O "enterro" ocorrido no final de "A Semente do Fruto Sagrado" é muito simbólico sobre a mensagem que essa produção alemã-iraniana quer passar, em torno de um fim iminente de religiões ou organizações que se baseiam no patriarcado.

Em cartaz nos cinemas, o filme de Mohammad Rasoulof é bastante ousado (por ter sido realizado num país tão conservador como o Irã) e direto, ao apostar numa grande mudança a partir de uma revolução feminista.

Primeiramente, a narrativa faz do pai de uma família um exemplo de como as distorções e desconfianças  são implantadas na sociedade, a partir de uma resposta simplista ("fazemos isso por Alá") a todas as questões. 

Promovido a juiz de instrução, Iman se vê envolvido em manipulação político-religiosa, ao ter que condenar à morte, de maneira sumária, todos os envolvidos em manifestações contra o regime dos aiatolás.

O juiz percebe a gravidade da situação, mas tem coragem suficiente para se contrapor, preferindo um caminho mais fácil, justificado nas leis muçulmanas, ao mesmo tempo em que desvia o foco para o desaparecimento de sua arma.

O sumiço ganha escala de paranoia, alimentada por seus superiores, e passa a desenvolver uma dúvida crescente em relação à esposa e, principalmente, às duas filhas, cada vez mais solidárias com as manifestações.

Há uma quebra de hierarquia por parte de delas, que pode ser desdobrada para o próprio regime iraniano. Na ótica de Rasoulof, isso se dá por conta de uma juventude conectada, cansada de mentiras e regras autoritárias.

O filme recorre a imagens reais de sublevação, de uma forma que, multiplicadas no país, surgem como um caminho sem volta, passando a ideia de que é uma questão de tempo para que o país respire novos ares.

Talvez não seja bem assim, e esse tempo pode ser muito maior que o "A Semente do Fruto Sagrado" faz transparecer. Mas é uma ficção e, como tal, está mais empenhada em transformar una situação possível em realidade. 

Para Rasoulof, há uma ânsia inegociável por mudanças e que, abafada no contexto externo, ganha uma força incontrolável dentro de casa. A tão esperada vingança de familiares de condenados, na verdade, ocorre no lar de Iman. 

Neste universo, vemos a falência do homem, incapaz de dar respostas satisfatórias a não ser pela violência, comba exibição (fálica) de uma arma em punho. O filme mostra que essa ação é insuficiente para conter a força feminina.