É quase uma estreia. Para Fernanda Vianna, produtora e diretora da peça “O Boi e o Burro no Caminho de Belém”, a volta aos palcos neste final de semana, na Funarte, tem um gostinho especial, com o mesmo frio na espinha de quando foi apresentada pela primeira vez, em 2022.

Em Belo Horizonte, ela estreou no primeiro momento de reabertura após a pandemia, no CCBB. “Fizemos uma curta temporada, quando ainda estavam abrindo os teatros, com todas aquelas restrições, o que dificultou bastante a ida das crianças”, ressalta Fernanda.

Essa felicidade ficou evidente nos ensaios, em que a atriz do Galpão não parava de rir com as cenas que, ela frisa, não divertirão apenas as crianças. “Os atores são formados em palhaçaria e improvisam muito. A gente adicionou algumas coisinhas, mas a estrutura é a mesma”.

O texto, detalha Fernanda Vianna, dá protagonismo para dois personagens “simplesinhos” do dia do nascimento de Jesus, numa estrebaria, quando Maria e José estão a caminho de Belém. “E eles ficam falando como poderia acontecer algo ali, tão sujo e pobre”, assinala. 

Para a diretora, o texto se apoia nesses personagens secundários para falar da importância da amizade, da alegria e da fé. “Não é bem uma peça religiosa. As músicas mencionam esta data festiva e amorosa, mas é um pano de fundo para abordarmos esses sentimentos”.

Fernanda frisa que é muito importante falar sobre fraternidade e amor agora, especialmente num “mundo em que a gente ainda consente com guerras e genocídio de crianças e de tanta gente inocente”.

O espetáculo é recheado de músicas ligadas ao período de Natal, selecionadas por Ernani Maletta. “Ele trouxe canções lindas colhidas do folclore natalino do mundo inteiro. Elas são muito singulares e pouco conhecidas, e trazem o mistério e a beleza do Natal”.

Um dos pontos altos é quando surge a canção espanhola “La Stela”, executada no instante do nascimento de menino Jesus. “É linda de chorar. Gosto de contar de uma apresentação em libras em que a tradutora ficava enxugando as lágrimas durante a música”, registra.

Nenhuma canção é gravada. Todas elas são apresentadas ao vivo pelos próprios atores, o que remete muito ao estilo teatral do Galpão. O repertório musical, por sinal, vai muito além do que foi proposto por Maria Clara Machado, autora do texto que inspira a peça, apresentado em 1953.

A adaptação foi viabilizada com a produtora Oitis, criada ao lado do marido e também ator Rodolfo Vaz. Ele é quem iria dirigir a peça. "Foi uma oportunidade que surgiu. A Manuela Dias nos deu esse texto, mas ele não pôde, por questão de agenda e eu dirigi”, lembra Fernanda Vianna

Não é a primeira investida de Fernanda no universo infantil. Ela também assina a direção do musical infantil “Berenice Soriano” e o balé “O Patinho Feio”, para o Ballet Jovem de Minas Gerais. “Acho que isso vem da minha escola, no Galpão, que atinge diversas idades a partir de uma dramaturgia mais popular”.

Ela está buscando recursos para montar outra peça para o público mirim, desta vez com o tema meio ambiente. “Quero contar uma história que as pessoas possam amar os rios, a Natureza”, adianta Fernanda, que vem de um ano muito frutífero, ao ganhar o Kikito de melhor atriz no Festival de Gramado, pelo filme “Cidade; Campo”.

SERVIÇO

O quê. Espetáculo musical natalino “O Boi e o Burro no Caminho de Belém”
Onde. Galpão 3 da Funarte MG (rua Januária, 68, centro)
Quando. Sexta, às 20h, e sábado e domingo, às 16h 
Quanto. Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados na bilheteria da Funarte, com uma hora de antecedência