O ano é 1953. O cientista Albert Einstein está em Nova York para falar na Conferência Internacional sobre os Usos Pacíficos da Energia Atômica durante Assembleia Geral da ONU. Ele prepara seu discurso em um quarto de hotel quando recebe a visita de ninguém menos que a estrela do cinema Marilyn Monroe.
Logo em seguida, também entram no recinto o marido da atriz, o jogador de beisebol Joe DiMaggio, e o senador dos Estados Unidos Joseph McCarthy, autor do macartismo, período de fortalecimento do sentimento anticomunista. Lá, os quatro travam uma discussão que envolve política, sociedade e as consequências da fama.
Esse encontro inusitado nunca aconteceu de verdade. Mas a reunião entre os quatro está presente no livro “Insignificância”, do dramaturgo inglês Terry Johnson, que chega aos palcos do Cine Brasil neste sábado (8) e domingo (9), com a tradução de Gregório Duvivier. No elenco, estão Amanda Acosta, Cássio Scapin, Marcos Veras e Norival Rizzo.
“Já conhecia o Terry Johnson de um trabalho anterior por conta do espetáculo ‘Histeria’, e o texto também fala de um encontro inusitado entre Sigmund Freud e Salvador Dalí. O autor tem essa característica de misturar ícones culturais importantes, explorando relações humanas necessárias”, salienta o ator Cássio Scapin, que interpreta Einstein.
Na trama, que tem direção de Victor Garcia Peralta, em vez de se tratarem pelos nomes, os personagens são apenas conhecidos por professor, atriz, jogador de beisebol e senador. “Isso é muito simbólico, porque, mesmo sendo famosos, eles não sabem exatamente com quem estão conversando. Em vários momentos, se perguntam: ‘quem é você?’”, revela o ator.
Mesmo se passando 70 anos atrás, Scapin entende que o texto nunca esteve tão fresco. “Nunca houve tanta celebridade no mundo como agora. E, ao mesmo tempo, ninguém sabe quem são, porque a sociedade está fragmentada em muitos nichos. É o tal do ‘famoso quem?’”, pondera.
A fama, dessa maneira, torna-se ponto central da discussão entre os personagens. Afinal, o que é ser conhecido e como isso impacta tanto na vida individual quanto a social? “Aqui, eu dou um spoiler: o espetáculo não se chama ‘Insignificância’ à toa. Por mais que deixemos uma marca, somos apenas uma fração de segundo diante da imensidão das estrelas. A nossa existência é absolutamente fugaz por mais grandiosa que pareça. O que realmente importa é o impacto que você causa naquele instante”, analisa o ator.
O espetáculo tem como pano de fundo a Guerra Fria, e, inevitavelmente, surgem discussões acerca dela, como o macartismo, representado pela figura do senador McCarthy, que capitaneou uma verdadeira “caça às bruxas” para criminalizar o comunismo, além de debates sobre a bomba H, armamento nuclear desenvolvido nesse período. “Há uma conversa muito séria sobre a fórmula que deu origem à bomba. ‘Você nunca tinha imaginado onde isso poderia chegar?’, pergunta alguém a Einstein, e ele responde: ‘imaginei, mas, ainda assim, segui em frente’”, elabora Cássio Scapin.
Encontro possível
Por mais que o encontro entre Marilyn Monroe, Albert Einsten, Joe DiMaggio e Joe McCarthy nunca tenha acontecido de fato, essa reunião não seria impossível. “Em algum momento, essas pessoas se cruzaram. McCarthy, por exemplo, passou pelo caminho de todos eles. Além disso, Einstein estava na lista de homens com quem Marilyn queria ter filhos. Ela era uma mulher muito inteligente, que construiu a Marilyn como uma personagem separada de si mesma, e ter um filho com o homem mais inteligente do mundo fazia parte dessa construção”, conta Cassio Scapin.
“O McCarthy teve conselheiro o Roy Cohn, advogado e promotor dos EUA, que, no período do avanço da AIDS, declarou guerra aberta à comunidade gay. Ele dizia que os gays estavam trazendo uma praga para o país, sendo que ele próprio era homossexual e morreu por conta do vírus. E adivinha de quem mais Roy Cohn era mentor? De Donald Trump, que, em 2025, renovou a caça às bruxas. A Disney, por exemplo, proibiu qualquer produção que abordasse questões de gênero ou etnia por causa do presidente que eles têm hoje. Os Estados Unidos continuam fazendo m.”, avalia.
SERVIÇO
O quê. Espetáculo “Insignificância – Uma Comédia Relativa”
Quando. Sábado (8), às 21h, e domingo (9), às 19h
Onde. Grande Teatro Unimed-BH Cine Brasil (avenida Amazonas, 315, centro)
Quanto. De R$ 19,80 a R$ 100. Vendas pelo site Eventim e na bilheteria do teatro