Um espaço dedicado a união entre a arte, dança e música, onde o Passinho, clássica dança do funk nacional, pode ser aprendido por pessoas de todas as idades. É isso que o projeto “Na sombra das mangueiras”, iniciativa da Casa Fiat de Cultura em parceria com o grupo Lá da Favelinha Dance, trouxe para o local neste sábado (11 de maio) com uma oficina da dança ofertada pelo dançarino Victor Guilherme, mais conhecido como Vitinho do Passinho.

A oficina abre a temporada de atividades do projeto “Na sombra das Mangueiras” em homenagem as mangueiras centenárias que trazem frescor e sombra para a parte de trás da Casa Fiat de Cultura. O nome da iniciativa faz referência ao espaço onde atividades culturais diversas e abertas ao público são realizadas na parte externa da casa.

Segundo Hertz Alvez, gestor da Casa Fiat de Cultura, o tema das oficinas do “Na sombra das Mangueiras” está associado à exposição exibida pela Casa Fiat no momento. Até o dia 19 de maio o espaço expõe as fotografias da exposição “Revela”, do artista de Belo Horizonte, Coniiin. Nas 12 peças da coleção, o mineiro retrata temas com os quais se identifica e pessoas que o inspiram, mostrando a diversidade, identidade e beleza da pele negra.

Em concordância com a exposição, a Casa Fiat escolheu para a abertura a oficina de passinho. “A gente precisa quebrar paradigmas, e a cultura que a Casa Fiat representa para Belo Horizonte é voltada para a diversidade, então é muito importante termos ações como a Oficina de Passinho. O funk faz parte da cultura brasileira, da diversidade que nosso país tem. É um grande passo que a gente dá e incentiva que outros equipamentos culturais também busquem essa harmonia “, comenta Hertz Alvez.

Kadu dos Anjos, 33, criador e presidente do Centro Cultural Lá da Favelinha esteve no evento. “É muito interessante como órgãos daqui de baixo, do asfalto, convidam a periferia para descer e mostrar nossa arte, que é uma arte marginal, que está as margens da sociedade. Descer com o passinho de funk para um espaço como esse, inicialmente, é algo revolucionário. E a partir dai é mostrar que essa barreira que existe, que é visível, apesar de ser invisível, ela se quebra e bota todo mundo para dançar”, reforça.

Funk é cultura e inclusão

A oficina atraiu pessoas de todas idades. Idosos, crianças e jovens acompanharam os passos. Para Kadu, o perfil das pessoas participantes da oficina reflete o próprio funk. “O funk é inclusivo, ele é gerador de renda, ele é formador de cidadão e isso estamos provando aqui hoje”, comenta.

“É muito importante ser representante da massa funkeira em Minas Gerais. E cada oportunidade de compartilhar mais dessa cultura é uma oportunidade. Então a Casa Fiat abriu mais essa porta e está sendo mágico aqui, espero voltar mais vezes”, destaca Vitinho do Passinho, responsável por conduzir a oficina.

Para quem acompanhou a aula, o carisma e talento do dançarino fez toda a diferença para tornar a tarde um momento agradável. Foi essa a percepção da professora Isabella Salles, que viu sobre a oficina na internet, se inscreveu e trouxe o marido e as filhas. “Eu adoro passinho, gosto de ver, de acompanhar. E a oficina foi ótima, super divertida e valoriza a cultura brasileira e as nossas tradições. E eu gostei muito de como o Vitinho conduz, ele tem uma energia muito positiva e cativante. Foi o que me chamou mais atenção, um rapaz muito jovem, e com um talento muito grande!”, comenta.

As diferenças do passinho 

O passinho possui características regionais por todo o Brasil, assim como o próprio funk. O passo de dança tem suas origens ligadas ao começo dos anos 2000, na favela carioca do Jacarezinho. E foi no Rio que o passinho virou mais que uma expressão cultural e dança. Em março de 2024 o movimento de dança foi considerado Patrimônio Imaterial do estado.

Vitinho explica que o que diferencia os passinhos nos principais estados e cidades do Brasil que são expoentes do funk, como BH, São Paulo, Rio e Recife, é o ritmo da musica. “Hoje o funk tem várias vertentes. Chega no Rio tem o passinho foda, BH tem o passinho malado, Recife o brega funk. Mas o que muda entre eles é o BPM. No Rio eles tem uma pegada mais quente, então é 150 BPM, é mais quente, mais acelerado. Chega em BH, a gente escuta um BPM 130, 135, no máximo 140. E o recife, deve ser uns 120, que é mais uma marcação, mas não deixa de ser funk”, explica.

Assim como no Rio, para Kadu o passinho de BH também é um patrimônio imaterial da cidade, e precisa ser reconhecido. “Passou da hora dos poderes entenderem o poder que o funk tem. O passinho malado encanta os bailes, que é uma dança mais coreografada e em conjunto. E eu acredito que quando o povo enxergar o poder que o funk tem, muita coisa vai mudar, e a gente está nessa luta, provando isso”, comenta