Foram 14 longos anos longe da TV. Luís Salém estava afastado dos telespectadores desde uma participação especial em "Aquele Beijo", em 2011, e voltou à cena em um papel importante no núcleo central do remake de "Vale Tudo", na Globo: Eugênio, o mordomo da família Roitman.
O fato de o personagem ter sido interpretado por um de seus ídolos, Sérgio Mamberti (1939-2021), na versão original, o deixa lisonjeado. E Salém fica mais feliz ainda ao lembrar que foi convidado diretamente por autora Manuela Dias.
Eles se conheceram em 1996, quando a autora estava no início da carreira e o chamou para dirigir "Soul-4", sua primeira peça. "Manu virou uma grande escritora, e acompanhei todo esse processo com muita admiração", relembra.
Para a construção do personagem em "Vale Tudo", Salém conta que não quis rever a primeira versão. "É um clássico, e quem tem mais de 50 anos ainda tem a novela na memória. Preferi construir esse Eugênio a partir da preparação com a equipe. Ele é um homem solitário, sem família, que tem na casa dos Roitman sua única referência de afeto", descreve.
O ator se anima ao falar sobre Eugênio e suas diferenças em relação ao original. "Ele agora é mais humanizado, tem cenas de muita intimidade com Heleninha (Paolla Oliveira), é apaixonado pelo trabalho, pela casa e por essa família. Se vê como parte dela --embora, no fundo, saiba que não é."
Quem vai matar Odete Roitman (Debora Bloch) continua, claro, sendo um mistério na novela. Só o que se sabe até agora é quem NÃO vai tirar a vida da milionária: Leila, hoje interpretada por Carolina Dieckmann. Na trama original, ela era vivida por Cássia Kis, e já foi anunciado que a assassina não será a mesma.
"A Manu não contou para ninguém. Não adiantou nada, e vai ser uma surpresa para todo mundo -- inclusive para nós, atores. E claro que todo mundo quer ser o personagem que matou a Odete. Seria incrível o Eugênio", brinca.
"Na verdade, pode ser qualquer um dos personagens, sabe? Odete não é fácil, e depois que as pessoas descobrirem o que ela fez com o próprio filho... não tem defesa, né?", diz.
Questionado sobre a ausência das referências cinematográficas que marcaram a versão original do personagem, Salém avalia que os tempos mudaram. "A nova geração não tem mais as mesmas referências. Muita gente hoje nem sabe quem foi Audrey Hepburn. Então, faz sentido adaptar isso. O Eugênio continua culto e elegante, mas de uma forma diferente."
Morador da Bahia há oito anos, o ator conta ter encontrado em Salvador um novo sentido para a vida. "O Rio estava muito duro para mim. Tinha perdido minha mãe, amigos próximos. Eu também estava num momento difícil. A cidade também atravessava uma fase ruim e quis ir para um lugar que sempre fui muito feliz, a vida toda. Quando ficamos mais velhos, temos que buscar esse lugar da felicidade."