São muitas as contribuições italianas para a constituição da cultura brasileira. Influências que, não raro, sabendo olhar, encontramos em cada esquina. Podem surgir em clássicos um tanto óbvios, como as pizzarias que reúnem famílias inteiras, ou em outras expressões, que até atraem olhares, mas exigem um pouco mais de conhecimento para identificar sua origem, caso de edificações que, já incorporadas às nossas cidades, são legítimas representantes de técnicas e estéticas italianas. 

É justamente sobre esse diversificado legado que se debruça o Festival de História (fHist), que realiza, a partir do dia 28 deste mês, em Belo Horizonte, uma edição especial celebrando os 150 anos da imigração italiana.

“Embora já existissem pessoas vindas da Itália no Brasil, o marco inicial é o ano de 1874 porque é quando chega ao país, embarcados no navio La Sofia, que ancora em Vitória, no Espírito Santo, o primeiro grupo organizado desses migrantes, que formam sua primeira colônia na serra capixaba”, explica o jornalista Américo Antunes, idealizador e organizador do fHist, que, desta vez, realiza o evento em parceria o Consulado Geral da Itália Belo Horizonte e a Câmara Italiana de Comércio de Minas Gerais.

“Nosso foco, então, é celebrar a chegada deles e refletir sobre como essa presença foi importante para a formação da nossa identidade”, completa, ao defender que, além das matrizes indígenas, africanas e portuguesa, as contribuições italianas estão, hoje, no cerne da cultura brasileira, sendo manifestadas em diversos segmentos.

“Na economia, por exemplo, temos essa contribuição por meio do empreendedorismo desses imigrantes. Em BH, podemos citar que a padaria que deu nome à Savassi foi fundada por ítalo-descendentes”, comenta, listando outros exemplos, caso de empreendimentos de grande porte como a Fiat e a Sada, a primeira de origem italiana e, a última, fundada por um italiano nativo. “A Sada, inclusive, é uma das parceiras desta edição”, situa. 

“Essa presença se faz perceber também nas artes visuais, na pintura, fotografia e desenho, nas artes cênicas, no teatro e cinema, e também, claro, na gastronomia”, menciona. Falando especificamente sobre a capital mineira, ele cita ainda influências na arquitetura e até no plano diretor original da cidade. 

“BH, ao ser planejada e construída, teve contribuição italiana tanto no desenho da cartografia urbana quanto na própria mão de obra. Por isso, essa contribuição aparece tanto em termos estéticos, mais notável em locais como a praça da Estação, o Palacete Dantas, além de várias outras construções em estilo neoclássico, quanto na formação de bairros operários, constituídos por esses trabalhadores que vieram para a cidade atraídos pela oferta de emprego no grande canteiro de obras que a construção da cidade exigiu”, aponta.  

Na agricultura, Antunes destaca influências na cafeicultura, sobretudo no Sul de Minas e na Zona da Mata. “Estamos falando de uma gama de contribuições muito ampla, que vamos repassar durante o festival por meio de diversas linguagens”, estabelece o organizador, destacando que a fHist é tradicionalmente realizada a partir de três eixos principais: “O primeiro é propriamente literário, incluindo mesas de debate com autores, escritores, pesquisadores, jornalistas e historiadores, além de prosas com autores e feiras de livros. O segundo é educativo, incluindo oficinas, aulões e minicursos. E, o terceiro, é artístico e envolve desde a música até sessões de cinema e apresentação de peças de teatro”.

História

A estruturação do fHist por meio desse tripé multidisciplinar, diga-se, é uma realidade desde a sua estreia, em 2011. “O projeto nasceu visando democratizar o acesso a temas da história, que, infelizmente, costumam ficar em segundo plano. O objetivo geral, então, é tirar a história de dentro da academia para popularizá-la por meio da produção literária e de outras expressões artísticas”, indica Américo Antunes.

Da primeira edição até a mais recente, em setembro deste ano, foram sete edições regulares, realizadas bianualmente, sempre em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, além de duas extraordinárias – a primeira em 2015, na cidade portuguesa de Braga, e a outra em 2022, celebrando o bicentenário da Independência do Brasil, com atividades em Belo Horizonte e nas duas antigas capitais mineiras, Mariana e Ouro Preto.

Desta vez, a programação de mesas literárias inclui conversas sobre temas como: “Itália-Brasil: Histórias da grande imigração”, “Os italianos e a invenção de BH” e “Roteiros Nacionais da Imigração”. As ações contemplam ainda feira de livros e prosas com autores, tenda de memórias de descendentes de italianos em BH, oficinas, contações de histórias e exposições. Já a culinária italiana é destaque não só em uma feira gastronômica, como também em shows cooking e oficinas.

Com uma série de atividades gratuitas nos dias 28, 29 e 30 de novembro, no jardim do Palácio das Artes e no Teatro João Ceschiatti, a íntegra da programação será anunciada no dia 14 de novembro.

SERVIÇO:
O quê. fHist celebra os 150 anos da imigração italiana no Brasil
Quando. A partir do dia 28 de novembro. Até 30/11.
Onde. Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto. Gratuito. Algumas atividades estão sujeitas à lotação.