“Arrepsia” é de tirar o fôlego. Autoetnográfico, o espetáculo de estreia da potente IncompetênCia aborda temas um tanto quanto polêmicos, como LGBTQIA+fobia, racismo e machismo. São temas que precisam ser debatidos incessantemente para que a sociedade não continue a mesma; para que os tempos vindouros, não sejam iguais a hoje.

Voltando à baila pela quinta vez, a peça traz, agora, um caráter descentralizador. Entre 4 e 19 de julho, a montagem poderá ser vista em espaços alternativos de Contagem e de Belo Horizonte.

Confira a programação, que tem ingressos a partir de R$ 25:

4/07 e 5/07, às 19h
Espaço Trama (av. Carmelita Drumond Diniz, 527, Parque Maracanã) - Contagem

11/07, às 20h, e 12/07, às 19h
Teatro Raul Belém Machado (rua Leonil Prata, 53, Alípio de Melo) - BH

18/07 e 19/07 - 19h
Centro Cultural do Bairro das Indústrias (rua dos Industriários, 289, Indústrias I) - BH

Provocando reflexão sobre a tentativa social de apagamento das ancestralidades, tanto nas relações de gênero quanto de raça, a peça “Arrepsia” é, ao mesmo tempo, intensa e divertida. E, em cada nova apresentação, o elenco, que é formado por Gabi Vieira, Malu Dimas, Rafa Calú e Sarah Vá, leva para cena elementos regionais. “A gente procura entender as questões, as tensões e a cultura daquele território para poder dialogar de forma mais sincera com o público. É sobre isso: trocar, ouvir e jogar com o que faz sentido para quem está ali. E tudo isso com aquela pitadinha de humor e leveza que é a marca do nosso espetáculo”, aponta Malu.

O território em Contagem, por exemplo, receberá pela primeira vez o espetáculo. Para Gabi Vieira, que reside na cidade metropolitana, o momento é de celebração — e principalmente de compromisso! “Apresentar em Contagem tem um peso profundo: é devolver à minha cidade o que ela me deu. Foi nas ruas e escolas de Contagem que eu me tornei artista e cidadã. E, nessa nova temporada, a novidade não é só geográfica — é afetiva, é política. Contagem é potência criativa em meio ao descaso do poder público. Uma cidade que resiste, mesmo sem teatros dignos, mesmo com os acessos negados. Levar o espetáculo para a região metropolitana é reafirmar o nosso direito à arte, à memória, à dignidade. Como canta o rapper Djonga, antes de ser o melhor do mundo, a gente tem que ser o melhor da nossa área. E essa é a minha área”, dispara Gabi.

Além de Contagem, o “Arrepsia” será apresentado no Barreiro, que está fora da rota teatral, e também no Teatro Raul Belém, que é um ponto alternativo de resistência cultural na periferia de Belo Horizonte. “Esta temporada significa voltar para a base. É um estado de reconexão com o nascimento da companhia. Apresentar em Contagem e BH é um grande presente para nós, sem falar que fizemos ainda uma parceria potente com a aKasulo - Centro de Convivência LGBTQIA+, que trás a tona a multipluralidade de existências trans, ampliando novas narrativas e descobrindo novas possibilidades”, frisa Sara Vá, citando a aKasulo, que acolhe pessoas LGBTQIA + em situação de vulnerabilidade e que recebeu uma oficina gratuita da IncompetênCia sobre mediação e formação de público.

Autoetnográfico (relação do indivíduo com o meio sociocultural em que está inserido), “Arrepsia” parte da história do quarteto, que, embora já atuasse na área teatral, precisou trabalhar em outras funções, uma delas enquanto garçonetes, para o próprio sustento. O elenco ainda se viu diante da falta de dramaturgias que contemplassem sua existência enquanto corpos plurais. “Buscamos refletir a realidade de grande parte de atrizes e de atores brasileiros, que não conseguem viver de sua arte e acabam tendo que buscar outras alternativas para se sustentar, mas, mesmo estando em um ambiente de bar, a gente não consegue deixar de criar e refletir nossos sonhos”, declara Malu, que esteve em “Amor Perfeito”, da Globo.