“A gente não imaginava que fosse durar tanto”, justifica Rogério Flausino, ao comentar a idade “adulterada” do Jota Quest, estampada no título do espetáculo “Jota 25”. Ele já era o vocalista da banda desde quando ela foi criada, lá em 1993. Ou seja, um dos mais importantes grupos de pop rock da atualidade, formado em Belo Horizonte, estaria “escondendo” seis anos em seu registro de nascimento.
A verdade é que nenhum dos cinco integrantes está querendo sonegar a data real, mas esse “erro de cálculo” – mais gritante agora que estão percorrendo o Brasil com uma turnê de 25 anos, com apresentação hoje na esplanada do Mineirão – vem de longe, desde que passaram a comemorar o aniversário de lançamento do “disco da peruca”, em 1996, que marca o início da parceria com a gravadora Sony.
“Quando a gente começou a contar, era relacionado ao lançamento do primeiro disco. E, quando você vai fazendo isso, não espera que vai demorar tanto tempo”, explica Flausino, admitindo que a pandemia também serviu para ampliar a discrepância dos números. E vale dizer que o tal “disco da peruca” nem é o primeiro, já que um álbum independente foi lançado antes. “Só o povo de BH que conhece”, despista.
“Quando a gente lançou o show do ‘Jota 25’, era para ser em 2020 e 2021, quando se completaram 25 anos de lançamento do primeiro álbum (com a Sony). Só que a pandemia foi empurrando o negócio. Aí começamos em 2022. É estranho, realmente. Tem um pessoal que pergunta: ‘Mas há 30 anos eu vi vocês tocando’. ‘Não era, era outro cara’, respondo’”, diverte-se o vocalista.
Apesar dessa curiosa confusão a respeito da gênese da banda, o Jota Quest dá aula de matemática quando o assunto é show. Num momento em que todo mundo fala que a bolha da música estourou, após o cancelamento de turnês grandiosas de Ivete Sangalo e Ludmila, apocalipticamente afirmando se tratar do fim da euforia pós-pandemia, Flausino põe na ponta do lápis a realidade do showbiz brasileiro.
“Os cancelamentos não têm a ver com grandes estruturas, especificamente. Eles têm a ver, talvez, como vou dizer... Vou falar do Jota, que é melhor. Nós estamos fazendo essa turnê do tamanho que a gente achava que tinha que ter. Fizemos uma primeira rodada maravilhosa, no segundo semestre de 2022. Todas as demonstrações eram de que aquilo tinha bombado. Esgotamos todos os lugares por onde passamos”, assinala Flausino.
“Entramos na segunda rodada, no ano seguinte, e dissemos: vamos tentar crescer um pouquinho? Aí pegamos um lugar maior ali, outro aqui. E a coisa se cumpriu. O show de Porto Alegre nos surpreendeu totalmente. Imaginávamos 15 mil e tivemos quase 30 mil. Pensamos: caraca, cresceu mesmo o negócio”, registra o cantor, destacando o show que despertou o desejo do Jota de mirar as grandes arenas.
“É preciso dimensionar melhor o que a gente pode conseguir. Você vai dimensionando aquilo à medida que as coisas vão acontecendo. Ao passo que alguns não deram certo, precisando ser readequados para baixo, outros estão sendo readequados para cima. É muito difícil fazer grandes espetáculos, porque tudo é muito caro. E, desde que voltamos da pandemia, a oferta de grandes espetáculos aumentou muito, tanto nacionais quanto internacionais”, analisa.
Para ele, é tudo uma questão de perspectiva para a carreira. “A gente pode fazer um show no estádio, pode sonhar com isso? Quanto custa? Quantos ingressos tenho que vender? Acho importantíssimo que se faça isso. A carreira da gente é cheia de altos e baixos mesmo. E um tombo agora não quer dizer que você não vai se levantar, e vice-versa. Então, a gente não vai ficar com medo de querer realizar as coisas que sonhamos”.
Flausino não tem dúvidas de que o mercado brasileiro está pronto. “Esse papinho que rolou, sobre a bolha, é tudo um gogó danado, no meu ponto de vista, para de alguma maneira amedrontar a gente. Não sei se ‘amedrontar’ é a palavra, mas é aquele espírito de vira-lata que temos às vezes. Não, senhor. O Brasil é um país de 220 milhões de habitantes. Tem público para todo mundo. Para todos os segmentos”, assevera.
Prévias do álbum novo
Além de uma estrutura maior, que explica a palavra “Arenas” adicionada à frente do título do show “Jota 25”, outro motivo para conferir a banda mineira in loco são duas músicas inéditas reservadas especialmente para o público da Esplanada do Mineirão. Elas (os nomes ainda são segredo) farão parte do álbum “De Volta ao Novo – Volume 2”, que estava previsto para sair do forno em abril.
“A gente atrasou, porque começamos a achar que estava faltando alguma coisa e também que os grandes shows que estavam para acontecer poderiam ser legais. Estamos gravando algumas dessas canções ao vivo nos shows. Achamos que seria melhor a exposição que eles iriam dar para o disco. A gente inverteu a onda. Foi uma coisa meio estratégica”, explica Flausino.
Essa mudança também se justifica por tudo o que representa, para a banda, fazer um show em arenas com capacidade acima de 15 mil espectadores. "É um sonho de criança. O Jota tem um histórico de shows grandes, populares e tal, mas em festivais e festas populares Brasil afora, além de passagens pelo Rock'n'Rio. Não tínhamos ainda nos arriscado a fazer isso sozinhos", frisa.
"Acho que, com tanto tempo de carreira, a gente precisa buscar desafios. Se você não colocar na sua frente desafios, depois de tanto tempo, a chance de rolar uma estagnação ou uma preguiça é grande. Os desafios são aquilo que nos move. Então, você tem os desafios artísticos. Fazer um novo disco é sempre um desafio artístico. A gente tem feito ao longo da carreira, sempre lançando músicas e tudo mais", registra.
"E há os desafios de carreira, ao transformar o seu show em algo ainda mais envolvente, mais cativante, mais interativo, usando a tecnologia a favor. Realmente é um show muito moderno, com uma estrutura grande, que custa muito caro. É um investimento financeiro que se faz em cima disso, acreditando que a gente vá, de alguma maneira, impactar as pessoas positivamente, apresentando algo que não foi feito antes", ressalta.
Os resultados têm sido muito positivos, segundo Flausino. Durante o show, ele geralmente dirige uma pergunta ao público, indagando sobre estava ali pela primeira vez, vendo o Jota Quest in loco. "Mais da metade levanta a mão", vibra. " As pessoas que estão chegando agora falam 'Caramba, é bacana esse negócio'. E até os que já acompanham a banda há muito tempo dizem que é o melhor show nosso já visto na vida".
Flausino comemora o número de 700 mil espectadores reunidos nos últimos três anos. "São números, ok. Mas são números muito impressionantes para uma banda com tanto tempo que está aí, mas que não está acabando nem voltando. Vale o comentário,né? Sem nenhum demérito para quem está parando ou voltando. Nada disso. Acho que são estratégias de carreira", observa.