Karine Teles afirma ser uma “atriz que gosta de experimentar”. Com formação no teatro, atuou nos palcos e também em filmes premiados e aclamados, como “Que Horas Ela Volta?” (2015), “Benzinho” (2018) – produção que ela protagoniza e assina o roteiro – e “Bacurau” (2019). “Gosto de me arriscar em linguagens e formatos diferentes”, define a artista, que nos últimos cinco anos tem se dedicado mais à televisão e, atualmente, está no ar como a personagem Aldeíde na nova versão de “Vale Tudo”. 

O folhetim das nove é o terceiro remake consecutivo que conta com Karine no elenco – antes, ela atuou em “Pantanal” (2022) e em “Elas por Elas” (2023). “Eu não sei dizer se é coincidência, coisa do destino, ou se tem alguma coisa no meu trabalho que me levou a esse triplo twist carpado. São três personagens totalmente diferentes, em três novelas com linguagens bastante diferentes também, e isso me enche de alegria”, observa a atriz de 46 anos.

De fato, são personagens muito distintas. Enquanto em “Pantanal” Madeleine era uma mulher complexa, com momentos de instabilidade emocional e impulsividade, em “Elas por Elas”, Carol era uma personagem que se dedicava intensamente ao trabalho e dizia que era acostumada à solitude. Agora, em “Vale Tudo”, Karine vive o oposto das duas: Aldeíde, que trabalha como secretária da TCA, é descrita como engraçada, divertida, e, ao mesmo tempo, romântica e ingênua. 

Fazer comédia não é nenhuma novidade para a atriz. “Fiz muita comédia no teatro alternativo; essa é a minha formação, sou formada em teatro na minha faculdade”, relembra ela, que já atuou produções voltadas ao gênero, como a série “Filhos da Pátria” (Globo) e, recentemente, fez uma participação em um dos episódios da aclamada “Pablo e Luisão” (Globoplay). 

“Eu sou apaixonada por alguns comediantes, mas principalmente por atores que fazem comédia, acho dificílimo. Fiquei muito feliz com a possibilidade de fazer comédia no horário nobre da TV, principalmente com a pegada que foi proposta, que não é uma comédia pastelão, é uma comédia de situações, é uma comédia da vida, de coisas que acontecem. Estou muito feliz de estar exercitando esse caminho porque eu acho o máximo e admiro demais quem faz muito bem”, ressalta Karine. 

Para atriz, entretanto, Aldeíde carrega muitas inseguranças e, por isso, se encaixa no que é chamado síndrome do impostor – a personagem, por exemplo, não se acha uma boa secretária. “É uma síndrome muito comum, principalmente para nós mulheres. A gente se esforça muito e muitas vezes sente que precisa ficar provando a nossa capacidade, o nosso talento e com muita frequência a gente se sente não conseguindo alcançar os padrões que nós mesmas colocamos. A gente fica achando que não tem competência, eu acho que a Aldeíde padece disso”, analisa. 

De looks monocromáticos a bebê reborn: a nova Aldeíde 

Karine Teles, a Aldeíde, em cena de 'Vale Tudo' | Foto: Reprodução Globo

Na versão original de “Vale Tudo”, exibida em 1988, Aldeíde foi interpretada por Lília Cabral, papel que consagrou a atriz. “A Lilia, assim que eu pude falar que eu ia fazer personagem, mandei uma mensagem para ela, e ela foi muito gentil, muito carinhosa, muito generosa comigo. E depois a gente se encontrou num comercial que fizemos de comemoração aos 60 anos da Globo e conversamos melhor”, revela Karine Teles. “Fiquei muito honrada dela ter ficado feliz que era eu que ia fazer a Aldeíde”, completa.

No remake, a personagem ganha novos contornos, como a questão dos bebês reborn – na trama, Aldeíde “adota” um. “Eu acho que a versão de 2025 está abrindo espaço para discussões atuais, uma coisa que as novelas sempre fizeram e acho que vão continuar fazendo. Isso me interessa, acho que a televisão é um veículo de comunicação ainda com um alcance muito grande no nosso país. A gente chega em lugares onde, infelizmente, quase nenhuma outra forma de audiovisual, de teatro, de música, chega. Acho importante a gente estar refletindo sobre o país e as questões atuais”, reflete Karine, que adianta que virão “muitas reviravoltas e ainda vai acontecer muita coisa” na história de Aldeíde.

Outro ponto de destaque da personagem de “Vale Tudo” são os looks monocromáticos, que causam pavor no vilão Marco Aurélio (Alexandre Nero). “A Marie Salles é uma figurinista genial”, elogia a atriz, citando a pessoa responsável por “vestir” a secretária da TCA. “Tem muitas Aldeídes por aí, ela é inspirada em muitas figuras que existem”, garante.

Sobre a relação com Marco Aurélio, Karine pondera: “Assédio moral é muito grave, muito sério, mas a gente faz com essa pegada bem humorada. Eu estou feliz porque as pessoas estão percebendo as duas coisas: tanto elas têm se divertido com o humor, como elas percebem que é uma relação tóxica e inaceitável, que ele é um péssimo chefe, que não é bacana o que ele faz”.

"Tenho orgulho do nosso cinema"

Celebrada no cinema nacional, Karine Teles vibra com atual fase do audiovisual brasileiro, com destaque para “Ainda Estou Aqui” – longa de Walter Salles que ganhou o Oscar de melhor filme internacional e rendeu a Fernanda Torres o Globo de Ouro de melhor atriz – e “O Agente Secreto”, que premiou Wagner Moura como melhor no Festival de Cannes. 

“Eu me considero uma trabalhadora do audiovisual brasileiro e tenho muito orgulho do nosso cinema. Eu tenho certeza absoluta que talento e competência a gente tem de sobra para construir uma indústria mesmo, que gere ainda mais empregos do que a gente já gera, que seja ainda mais respeitado e admirado no mundo todo, como a gente já é bastante”, afirma a atriz. 

“Eu acho que essas grandes vitórias internacionais para o nosso cinema são a pontinha do iceberg de tudo que a gente pode fazer. Eu acho que é um vislumbre de um futuro maravilhoso que pode de fato acontecer se a gente seguir investindo em educação, investindo em informação de público, investindo em informação profissional e incentivando a cultura no nosso país. A gente é um país enorme, diverso, extremamente rico culturalmente, então toda expressão cultural da gente tem essa característica, e o cinema não seria diferente”, completa ela, que está em dois filmes previstos para estrear ainda neste ano – “Cyclone”, de Flávia Castro, com Luisa Mariani e Du Moscovis, e “Salve Rosa”, dirigido por Susana Lira, com Klara Castanho.

“E eu tenho o meu projeto de longa-metragem, que a gente está trabalhando na captação de recursos, que eu vou dirigir, o roteiro que eu escrevi. E alguns outros projetos, mas em estágio inicial também, de séries. Eu tenho a minha vida de roteirista e diretora caminhando também, estou trabalhando nisso nas folgas da TV. Enquanto eu não tô trabalhando pra Aldeíde, eu estou trabalhando para os meus projetos de roteirista e diretora. Também quero muito voltar pro teatro, estou desde 2019 sem fazer teatro, estou com muita saudade”, adianta Karine.