Em um último ato, que coroa o lançamento de seu mais recente trabalho, o cantor e compositor belo-horizontino Cliver Honorato sobe ao palco do Teatro do Centro Unimed-BH Minas, na noite desta quinta-feira (16), para realizar o registro ao vivo do repertório do álbum “Indolente Malandragem”, de 2022.
A gravação do DVD ocorre na sequência da circulação do show por diversas regionais de BH, onde o artista selou parceria com músicos atuantes nessas áreas. Agora, os convidados de então voltam à cena nesta nova apresentação – caso do compositor, cantor e violonista Júlio Marotta, do cantor e violonista Edimar Boaventura, da poetisa e slammer Xiatitia, dos cantores e compositores Iaiá Drumond e Marquim D’Morais, do compositor e violonista André Oliveira e do multi-instrumentista e compositor Everton Coroné.
Na banda, Cliver e seus convidados são acompanhados por Fillipe Glauss nas guitarras, Manassés Morais no contrabaixo, Yuri Fonseca Maia na bateria e Lucas de Moro nos teclados. Já a cenografia inclui projeções do VJ Luci, enquanto a iluminação foi elaborada por Régelles Queiroz.
Ideia, maturação e realização
Cliver Honorato relata que a ideia de criar um novo álbum o inquietava desde antes da pandemia da Covid-19. Nesse período, o artista chegou a lançar uma campanha de financiamento coletivo, arrecadando pouco mais de R$ 15 mil, que garantiram a gravação de um single, lançado com a intenção de funcionar como um marco, estabelecendo de onde este projeto partiria.
A maior crise sanitária em cem anos, contudo, se impôs, impedindo que o desenrolar imediato do novo álbum. Mas, ainda que em outro ritmo, aquela ideia continuava presente na rotina de Cliver, e assim, pouco a pouco, as canções foram surgindo, até que, quando se deu conta, já as possuia em número suficiente para fechar um novo disco.
“Percebo agora que a própria pandemia foi importante para consolidar o conceito desse trabalho, que fala de dilemas da vida na contemporaneidade – que ficaram tão explícitos nesse período, quando convivemos com questões ligadas à negação da ciência e outras diversas questões que, de alguma maneira, nortearam as composições”, cita.
O empurrãozinho que faltava para que o projeto fosse consumado veio com a chance de financiá-lo via Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural. “A partir disso, eu e o meu parceiro, o compositor Mamutte, finalizamos as canções”, lembra.
Provocativo
O título do novo trabalho musical de Cliver Honorato tem um quê de provocativo. “Em 2018, o então vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse que o Brasil era um país que não dava certo porque tinha herdado a indolência do indígena e a malandragem do negro. Essa fala me incomodou muito. E esse incômodo virou música”, relata.
A decisão de que o trabalho seria homônimo à faixa “Indolente Malandragem”, porém, não foi tão óbvia para Cliver. “Na verdade, essa composição nem sequer faz parte do repertório do disco novo”, informa, acrescentando que, por um tempo, até buscou outro título. “Mas este acabou se impondo por sua força. Com ele, minha ideia é dizer que a indolência e a malandragem são, na verdade, instrumentos para que possamos resistir a toda hostilidade e agressão, são atributos para que a gente não se dobre a dor e siga nosso caminho”, reflete.
Questões prementes
O álbum “Indolente Malandragem” tem como faixa de abertura a música Astrológicos – “que falando de um amor que, de certa forma, rompe as previsões”, explica Cliver Honorato. Na sequência, aborda o tema da soberba, da relação disfuncional com o dinheiro, em Medusa, e a invisibilidade social, em Sujeito Oculto. “Eu havia lido um artigo sobre essa temática e quis tratá-lo, abordando-o de forma mais ampla, pensando em termos da invisibilidade ligada não só ao campo profissional, mas também racial ou associado à sexualidade”, descreve. Em Onde Se Brinda a Boa Vida, por sua vez, o músico reflete sobre o pensamento conservador, da figura que quer se libertar dos julgamentos externos. “Falo também sobre o momento de baixo astral que vivemos, sobre a depressão, a vida nas redes sociais e outros temas contemporâneos”, resume.
O artista lembra que, antes de ganhar uma versão ao vivo, o projeto, além de ser distribuído nas plataformas digitais, também foi produzido em formato físico. “Ele vem em uma caixinha, como uma caixa de remédio. O encarte aparece na forma de uma bula, enquanto o trabalho simula uma pílula, vindo em um pendrive (que reúne músicas e making off)”, explica, lembrando que, agora, além da gravação do DVD, a circulação de “Indolente Malandragem” se deu por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, que possibilitou que o projeto circulasse por centros culturais das regiões Noroeste, Barreiro e Venda Nova, conectando músicos da cena independente de Belo Horizonte, que selam essa história com o registro ao vivo do show nesta quinta-feira (16).
SERVIÇO:
O quê. Gravação do DVD ‘Indolente Malandragem’, de Cliver Honorato
Quando. Nesta quinta-feira (16), às 20h
Onde. Teatro Centro Cultural Unimed-BH Minas (r. da Bahia, 2.244, Lourdes)
Quanto. Entrada gratuita. Ingressos devem ser retirados nas bilheterias do teatro