Luísa Sonza com Caetano Veloso. Djavan com Nana Caymmi. “Sou muito misturada”, conta Mart’nália, em referência aos diferentes sons que costumam frequentar a sua playlist. Essa diversidade, aliás, também é a marca do Sensacional! Celebra, festival que acontece neste final de semana em Belo Horizonte, e tem Mart’nália entre suas atrações principais, além de estrelas como João Bosco, Tulipa Ruiz, Luedji Luna, BNegão, Letrux, Mauricio Tizumba e Adriana Araújo. “Adoro essa mistura de música e de público, isso é maneiro demais”, exalta Mart’nália.
Ela sobe ao palco com um repertório baseado em sucessos de sua carreira, que mescla canções autorais como “Chega” e “Entretanto” (parcerias com Mombaça), a versões que se tornaram célebres em sua interpretação, caso da desaforada “Cabide”, de Ana Carolina, e da romântica “Namora Comigo”, de Paulinho Moska, além de clássicos de Vinicius de Moraes, para quem Mart’nália dedicou um álbum em 2019, Dona Ivone Lara, e, claro, aquele que não poderia faltar, Martinho da Vila, “meu paizão”, como ela diz.
“O samba voltou com tudo! Tem muita gente boa se revelando. Adorei o último CD da Ana Costa, que acabou de sair”, indica, mencionando o elogiado “Pra Recomeçar”, recém-lançado pela cantora, carioca como Mart’nália. Ela, por sinal, também prepara uma novidade.
Atualmente em estúdio, Mart’nália coloca na praça, em novembro, o seu novo álbum, o primeiro de inéditas desde “Sou Assim Até Mudar”, de 2021. Depois de 20 anos como contratada da Biscoito Fino, a artista se mudou para a multinacional Sony. “Aguardem, vai estar em todas as plataformas!”, promete.
Prata da casa
Cria da comunidade Pedreira Prado Lopes, na região da Lagoinha, berço do samba em Belo Horizonte, Adriana Araújo não esconde a alegria em participar de “um dos maiores festivais do Brasil”. “Para mim, é um momento histórico, pois sou uma artista regional e independente, que está na luta diária para mostrar a minha arte e fortalecer ainda mais o samba que tanto amo”, enaltece Adriana. O reconhecimento, segundo a cantora, é uma das provas de que ela está “no caminho certo”.
“Digo com o coração transbordando de esperança e felicidade que o cenário do samba está finalmente sendo reconhecido e valorizado. Aqui em BH, as mulheres estão fazendo e acontecendo, e estamos sendo abraçadas com muito carinho e respeito”, afiança.
Na apresentação, ela presta homenagem a quem considera “a maior diva do samba que temos”, ninguém menos do que Alcione, em show que já se tornou um hit na capital mineira, tanto que, nos meses de setembro e novembro, ele volta à baila.
“Você Me Vira a Cabeça”, “A Loba”, “Gostoso Veneno”, “Menino Sem Juízo”, dentre outras canções irresistíveis, prometem contagiar o público de Adriana, que, em outubro, grava o primeiro DVD de sua trajetória, em comemoração ao seu aniversário, e, até o final do ano, lança o videoclipe da canção “Nós Dois”.
Ela celebra a “volta discreta” do conceito de álbum, recheados com dez ou mais músicas. “Não estou dizendo que estava extinto, mas havia perdido força para os singles, fazendo com que a música se transformasse em algo descartável”, constata.
Extraordinária
No ano passado, Tulipa Ruiz concorreu ao Grammy Latino na categoria melhor álbum de rock ou música alternativa em língua portuguesa por “Habilidades Extraordinárias”, o quinto de inéditas de uma carreira iniciada com estrondo em 2010, graças ao aclamado “Efêmera”. Gravado ao vivo e de maneira analógica, Tulipa sintetiza “Habilidades Extraordinárias” como um disco “para ser degustado com calma e presença em meio a tempos tão dispersos”, e festeja a indicação ao prêmio que ressaltou certa mudança de postura da artista.
“Realmente, estou bem mais roqueira e minha caneta também está bem mais firme nesse disco, onde eu deixo escancarado que minhas composições são o meu ouro”, declara. O trabalho teve produção de Gustavo Ruiz, irmão de Tulipa, que ela reputa como “um dos melhores produtores musicais do país”, e teve lançamento pelo selo de ambos, o Brocal.
Em julho, Tulipa perdeu o pai, Luiz Chagas, histórico guitarrista da banda Isca de Polícia que acompanhava Itamar Assumpção (1949-2003), e que morreu aos 72 anos. Ele será homenageado na apresentação de Tulipa no Sensacional! Celebra com “Às Vezes”, música de autoria do patriarca que cita Belo Horizonte.
Gravada por Tulipa em 2010, a letra diz: “Às vezes eu até pego uma estrada/ E a cada belo horizonte eu diviso o seu rosto/ A face oculta da lua soprando/ Ainda sou sua”. Na estrada com a turnê de “Habilidades Extraordinárias”, o repertório combina músicas do álbum com outros hits da carreira de Tulipa, como “Só Sei Dançar com Você”, “Efêmera”, “Dia a Dia, Lado a Lado”, e “Sushi”, parceria dela com o pai, Luiz Chagas.
“Adoro tocar em festivais, sobretudo os que valorizam a participação e o protagonismo da mulher na música”, exalta. “O Sensacional! é um festival de música autoral bem conectado com a atual produção no nosso país, e fico muito feliz em poder somar com a minha música”, complementa Tulipa.
Como “consumidora e artista”, ela afirma que escuta música “em plataformas variadas, para compreender melhor essa experiência imersiva”. “Sinto falta das fichas técnicas estarem disponíveis de maneira mais acessível, e a remuneração para os artistas ainda não acontece de maneira justa. Temos o desafio global de modificar esse cenário”, pontua. Ela tem ouvido, com frequência, “Caju”, o incensado disco novo de Liniker, que também teve Gustavo Ruiz na produção.
A própria Tulipa acaba de disponibilizar nas redes “Trago”, ao lado do irmão, Rica Amabis e Alexandre Orion, pelo selo Sesc, que ela descreve como “um projeto paralelo que mistura música e artes visuais”. O show de lançamento está previsto para o segundo semestre, enquanto a turnê de “Habilidades Extraordinárias” segue até o final de 2024. Na sequência, Tulipa entra em estúdio “para conceber o próximo álbum”. Cheia de ideias e surpresas na manga, como de praxe.
Global
Única atração internacional do festival, a banda Ayom reúne membros oriundos de países como Angola, Grécia e Itália, tendo a intérprete e percussionista mineira Jabu Morales entre os integrantes. No espetáculo, eles terão a participação especial da cantora potiguar Juliana Linhares.
“Preparamos uma viagem pelas águas do Atlântico Negro, com gostos de lusofonia e grooves tropicais. Escolhemos canções que representam nossa mistura e mestiçagem. Uma dança das culturas no balanço do mar”, afirma Jabu, que, nos últimos quatro anos, tem viajado com a banda que se transformou em uma espécie de “família e escola” para ela.
A trupe se conheceu em Barcelona e se radicou em Lisboa. Jabu admite a emoção de retornar à sua cidade natal ao tomar a ribalta em Belo Horizonte. Em setembro, haverá o lançamento do segundo álbum da Ayom, intitulado “Sa.Li.Va”, com convidados como Paulo Flores e Salvador Sobral, além de Juliana Linhares, e turnê passando por Madri, Paris e Florença, incluindo outras cidades de charme incontestável. A relação da artista com as plataformas digitais, no entanto, é dual. “Um pouco de amor e ódio”, confessa Jabu.
“Percebo que, atualmente, as redes sociais e as plataformas se converteram num termômetro para analisar o trabalho e a ‘qualificação’ dos artistas, o que me parece demasiado distorcido. Mas, ao mesmo tempo, é uma forma de se chegar a muitos lugares”, pondera.
Ela avalia que, conceitualmente, esse “pseudo alcance e essa ampliação da conexão” soam inspiradores, “mas, infelizmente, as políticas das plataformas, de difusão a conta-gotas e monetização de cada ação, entre outras formas de manipulação, converteram o que poderia ser algo engrandecedor em uma perigosa ferramenta para controlar mentes e humores”, arremata.
Serviço
O quê. Festival Sensacional! Celebra
Quando. Neste sábado (31) e domingo (1), a partir das 13h
Onde. Parque Municipal (av. Afonso Pena, 1.377)
Quanto. A partir de R$50 (um dia) pelo site www.shotgun.live
Programação completa no Instagram do @festivalsensacional