Fechado para visitação em seu interior desde 2019, apenas três anos após ser reconhecido Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, o edifício que abriga o Museu de Arte da Pampulha (MAP) vai, enfim, passar por uma série de intervenções para, após obras de restauro e adequações, ser reaberto. A perspectiva é que as reformas transcorram em até três anos, contados a partir de 2025.

O empreendimento representa o maior investimento de recursos públicos já feito no equipamento ao longo de mais de seis décadas de atividade. O projeto inclui também a criação da Casa MAP, destinada a receber o acervo técnico do museu, além de uma biblioteca especializada, um centro de documentação e de pesquisas. No total, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) estima um custo de aproximadamente R$ 35 milhões.

As obras, porém, não vão paralisar as ações do MAP, que passam a ser realizadas em outros endereços. A mostra da 9ª Bolsa Pampulha, intitulada “Camará”, por exemplo, foi inaugurada na quarta-feira (18), nas galerias do térreo do Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (CCBB BH).

O prédio que sedia o Museu de Arte da Pampulha (MAP) | Crédito: Flávio Tavares/O Tempo

Os anúncios foram feitos pela secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, durante coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (19). Também participaram a diretora de museus da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Isabela Guerra, a gerente do Conjunto Moderno da Pampulha, Janaína França, e o diretor de Patrimônio Cultural da FMC, Carlos Henrique Bicalho. À tarde, a comitiva realiza uma apresentação geral, aberta ao público, nos jardins do MAP, em que volta a detalhar o cronograma das ações.

“A ideia é que seja uma rede de espaços no território tendo como grande conceito o pensamento de fortalecimento da instituição como referência nacional, como o lugar é reconhecido, ao longo de suas seis décadas de história, por seus programas e ações que referenciam e inspiram instituições do Brasil inteiro”, descreve Eliane. 

Ela prossegue dizendo considerar o próprio edifício como parte do acervo do MAP. O prédio, aliás, é protegido nas instâncias municipal, estadual e federal, além de gozar do reconhecido como patrimônio da humanidade por integrar o Conjunto Moderno da Pampulha. “Desde a conquista do título, aliás, a capital mineira assumiu o compromisso com o processo de conservação preventiva e restauração do equipamento”, lembra a secretária de Cultura do município.

Imagem revela área danificada na fachada do MAP | Crédito: Flávio Tavares/O Tempo

Originalmente, a edificação foi projetada por Oscar Niemeyer para ser um cassino – e funcionou como tal entre 1943 e 1946, quando os jogos de azar passaram a ser proibidos no Brasil. A reabertura do espaço, já com uma proposta museológica, ocorreu em 1957.

Hoje, o museu possui um acervo artístico de mais de 1.500 itens e obras. Seu centro de documentação soma mais de 40 mil arquivos, inclusive do período anterior à abertura do MAP, sendo um dos mais importantes do país por jogar luz não só à história do próprio museu, mas também sobre a constituição da arte brasileira. Já a biblioteca especializada inclui 5.000 títulos.

MAP

“Esse processo de restauração e adequação que iniciamos agora tem alguns objetivos. Surge, primeiro, da necessidade de manutenção e reparos necessários. Também precisamos qualificar as instalações para uso museológico e atender normas de acessibilidades. Por fim, outro objetivo é salvaguardar aspectos de integridade e originalidade do edifício”, informa Eliane Parreiras. 

A secretária municipal de Cultura ainda indica que todas as medidas adotadas foram baseadas em extensa pesquisa, incluindo revisão de fotografias históricas e ensaios técnicos. Só a planilha de orçamentação somou mais de 1.300 itens, enquanto, o projeto técnico, 16 versões. “É um processo longo, cujas complexidades incluem a própria arqueologia do prédio, a necessidade de ensaios técnicos e busca de soluções inovadoras e não invasivas, além, claro, da exigência de constante diálogo com os três órgãos de proteção do patrimônio cultural (DIPC, Iepha e Iphan)”, ressalta.

Foto mostra estrutura que necessita de reparo no prédio sede do MAP | Crédito: Flávio Tavares/O Tempo

Na prática, entre as mudanças, estão melhorias no espaço expositivo. Ocorre que, com paredes envidraçadas, o MAP impõe desafios à organização de mostras, deixando obras expostas à incidência da luz solar. “Como melhoria, na restauração, a gente está aumentando a espessura dos vidros e colocando proteção de insolação, que não interfere na transparência, para que tenhamos melhor qualidade nesse espaço expositivo de proteção às obras”, informa Isabela Guerra, diretora de Museus da Fundação Municipal de Cultura (FMC).

Ela acrescenta que, no equipamento, busca-se fazer exposições de curta e média duração, entendendo tanto a demanda do público, de ter mais diversidade de mostras, quanto para evitar que obras fiquem expostas tanto tempo naquele espaço.

Outra mudança diz respeito ao novo uso da área hoje destinada à reserva técnica do museu, que será levada para a Casa MAP, atualmente em construção. Desocupado, o espaço será destinado a ações do educativo e atendimento ao público. Por fim, o setor abaixo do auditório terá seu piloti valorizado a partir do recuo da vidraçaria, ampliando o vão integrado aos jardins do local.

Casa MAP

Em paralelo ao projeto de intervenções no edifício sede, um espaço que pudesse receber a Casa MAP, espaço de acervo e pesquisa, foi prospectado. O imóvel selecionado também está localizado na avenida Otacílio Negrão de Lima, no entorno da Lagoa da Pampulha, e pertence ao município de Belo Horizonte. Até então, ele estava cedido à Copasa, sendo devolvido a fim de atender à nova finalidade.

Imóvel destinado a receber a Casa MAP | Crédito: Flávio Tavares/O Tempo

“Esse espaço, conceitualmente, vai receber a reserva técnica, que é uma das mais modernas do Brasil e a mais moderna de BH, e também será sede de um centro de pesquisa, incluindo um centro de documentação, uma biblioteca, um espaço educativo e, por fim, um centro de acolhimento dos nossos projetos de pesquisa, sejam eles sobre o acervo, a relação da instituição com outras do país ou a história de ações como o Salão Nacional de Arte, que deu origem ao atual Bolsa Pampulha”, explica Eliane.

No lugar, foi realizado um projeto arquitetônico de reforma e ampliação, além de uma construção anexa, que está em fase de finalização da primeira etapa e será destinada à reserva técnica qualificada.

“A estrutura de reserva técnica que temos hoje foi feita na década de 1990 e, embora não deixe o acervo em risco, já esgotou-se, seja em termos de espaço, não tendo para onde crescer dentro do museu, seja por não ser possível aplicar nela as novas tecnologias de conservação desenvolvidas nos últimos anos”, menciona, indicando que, na Casa MAP, a área quase dobra de tamanho, saindo dos atuais 158 m² para 359 m².


Nova construção, em fase final, vai acolher a reserva técnica do MAP | Crédito: Flávio Tavares/O Tempo

“E, agora, com mobiliário adequado, feito para o local a partir de um programa de necessidades específicas, incluindo laboratórios seco e úmido e espaço para quarentena, para onde as obras que vão sair da reserva para serem expostas vão antes de sair ou voltar ao acervo”, detalha.

Os próximos passos, diz Eliane, incluem a execução da climatização da reserva técnica e implantação do mobiliário. A partir de então, é realizada a transferência da reserva técnica para este novo endereço ainda no começo de 2025, quando são iniciadas as obras de restauração no prédio sede do MAP.