ARTE PARA CURAR

Festival Abraça honra a memória das 272 vítimas da tragédia de Brumadinho; veja programação

Evento chega neste fim de semana enaltecendo a vida de quem se foi em Brumadinho e honrando a de quem ficou

Por Laura Maria
Publicado em 23 de maio de 2024 | 07:45 - Atualizado em 23 de maio de 2024 | 15:47
 
 
 

Há exatos 1.953 dias, uma tragédia marcaria a história de Minas Gerais indelevelmente. Em 25 de janeiro de 2019, a barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, se rompeu, ceifando as vidas de 272 pessoas – duas delas ainda em gestação.

Transcorridos cinco anos e quatro meses desde aquele doloroso dia, familiares e amigos ainda seguem travando muitas lutas, dentre elas a de preservar a memória daqueles que já partiram. O Festival Abraça, que será realizado neste sábado (25), domingo (26) e na próxima quinta-feira (30), chega a Belo Horizonte, Brumadinho e Sarzedo justamente para cumprir com esse propósito.


Durante os três dias, serão realizadas apresentações de teatro, de circo e de música, além de uma feira gastronômica, oficinas e atividades infantis. O festival será encerrado na quinta (30), em BH, com o show “Canto Negro Para Milton Nascimento”, do cantor e multiartista Sérgio Pererê. Para ele, “é de extrema importância, para qualquer artista de Minas Gerais, pôr a voz, o corpo e o rosto manter vivas essas memórias.”

“Ao colocar a música no palco, nós reforçamos a história de Brumadinho, e, de certa forma, dizemos o quanto amamos Minas Gerais. É uma maneira de honrar a memória de quem partiu e a vida de quem ficou”, aponta.


O repertório de Pererê, que contempla músicas de Milton Nascimento em que são evidenciados a africanidade da obra dele, a propósito, encontra pontos de interseção com a história das vítimas.

“Por mais que Milton não tenha nascido em Minas, ele é o artista mais mineiro do mundo, porque traz o Estado o tempo todo em suas canções. A obra dele está totalmente conectada com o amor a Minas: o repertório do Milton é uma declaração de amor a Minas Gerais. E quando penso no festival, não o imagino de maneira isolada”, evidencia o artista, que cantará ao lado de Luedji Luna, Nath Rodrigues e Thamiris Cunha.


Para Pererê, a arte cumpre o papel tanto de levar leveza e conforto para os familiares e amigos das vítimas como em provocar reflexões diante da tragédia. “Com a música, é possível protestar contra o que aconteceu como também acalentar os corações”, assinala Pererê. A visão do artista, inclusive, vai ao encontro com o objetivo do evento.

“A gente pretende que o Festival Abraça contribua nos processos de cura das comunidades que ainda sofrem com as consequências do que aconteceu. Eventos artísticos culturais como este refletem as histórias, valores e tradições compartilhadas dentro de uma comunidade, fortalecendo o senso de pertencimento e identidade cultural. É uma forma de incentivar o diálogo, promover empatia e cooperação entre as pessoas”, aponta a coordenadora do projeto Legado de Brumadinho, Luciana Veloso.


O projeto a qual Luciana é a coordenadora é o responsável pela realização do Festival Abraça, produzido em parceria com a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão de Brumadinho, a AVABRUM.

“Preservar a memória dos fatos e das vítimas e lutar pela não repetição de tragédias como a do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho estão entre as principais bandeiras da AVABRUM. A tragédia-crime que aconteceu em Brumadinho é algo que infelizmente marcou a história recente do Brasil e, principalmente, de Minas Gerais. Há cinco anos e quatro meses, foram 272 histórias e sonhos interrompidos; os familiares dessas vítimas com certeza jamais irão esquecer dos seus e farão de tudo para honrar suas memórias. Nós, como sociedade, precisamos apoiar e nos unir à luta dos familiares. Não podemos deixar que essa história, por mais triste e dolorosa que seja, caia no esquecimento, e, nós, mineiros, temos obrigação de não permitir que este tipo de ocorrência seja normalizada em nosso Estado”, destaca ela.


O festival pretende ainda ser um ponto de encontro para os familiares das vítimas. “Eu acredito que a arte e a cultura podem desempenhar papéis importantes na recuperação de uma sociedade após eventos traumáticos. O festival é uma forma de promover o diálogo entre os cidadãos e incentivar formas de conexão entre os familiares de vítimas e a sociedade como um todo, fortalecer a narrativa e a resiliência deste grupo”, indica Luciana.


Veja a programação completa


O Festival Abraça será realizado em Brumadinho, no sábado (25), em Sarzedo, no domingo (26), e, em Belo Horizonte, na quinta-feira (30). “Brumadinho é a cidade onde tudo aconteceu e onde vivia a maior parte das vítimas. Sem dúvidas, é o principal local afetado, a comunidade vai ficar marcada para sempre pelo horror que foi aquele rompimento. Sarzedo também está entre as cidades diretamente afetadas e com maior número de vítimas. BH, por ser a capital do Estado, vem para representar o povo mineiro como um todo e para engrossar o coro de apoio às comunidades e familiares. Minas Gerais não se resume a um território propício para a mineração”, justifica a coordenadora do projeto Legado de Brumadinho, Luciana Veloso.


No sábado, o evento ocorrerá na praça da Saudade, no centro de Brumadinho. Na programação, estão os espetáculos “Elefanteatro”, do grupo de teatro de bonecos Pigmaleão; o “Circo de Família”, da trupe circense Cia Circunstância; e o “Naquele Bairro Encantado – Ensaio Para uma Seresta”, do Grupo Teatro Público. Na ocasião, haverá ainda cortejos de congado, feira gastronômica, oficinas e atividades infantis. A programação chega ao fim com o concerto “Música de Cinema”, da Orquestra de Sarzedo, que faz uma apresentação em que mescla cinema mudo e música clássica.

Já em Sarzedo, no domingo, a programação acontece na praça do Mirante Santo Antônio, no bairro Santo Antônio. A programação inclui feira gastronômica, atividades para crianças e dois shows, com apresentações da dupla sertaneja Erick e Rafael e da Banda MP4. Na cidade, ainda haverá a exposição “Hacklab Volante”, do designer e artista visual Fred Paulino. O show “Canto Negro Para Milton Nascimento”, de Sérgio Pererê, encerra o festival na quinta-feira em BH.

“A programação foi pensada para envolver um público diverso de famílias, especialmente as crianças e os jovens, trazendo dois conceitos de forma transversal. Por um lado, a proposta do abraço, da acolhida e do encontro. Abraçar as cidades e seus moradores, encontrar as memórias, a arte e a cultura na praça, de forma lúdica, alegre e com leveza”, afirma Paula Kimo, responsável pela curadoria do festival.


SERVIÇO

Festival Abraça


Brumadinho. Sábado (25), das 14h às 20h, na praça da Saudade (centro). Gratuito.

Sarzedo. Domingo (26), das 9h às 15h, Praça do Mirante Santo Antônio (bairro Santo Antônio). Gratuito.

Belo Horizonte. Quinta-feira (30), às 20h, Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro). Gratuito, mediante retirada de ingressos no dia da apresentação, a partir das 12h, pela Sympla ou na bilheteria do Sesc Palladium.

 

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