Com “Zé”, longa-metragem em cartaz nos cinemas, é a primeira vez que o cineasta mineiro Rafael Conde exibe uma verve política mais engajada, ao contar a história do estudante José Carlos Novaes da Mata Machado, militante do movimento estudantil que lutou contra a ditadura militar, nas décadas de 1960 e 1970.
“Para mim, foi um desafio falar do tema, que virou quase um gênero no Brasil. E ele surge num susto, quando exibia o ‘Samba Canção’ no Festival de Roterdã,e a Yara (de Novaes, atriz daquele filme) me apresentou o livro. Apesar de a história do José Carlos ser conhecida, ela permanecia não explicada”, conta o diretor.
Ele pontua que, com a prisão do estudante, que cresceu em Belo Horizonte, vários militantes do movimento da Ação Popular foram assassinados. “A partir do livro de Samarone Lima, ficamos sabendo que ele também foi assassinado, após tortura, e não na via pública, em decorrência de um confronto com a polícia”, registra.
Conde também se envolveu com o movimento estudantil, na década de 1980, participando do efervescente cineclubismo da época. Nos sets, porém, essa proximidade só se deu agora, numa tentativa de atualizar o que representou a ditadura, “sem aqueles vícios desse tipo de produção, na forma de falar e na escolha dos atores”.
Ele observou que, nesses filmes, os atores eram, geralmente, mais velhos em relação à idade dos personagens reais. “No ‘Zé’, eu fiz questão de colocar atores que tinham correspondência à idade na vida real, porque não eram crianças, mas eram muito jovens, que buscavam muito esse projeto de um país melhor”, registra.
Diferentemente de outros longas que trataram do tema, “Zé” não é um thriller de ação, sem querer fazer do protagonista um grande herói. O mais importante é a palavra. “A (roteirista) Anna Flávia Dias, quando viu o filme, ela diz ‘putz, deu certo’, porque mostramos a violência de várias formas sob um regime fascista. E uma delas é calar as pessoas”, pontua.
Ao irem para a clandestinidade, os militantes, lembra Conde, não podiam usar os nomes verdadeiros e os contatos com familiares eram raros. “O silêncio é uma violência muito grande. Como não vivi essa história, ao conversar com as pessoas que participaram, todas reiteraram que o importante era falar sobre isso”.
O filme caminha neste sentido, mas sem ser verborrágico. Uma das soluções usadas é a construção das cenas. “Quando as pessoas estão conversando, de repente quem está calado olha para fora do quadro, como se indagasse sobre a possibilidade de alguém estar escutando. Sem ver o que está no extracampo, gera uma sensação de asfixia”, explica.