapó – O gesto do facão (2023), de Patkore Kayapó e Simone Giovine, relembra o gesto emblemático da ativista Tuíre Kayapó, morta em agosto deste ano, durante o Encontro das Nações Indígenas do Xingu, em 1989, quando uma mulher, então com 19 anos, confronta o então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz, colocando um facão em seu rosto, em protesto à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, no Pará.
Por sua vez, o curta Mebêngôkre pyka mã ruwyk â ujarej – A chegada dos Mebêngôkre na Terra (2024), que Simone Giovine dirige junto de Kokokaroti Txucarramãe e Matsipaya Waura Txucarramãe, faz referência ao líder indígena e ambientalista Raoni Metuktire, conhecido como Cacique Raoni. No enredo, ele conta aos jovens cineastas Kayapó a história da chegada do povo Mebêngôkre na terra.
O longa-metragem Bibiru: kaikuxi panema (2023), de Latsu Apalai e André Lopes, segue um caminho similar aos dos filmes anteriores. O protagonista é Bibiru, um cachorro de caça da aldeia Bona, no Pará.
Já o curta-metragem Nhemboaty kunhangue (2023) mostra o papel fundamental das mulheres Mbya-Guarani na existência material e imaterial da aldeia. A direção é da dupla Para Yxapy Patrícia e Geórgia Macedo. O filme foi captado em uma oficina de audiovisual do III Encontro Nacional de Mulheres Guarani, realizado em 2023, na aldeia Tekoa Koenju, no Rio Grande do Sul.
Os sonhos guiam (2023), de Natália Tupi, por sua vez, é um registro dos costumes dos Mbya- Guarani, etnia espalhada em aldeias em vários locais do Brasil e de outros países da América do Sul, que traduz a perspectiva da comunidade acerca dos sonhos a partir das experiências espirituais e sensoriais do jovem líder indígena Mateus Wera, morador da Terra Indígena Jaraguá, na capital paulista.
Também um curta-metragem, mas não de realização indígena, A fumaça e o diamante (2023) narra o reencontro emocionante de uma família Yanomami após uma densa fumaça tomar conta da Aldeia Catrimani, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, em outubro de 2016. Assinam a direção Bruno Villela, Fábio Bardella e Juliana Almeida.
O último filme da curadoria protagonizado apenas por indígenas é A transformação de Canuto (2023), da dupla de cineastas Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho. O longa-metragem, uma mescla entre documentário e ficção, foi premiado com quatro Kikitos no Festival de Gramado deste ano: melhor filme, direção, ator e fotografia. Ele resgata a lenda de Canuto, originária de uma pequena comunidade Mbya-Guarani entre o Brasil e a Argentina, que fala de um homem que, há muitos anos, se transformou em onça e depois morreu tragicamente.
Lançado neste ano, O encantar das folhas amplia o enfoque da seleção para além das questões indígenas. O longa-metragem explora a relação entre natureza e espiritualidade em diferentes culturas brasileiras, como o Candomblé Jeje, a Umbanda e a cosmovisão de mestras indígenas do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e da Amazônia. Os cineastas César Guimarães e Pedro Aspahan são os diretores.
Por fim, os documentários Carteira assinada (2023), de Pietro Picolomini, e Amadeu (2024), de Felipe Canêdo, ambos longas-metragens, encerram a janela de filmes do forumdoc.bh no ICPlay. O primeiro se debruça sobre as questões sociais e econômicas do Brasil e da América do Sul ao colher relatos de pessoas que esperam em uma fila em busca de emprego no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Já o último retoma a discussão acerca do patrimônio afrobrasileiro ao mergulhar na trajetória de Amadeu Martins, mestre de capoeira responsável por popularizar a prática e a cultura africana em Belo Horizonte.
SERVIÇO:
O quê. Janela do forumdoc.bh leva 10 filmes ao ICPlay
Quando. Até 8 de dezembro – com exceção dos filmes A transformação de Canuto e Amadeu, que ficam no catálogo até este domingo (1º)
Onde. Na plataforma ICPlay
Quanto. Gratuito