O cineasta dinamarquês Nikolaj Arcel retorna ao mesmo século 18 de “O Amante da Rainha” (2013) para falar da história de seu país em “O Bastardo”, com estreia nesta quinta-feira (12( nos cinemas. Como no filme anterior, o realizador é muito hábil na maneira como se vale de capítulos históricos importantes para estabelecer vários pontos de reflexão sobre, principalmente, a construção de uma nação.
É por isso que “O Bastardo” vem sendo definido como faroeste histórico, já que este gênero tem como tema central a fundação de valores morais e culturais enquanto tudo ainda é muito frágil, desde as questões de cidadania até o entendimento de Justiça. Esses são dois elementos primordiais na obra de Arcel, que volta a trabalhar com Mads Mikkelsen, ator de projeção internacional.
A trama traz Kahlen, um ex-capitão do Exército que resolve investir todo o soldo que reuniu em anos de serviço para plantar batatas num terreno considerado infértil (a região de Jutlândia), uma empreitada vista com ceticismo pelos assessores do rei. Mas logo ele é confrontado com um vizinho poderoso, que não medirá esforços para convencer Kahlen a abandonar seu sonho.
Temos um conflito típico entre um sério e honesto homem do povo, logo desqualificado por ser filho de uma cozinheira com seu senhor, e um nobre esnobe que rege as leis como bem entende. Não há dúvidas sobre quem está do lado do Bem e do Mal, mas o que chama a atenção em “O Bastardo” são alguns tons de cinza, principalmente quando Kahlen leva a lei ao pé da letra.
Arcel mostra um personagem contraditório e egoísta, como é comum nos cavaleiros solitários dos faroestes, que acaba se rebaixando ao nível de seus opositores para poder vencer, não se importando com as vidas que vão ficando pelo caminho. O triunfo, se existe, acaba ganhando um gosto amargo. Como diz um aliado de Kahlen, as coisas não saem como imaginamos.