Os produtores de “Meu Sangue Ferve por Você”, principal estreia desta quinta-feira (30) nos cinemas, entraram num terreno praticamente novo – e, de certa maneira, perigoso – ao transformarem a história de amor entre o cantor Sidney Magal e Magali West numa comédia romântica musical. Esse tipo de registro não é comum na cinematografia brasileira, o que levou o diretor Paulo Machline a buscar referências até mesmo na Índia.

“Mergulhei no universo musical, já que eu não era um especialista, apesar de ter feito alguns videoclipes no começo de carreira. Mergulhei na escola Bollywood e nos musicais americanos e franceses até chegar a esse formato. Estou muito feliz, porque acho que funcionou. Não inventei nada. Só trouxe elementos de várias escolas, o que possivelmente nos deu uma linguagem original”, assinala o realizador.

Machline cita o cineasta Baz Luhrmann como grande referência, especialmente com “Romeu + Julieta” (1996) e “Moulin Rouge” (2001). “Há uma passagem neste filme, quando se executa ‘Roxanne’, do The Police, em andamento de tango, em que o ensaio de uma coreografia se junta ao encontro do casal protagonista. A cena me inspirou demais no momento em que colocamos ‘Me Chama que Eu Vou’”, revela.

Quando Giovana Cordeiro – na pele de Magali – dança repentinamente nas ruas do Pelourinho, em Salvador, após sair de um concurso de beleza que tem Magal como jurado, a inspiração vem de uma mistura do francês “Duas Garotas Românticas” (1967), de Jacques Demy, com Bollywood. “Há a interação dela com os bailarinos e, ao final, estes se despedem dela, entregando-a para a próxima cena”, detalha.

Além de um enredo com todos os esperados clichês românticos, um ponto crucial para fazer tudo funcionar é a química do casal de atores. Nesse quesito, Filipe Bragança (como o cantor) e Giovana entram em estado de ebulição, ganhando logo a torcida do espectador. José Loreto estava destinado a viver Magal, mas o compromisso dele com a novela “Pantanal” levou Machline a buscar outros nomes para o personagem.

“A Joana (Mariani, produtora) estava fazendo uma série na época. Ela me ligou dizendo que estava trabalhando com um ator que era ‘um monstro’. Não quis me dar o nome logo, porque sabia que eu iria dar um Google e descobrir que tinha 20 anos de idade. E eu queria um homem mais velho. E foi o que aconteceu. Eu achei o Filipe com cara de criança, mas ela me convenceu a testá-lo. Em três minutos, ele me ganhou”, relata.

Giovana teve melhor sorte, aprovada entre 60 concorrentes. “Não conhecia o talento dela, que depois seria evidenciado nas novelas. Naqueles testes, o que me chamou a atenção foi a semelhança física com Magali”, conta Machline, que tem ainda Caco Ciocler como o manager de Magal, numa mistura de vários clichês dos empresários da década de 1970, que impediam os artistas de se relacionarem para não perderem fãs.

Filme feito como 'fábula magalesca'

A ideia do filme surgiu em 2014, a partir do desejo de Paulo Machline e Joana Mariani de fazer uma obra com a estética dos anos 1970. Após um encontro da produtora com Sidney Magal (ela acabaria dirigindo o documentário “Me Chama que Eu Vou”, lançado no ano passado), o projeto passou a ter um protagonista. 

“A gente entendeu que não tinha nada mais representativo dos anos 70, em relação à música, do que ele. Claro que tem outras vertentes muito importantes nos anos 70, como a Tropicália, Raul Seixas e Roberto Carlos, mas o Magal representava uma coisa popular que nos interessava mais”, registra o cineasta.

O que mais o encanta é a alegria das músicas de Magal. “Acostumamos a ouvir as músicas dele sempre em momentos de alegria, como festa e casamento. Então, fui para Salvador, entrevistei o Magal longamente, passando uma tarde na casa dele. E só serviu para eu ter certeza de que o recorte que eu queria contar era justamente essa história de amor”.

Machline frisa que o filme está longe de ser uma simples biografia de artista. Um bom exemplo disso é o fato de Magali ter mais cenas que o personagem. “Poderia ter feito um filme de origem, mostrar como Sidney Magalhães se transformou em Sidney Magal. Mas entendi que essa história é a que mais representa a personalidade dele”, analisa.

Ele partiu da ideia de que como, em tese, muita gente já conhece a trajetória do cantor de “Amante Latino”, poderia muito bem abrir mão dos pormenores. “No momento em que entendi que era uma comédia romântica no subgênero musical, isso me deu toda liberdade para sair do chão e apresentar uma coisa que chamo de fábula magalesca”, sublinha.