O ator mineiro Raphael Elias não pensou um minuto sequer em imitar Djavan no musical sobre o artista, que chega a Belo Horizonte neste sábado e domingo (6 e 7/11). Isso não significa, porém, que os dois não se pareçam, inclusive fisicamente. Elias dá vida ao cantor e compositor alagoano na montagem “Djavan – O Musical: Vidas Pra Contar”, que percorre a trajetória do artista desde a infância em Maceió até sua consolidação como compositor, cantor e músico de destaque. O desafio, segundo ele, foi encontrar um equilíbrio entre respeito à figura pública de Djavan e a liberdade artística necessária para construir um personagem. 

Para a preparação, Elias assistiu a entrevistas antigas, analisou momentos específicos da carreira e mapeou nuances vocais. “Fiz uma escavação para entender quais músicas alimentariam o meu Djavan. Trabalhei preparação vocal para modular o timbre, mas, de forma alguma, busquei imitar. O que quis foi criar uma essência”, ressalta. A tarefa ganhou camadas adicionais quando Elias percebeu que parte fundamental do artista permanece fora dos holofotes. “Meu desafio foi desvelar uma parte que ninguém vê: a vida privada de Djavan, que sempre foi muito discreto, contido. Eu, por outro lado, sou mais expansivo. Então, em minha atuação, fui buscar esse timidez. Soube pelos filhos, que, na vida pessoal, ele acaba sendo mais solto. Então, tentei trazer isso também para o meu personagem”, aponta.

Idealizada por Gustavo Nunes, com direção artística de João Fonseca e texto de Patrícia Andrade e Rodrigo França, a montagem conta ainda com direção musical de João Viana, filho de Djavan. Elias relata que o artista acompanhou de perto o processo e deu sua bênção após conferir o espetáculo em duas ocasiões. “Ele assistiu à nossa estreia para convidados e também ao ensaio geral”, explica o ator.  O musical combina música, teatro e dança para retratar episódios pessoais e profissionais de Djavan. Em cena, Elias contracena com 11 atores, que dão vida à família de Djavan e a outros artistas, como Maria Bethânia, Alcione, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gal Costa.

O repertório passeia por clássicas do alagoano, como “Se…”, “Oceano” e “Eu Te Devoro” e outras menos conhecidas. Segundo Elias, não está previsto adicionar músicas do novo álbum do artista, “Improviso.” “A montagem não tem a ver com discos, mas, sim, com a própria vida do artista. Contamos a história da vida dele, dentro do que o teatro possibilidade, com cenário, cenografia e figurino passando por hits e repertório lado B”, revela. 

Natural de Divinópolis, Raphael Elias mudou-se para o Rio de Janeiro há 12 anos e enxerga, na trajetória de Djavan, semelhanças com sua própria vida. “Assim como ele, saí da minha terra para tentar oportunidade fora, onde as oportunidades são maiores”, celebra. Elias chegou ao personagem por meio da indicação de um amigo, que o viu cantando em um vídeo. “A produção já tinham testado vários atores, mas não tinha encontrado ninguém. Um amigo me indicou para um teste presencial, em um ambiente menos crítico do que uma audição formal. Toquei duas músicas e fiz três cenas. Fui muito tranquilo, não por estar convicto de nada, mas porque foi meu modo de ir aberto”, afirma.

A recepção do público desde então tem sido uma das partes mais especiais do processo. O musical fez temporada no Rio, passou por São Paulo e Fortaleza e agora desembarca em Belo Horizonte, onde Elias encerra o ano se apresentando no estado onde nasceu. “Encerrar essa temporada na minha terra, perto da minha família, está sendo emocionante. As pessoas se emocionam muito, tanto por estarem presentes quanto pela identificação com a história”, celebra, destacando magnitude de Djavan para a música brasileira. “É uma honra e uma alegria interpretar alguém vivo, lançando disco, completando 50 anos de carreira. Para mim, o desafio é manter a cabeça e o corpo saudáveis, porque contar essa história exige uma manutenção geral, física e emocional”, analisa.

O ator continua estudando o artista diariamente, mesmo após meses em cartaz. “Cada vez mais me aprofundo ouvindo músicas que não estão no espetáculo. E quanto mais conheço, mais admiro. A própria pessoa do Djavan tem uma conduta ilibada. Não há nada sobre ele que destoe. Ele é de um comportamento elegante, generoso. Olho para ele como uma excelência negra brasileira, um artista muito diferenciado”, elogia. Elias destaca ainda a inquietação criativa do músico. “O que mais me inspira é essa busca incessante pelo que ele ainda não fez. Quando termina um disco e a turnê, ele já está ansioso pelo próximo. O que ele fez vira algo novo, e ele quer fazer algo diferente outra vez. Enxergo Djavan cada vez mais como um artista imenso da nossa cultura. Interpretá-lo é uma honra”, arremata.

SERVIÇO

O quê. “Djavan - O Musical: Vidas pra contar”

Quando. Sábado (6/11), às 20h, e domingo (7/11), às 19h

Onde. Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, centro)

Quanto. A partir de R$ 80. Ingressos esgotados