“Não sei se o pessoal está com a agenda muito cheia...” , analisa Marisa Orth, entre risos, sobre o convite para ser a grande homenageada da Mostra de Cinema de Ouro Preto, que chega, a partir desta quarta-feira (25), à 20ª edição, na cidade histórica mineira. A brincadeira tem tudo a ver com o conceito curatorial do festival deste ano, que abordará especialmente o humor feminino.
A curiosidade é que Marisa concentrou a sua participação em filmes no final da década de 1990 e início deste milênio, com longas-metragens como “Doces Poderes” (1997), o único, por sinal, em que foi protagonista, “Como Fazer um Filme de Amor” (2004) e “É Proibido Fumar” (2009). Em 2019, levou para as telonas a personagem que a imortalizou na TV: Magda, do humorístico “Sai de Baixo”.
A menor presença no cinema, nos anos seguintes, pode ser justificada, segundo ela, ao fato de estar bastante associada à televisão. “Isso, de alguma forma, pode ter inibido... Não sei explicar... Lamento, pois gostaria de ter feito mais filmes. Fiz menos do que gostaria”, registra Marisa, que estará em Ouro Preto para participar, amanhã, da abertura, na praça Tiradentes, às 19h30.
“Eu já acho muito legal que (a mostra) fale sobre humor. É um lado do cinema muito importante, uma tradição brasileira. Ter esse destaque no festival é muito bacana. Mulher humorista, mais legal ainda. E eu, como homenageada, amei”, diverte-se a paulistana de 61 anos, que custou a entender que tinha um dom para fazer os outros rirem. “Eu neguei, eu fugi, tentei não ser...”, lembra.
“Eu achava normal o meu jeito, mas as pessoas riam. Dizia ‘Para! Não é para tanto’. Elas pediam ‘Faz para ela’, e eu não sabia o quê. Não entendo muito até hoje, para ser bem sincera”, assinala a atriz, que começou no teatro, estreando em 1983, com a peça “Una Serata al Sugo”, de Miroel Silveira. O sucesso veio com a personagem Nicinha, da novela “Rainha da Sucata”, de 1990.
O personagem mais marcante foi, disparado, Magda Antibes, a esposa de Caco (Miguel Falabella), que fazia o tipo bonita e ignorante. “Sai de Baixo” ficou no ar de 1996 a 2002, tempo que possibilitou a Marisa levar outras nuances para a dona de pérolas como “Alimentar, meu claro Watson”, “Vou tomar uma atitude gástrica!” e “Nós nos casamos com um caminhão de bens”.
“Foi uma construção lenta. Com seis, sete anos no ar, a Magda teve tempo de ir se transformando. Ela era diferente no começo. Era para ser mais consumista do que burra. Uma mulher tola, sem cultura, ignorante, mas importava mais que ela estivesse comprando coisas. No final, foi se transformando a ponto de virar uma ameba. Um ser unicelular, que não podia andar sozinha”, debocha.
Atualmente, ela é comentarista fixa do reality show “Love & Dance”, da TV Record. Em agosto também estará no Globoplay Novelas, como apresentadora de “Loucos por Novela”, série de dez episódios sobre os folhetins televisivos. “A cada episódio, vou bater papo com um diretor, um autor e um ator. E vai ter uma premiação também, para melhor vilão, melhor beijo, melhor treta...”.
Além de percorrer o país com o monólogo “Bárbara”, que já esteve em Belo Horizonte, Marisa estará em cartaz com uma nova adaptação de “Fica Comigo Esta Noite”, fazendo par com Miguel Falabella. Os dois também estarão juntos num filme português, interpretando, como não poderia deixar de ser, um casal português. “A gente é meio casal mesmo”, brinca.
Segredo sobre filmes favoritos
“Foi uma parte muito importante da minha vida. Realmente o cinema tem essa coisa do eterno, da posteridade”, ressalta Marisa Orth, ao comentar a sua participação no cinema. “Gosto de alguns (filmes), mais do que outros, mas as pessoas jamais saberão”, afirma. “Doces Poderes” deve estar entre os preferidos. Do contrário, não participaria de uma mesa com Lucia Murat, diretora do filme, na última semana, dentro de retrospectiva dedicada à cineasta.
“Adoro a Lucia. Fico super-honrada de fazer parte da obra dela”, reverencia. Em “Doces Poderes”, Marisa interpreta Bia, uma jornalista que se muda para Brasília e se encontra em conflitos éticos de sua profissão. “Acho o roteiro desse filme muito legal, muito interessante. A personagem fica numa saia justa, algo controverso, numa situação bem brasileira”, recorda.
Sobre o humor feminino, tema da mostra, a atriz não vê tanta diferença com o que é feito pelos homens. “O humor é um prazer tão cerebral que acho que dá para a gente se misturar. Existem pequenas diferenças entre os cérebros masculino e feminino”, salienta. Marisa também não coloca a comicidade praticada na TV e no cinema em lugares separados. “(Em ambos casos) o diretor que me contenha, né? Que me oriente e me coloque no lugar. Humor vem do jogo entre os atores. Se tiver esse jogo, tem humor. E pode acontecer ou não, em qualquer mídia”, pondera.
Programação
Estruturada em três eixos temáticos fundamentais (Preservação, História e Educação), a Mostra de Cinema de Ouro Preto apresentará, até o dia 30, uma seleção de 147 filmes, além de debates, rodas de conversa e encontros estratégicos de discussões de políticas públicas. A programação é gratuita e pode ser acompanhada na plataforma www.cineop.com.br.