A atriz Luciana Paes já tem outra profissão em mente “se tudo falhar”. Ela cogita criar uma “empresa de figurantes mineiros para exportar para o mundo”. Thati Lopes ouve a frase e não se segura: “Cara, isso foi maravilhoso!”, afirma, caindo na risada. A menção aos figurantes – atores que só compõem uma determinada cena – do Estado tem uma explicação plausível: é que a dupla filmou em terras mineiras o filme “Saideira”, que entra em cartaz hoje nos cinemas.

“Eu já gravei um monte de coisa nessa vida, mas, juro para vocês, durante (a cena do) velório do nosso pai aquela figuração foi incrível! Havia um senhor todo corado chorando e, a cada take, ele improvisava um negócio. Entre os takes, eu o filmava, porque queria entender como ele estava acessando aquela emoção tão forte. A gente não está acostumada com uma figuração tão verdadeira e criativa”, lembra Luciana na videoconferência com O TEMPO.

“Eu lembro de uma frase dele que me pegou muito. Depois de tanto chorar, ele disse: ‘Eu não tenho mais lágrimas para tanto pranto!’”, completa Thati. A cena citada pela dupla faz parte dos primeiros movimentos do longa dirigido por Júlio Taubkin e Pedro Arantes. O velório é do avô das duas irmãs vividas por Thati e Luciana. As duas não se falam há anos, mas terão que superar as diferenças para participar de um “caça ao tesouro” em terras mineiras. O tesouro, no caso, é uma cachaça local.

“Tinha um cara fazendo um bêbado maravilhoso. Ele está até no trailer, com um ‘closão’ nele. No final (da gravação), ele disse que tinha um espaço para receber as pessoas e fazer uma comida. Aí juntou todo mundo e, de repente, 15 pessoas estavam lá na casa do figurante. Essa interação com a galera de lá era maravilhosa”, lembra Thati Lopes. Na verdade, sair dos sets do eixo Rio-São Paulo para filmar em locações mineiras não é nenhuma novidade para a dupla.

Thati e Luciana trabalharam numa mesma novela em 2019, “Espelho da Vida”, que tinha como principal cenário a histórica Tiradentes. Quatro anos depois elas passaram novamente pela cidade da região do Campo das Vertentes. “Saideira” também tem cenas em São Thomé das Letras, considerado um dos lugares mais místicos do país, e Itabira, mostrada no filme com uma ponta de crítica, por conta dos grandes buracos de terra provocados pela mineração.

“(Na novela), a gente não tinha a cidade cenográfica nos estúdios Globo. Todo mês a gente tinha que ir para Minas. E foi incrível, porque eu não conhecia o Estado e passei a amar. Dava tempo para passear e conhecer as coisas. Quando eu soube do filme, eu pensei: ‘Eu não acredito que vou poder voltar para Minas e conhecer outros lugares!’”, lembra Thati. Apesar de não ter o mesmo gostinho de novidade, a experiência com o filme foi bem diferente.

“A maioria da equipe era mineira. Na novela, não, já que o pessoal era todo do Rio. Se antes a gente jantava e fazia aquele esqueminha de turista, agora nós passamos a andar com a galera e conhecemos uma outra Minas. Foi uma imersão incrível, a ponto de, ao final das filmagens, eu dizer que precisava voltar, mas sem (estar vinculada a) trabalho, para passear sem compromisso”, confessa a ex-integrante do Porta do Fundos.

“Eu sempre tenho a sensação de que Minas revela a sua beleza aos poucos. Lá tem uma coisa de você falar ‘Nossa, aqui é bonito!’. Depois de mais duas horas no lugar, diz ‘Nossa aqui é muito bonito!’. Tenho a sensação de que Minas Gerais é tímida e vai se abrindo aos poucos, o que dá uma sensação muito gostosa de ir conquistando o lugar”, observa Luciana, que pede um parênteses para dar seu testemunho sobre a culinária mineira, destacando o doce de leite no tacho. “Eu sinto falta daquilo todos os dias da minha vida”.

Thati está se descobrindo como atriz

Thati Lopes tem uma carreira voltada principalmente para o humor. Ela confessa, porém, que a participação em “Saideira” a levou a um tipo de registro até então inédito, que mistura comicidade e drama. “Isso está chegando para mim agora. Foi ótimo, como atriz, explorar todos os lugares. Agora, no final do ano, eu lanço um outro deste tipo também. Estou amando! É o gênero que eu quero fazer e estar”, afirma.

“Enquanto atriz, (fazer o filme representou) poder estar com a Luciana Paes, que tem toda essa experiência nos mais diversos gêneros, e estar me descobrindo como atriz nesse lugar. Quero explorar mais esse lugar, de mostrar que, poxa, dá para pegar essa menina da comédia (reforça a palavra). Essa galera da comédia faz drama muito bem. Difícil é fazer comédia”, salienta Thati, que, neste ano, também está à frente de um musical com acento no drama.

Já Luciana destaca que “Saideira” tem um perfil mais indie, misturando gênero. “Eu também sou misturada. Como atriz, eu me realizo demais fazendo esse gênero, que é basicamente (mostrar) pessoas vivendo, com momentos engraçados e outros, não. (Nele) A gente se move mais pela simpatia que tem pelos personagens e pelas situações do que pela necessidade da piada – ela vem, mas nesse registro um pouco mais profundo”, comenta.