Após um hiato de nove anos, Cláudia Abreu está de volta às novelas. A atriz está no elenco de “Dona de Mim”, novela das sete da TV Globo que estreou recentemente, na pele da personagem Filipa. Um retorno que, segundo ela, acontece de maneira especial, com um convite “irresistível” e o desafio de interpretar uma personagem bipolar.
Na trama escrita por Rosane Svartman, Filipa é uma artista que se casa com Abel (Tony Ramos). Ela é apresentada como uma “mulher que possui um humor instável e tem momentos que oscilam entre a euforia e a tristeza profunda”, além de ser mãe de Nina (Flora Camolese) – fruto de seu primeiro casamento e que, quando cresce, passa a morar com a avó, Isabela (Sylvia Bandeira), em Portugal. A distância entre elas e o sentimento de ter falhado no seu papel materno, somados à frustração de não ter seguido a carreira artística com que sempre sonhou, são partes da vida com que a personagem não consegue lidar.
“Filipa é intensa em tudo o que faz. É solar e cheia de vida, mas tem uma insatisfação por não ter dado certo como artista. Então, a vida dela é tentar colocar arte, música e alegria em tudo, resgatando momentos que a conectem com esse passado. Ela não se casou por interesse e gosta verdadeiramente de Abel, pois ele a enxergou como ela é”, explica Cláudia, que revela que a complexidade da personagem foi algo que contribuiu para que ela aceitasse o trabalho em “Dona de Mim”.
“Falar sobre saúde mental na TV aberta pode ajudar muita gente a compreender e a ser compreendida”, afirma a atriz. “Quantas pessoas com humor instável a gente não tem à volta, pessoas que sofrem porque não têm um diagnóstico, que são chamadas de ‘malucas’ e, se forem mulheres, são chamadas de ‘histéricas’ ou qualquer coisa? E, se têm um diagnóstico, elas são estigmatizadas”, questiona. Ainda sobre sua personagem, ela completa: “Além disso, Filipa é uma personagem irresistível e divertida”.
Convite irrecusável
Cláudia Abreu estava longe dos folhetins desde o fim de “A Lei do Amor” (2016). “Quando eu terminei minha última novela, eu expressei o desejo de fazer séries”, conta, frisando que neste período não se afastou das telinhas nem da atuação – ela estrelou as séries “Desalma” (Globoplay) e “Sutura” (Prime Video), além de ter se envolvido em projetos no cinema e no teatro.
“A minha vida estava muito cheia com outras coisas. E, por acaso, não havia aparecido uma novela que eu tenha tido vontade de fazer. E aí veio o Allan (Fiterman, diretor artístico de ‘Dona de Mim’)”, diz a atriz. O convite para o novo trabalho, no entanto, foi acompanhado pelo que ela chama de “combo que não deu para recusar” – que reúne o diretor, a autora Rosane Svartman e Tony Ramos, com quem ela teve o reencontro em cena.
Cláudia brinca ao relembrar o contato de Allan – com quem trabalhou nas novelas “Cheias de Charme” (2012) e “Geração Brasil” (2014) e no filme “Berenice Procura” (2018) – para falar sobre “Dona de Mim”: “O convite dele é irresistível, eu vou aceitar sem nem saber o que é”. A parceria com Rosane Svartman também era um desejo antigo. “A gente já tinha um desejo de trabalhar juntas já tinha um tempo, mas nunca tinha dado certo”, completa Cláudia.
Para a atriz, Rosane é uma autora que conecta a trama com a realidade. “Para mim, ela tem uma antena maravilhosa para captar tudo que está acontecendo na sociedade, a diversidade e também a cultura”, avalia. “Eu vejo que eu estou numa novela do presente. Me sinto viva, sabe? Me sinto conectada com o meu tempo”, diz.
A parceria com Tony Ramos, novamente na TV – eles trabalharam juntos em “Belíssima” (2005) –, é celebrada pela atriz. “É uma alegria poder reencontrar o Tony”, comemora. “Eu jamais perderia a chance de estar com o Tony novamente numa novela. Jamais. Isso poderia nunca mais acontecer”, declara, admitindo com bom humor que o colega, muitas vezes, a desconcentra com suas brincadeiras.
Outro fator determinante para o retorno às novelas foi o contato direto com o público durante suas turnês teatrais. “Eu fiz agora minha última peça, foi na rua. O público da TV aberta era aquele público que ia ver a nossa peça”, relata. “E todo mundo falando muito sobre o desejo de me ver na TV, me ver na novela”, conta Cláudia, ressaltando a importância desse público, que muitas vezes tem na novela sua principal forma de entretenimento e acesso à cultura. “É um público que você não pode abandonar, você não pode esquecer. Eu comecei na televisão com 16 anos, ou seja, são décadas com essa cumplicidade”, afirma. “Eu acho que é um reencontro com esse público, com uma saudade recíproca, digamos assim”, garante.